Mistério e Promessa

HAUGHT, John F. Mistério e Promessa: teologia da revelação. São Paulo: Paulus, 1998.

Biografia

John F. Haught é professor de Teologia e ex-presidente do Departamento de Teologia da Universidade de Georgetown. A sua área de especialização é teologia sistemática, com um interesse marcado por ciência, cosmologia, ecologia e conciliação de evolução e teologia. Considerado evolucionista teísta, encara a ciência e a religião como dois níveis de explicação diferentes e não concorrentes entre si.

Resenha

A obra Mistério e Promessa de John F. Haught é dividida em três partes, contendo onze capítulos na sua totalidade. A primeira parte junta os dois primeiros capítulos, os quais têm como títulos, o primeiro: O dom de uma imagem; e o segundo: Teologia da revelação. A segunda parte abrange o terceiro capítulo: Mistério; o quarto capítulo: Religião e revelação; o quinto capítulo: Promessa; o sexto capítulo: Jesus e a visão; e o sétimo capítulo: A congregação da esperança. A terceira parte é composta por quatro capítulos: o capítulo oito: A revelação e o cosmo; o capítulo nove: O sentido da história; o capítulo dez: A revelação e o eu; e o capítulo onze: Razão e revelação.

No primeiro capítulo são discutidos os seguintes temas: o problema da revelação, o cenário cósmico da teologia da revelação, a história e o eu, o método teológico e o dom de uma imagem. Neste capítulo cujo título é O dom de uma imagem, Haught traz a definição de revelação. A fé cristã como resposta à revelação de um mistério divino. Revelação implica manifestação, doação de Deus ao mundo, pensamento próprio da teologia contemporânea, que fala da doação de Deus (de si mesmo) ao mundo. O autor aponta a nova leitura bíblica, que é a própria realidade do divino em si. A bíblia é a auto-revelação, uma forma de promessa. A revelação é também questionada pelo pensamento moderno: Ela será uma realidade? Paul Davies diz que “o verdadeiro crente precisa seguir sua fé independentemente da clara evidência contra ela”. Haught faz também uma observação referente à Dei Verbum que é dedicada à revelação. É levantado uma questão sobre um sinal de atraso no tempo. Atraso por parte da Igreja quando não ouviu o desenvolvimento intelectual da ciência, do iluminismo e do criticismo histórico.

O ceticismo moderno aparece ao longo deste estudo sobre a revelação. tem grande influência na teologia contemporânea, o que causa embaraços na idéia de revelação. Em suma, a própria modernidade é um tanto ambígua e acabou por produzir crenças que se fazem necessário serem observadas. Há a questão dos símbolos que são bastante pertinentes e que leva à atitude suspeita, analisada pela filosofia, psicologia, sociologia, antropologia, crítica literária e teologia e a teologia contemporânea foi atingida por esta suspeita. Os símbolos são os principais meios da revelação.

Segundo Jügen Moltmann é indispensável estabelecer a dimensão histórica da revelação dentro dos conceitos mais globais de criação e cosmo ciência e teologia trabalhando juntas, conota uma obrigatoriedade da teologia dar respostas acerca da inteligibilidade percebida pela fé na revelação, deixando de lado as questões que a própria ciência é capaz de responder por si. No caso da cosmologia, ela oferece contexto mais amplo que a história para uma teologia da revelação. Em se tratando de uma revelação cósmica, ela fica dependente e até passível de extinção. Pode-se unir os objetos da cosmologia e da história, pelo fato de atualmente se perceber que o universo é uma história arrojada e reveladora.

A teologia necessita seguir um método, por ser processo hermenêutico, pois procura interpretar os textos e utiliza como fonte, a Bíblia. Através destes textos, essa fonte oferece à fé, elementos de dom e de imagem, abrindo margem para tornar aquilo que outrora era ininteligível, para inteligível, é o que afirma H. Richard Niebuhr. A revelação deve oferecer uma imagem ou conjunto de imagens que responda às confusões que nascem dos quatro círculos nos quais estão enquadradas as nossas vidas. Para alguns filósofos, a imagem de Deus, por exemplo, possui uma própria conotação. Para Alfred North Whitehead, quando o cristianismo entrou no mundo ocidental, a sua imagem de Deus começou a ser modelada em César e não no humilde pastor de Nazaré. Para Nietzsche, Deus foi um ditador moralista, interessado em moderar o comportamento humano. Freud acreditava que a imagem de Deus transmitida pelo teísmo e pela educação religiosa ocidental estava carregada de cores edipianas. É tarefa da teologia da revelação trazer à tona o significado da realidade, do mistério, do cosmo, da história e do eu à luz da fé em Deus.

No segundo capítulo, o autor fala sobre: a teologia da revelação antes do Concílio Vaticano II, sobre o Concílio Vaticano II e após, e, também, sobre o estado presente da teologia da revelação. Este capítulo é intitulado como Teologia da Revelação. O autor revela que no passado, a teologia católica da revelação entendeu a revelação como um conjunto de verdades, como uma tendência “proposicional”. Atualmente teólogos católicos e protestantes percebem essa revelação como sendo necessária como a autodoação pessoal de Deus ao mundo. Ela vai além de uma compreensão meramente proposicional.

Gerald O’Collins, afirma que “com relação às ‘verdades reveladas’ e ao conteúdo da revelação, devemos lembrar que a relação entre o Deus revelante e o homem que crê é, sobretudo, experiência viva que molda a história pessoal do homem”. A revelação, materialmente e de fato, nunca foi redutível à mera transmissão de informações, seu conteúdo precisa ser preservado para que não se dissolva diante de um ambiente social e político.

Antes do Concílio Vaticano II, falava-se da revelação no contexto de condenações da heterodoxia. No Concílio de Trento, a preocupação era a salvaguarda do depósito da fé e no Concílio Vaticano I, a revelação foi entendida como um corpo fixo de verdades sobrenaturais, sob a proteção da autoridade papal.

No Concílio Vaticano II, o documento sobre a revelação, a Dei Verbum, a “Palavra de Deus”, representa enorme avanço do ensinamento católico e assinala claramente a exposição da teologia católica aos pontos de vista protestante da revelação, nos quais o tema da Palavra de Deus recebe primazia sobre o magistério da Igreja e a Tradição. O Concílio Vaticano II declara que a Palavra de Deus não se limita à letra da Escritura. E a Deis Verbum vem representar uma inspiração para os que se preocupam em desenvolver e interpretar de maneira nova a noção de revelação. O documento entende a revelação como manifestação de si do próprio Deus. É necessário neste momento, que a teologia protestante e católica desenvolva mais vigorosamente, o fato da palavra reveladora de Deus vir na forma de promessa. Jingen Moltmann, protestante, deu ênfase a esta dimensão da revelação e pode-se concluir que pode ser construída uma teologia contemporânea da revelação ecumenicamente viável. É relevante também considerar o fato de como interpretar o caráter cristocêntrico da Dei Verbum, que implica na plenitude da auto-manifestação divina que ocorre somente em Cristo.

O terceiro capítulo tem como tema: Mistério. Aqui, o autor trata da experiência-limite e do mistério, religião e revelação. O autor explica que na teologia cristã, revelação está associada com uma “palavra” proferida por Deus. Ela é o anúncio da visão de Deus para o mundo. Seguindo as tradições bíblicas, “revelação” tem implicação auditiva e se expressa na linguagem. Ela pode tornar-se inteligível diante da certeza de que nós, antes de ouvirmos a palavra da revelação, já temos uma relação pré-revelacional com a plenitude silenciosa do mistério.

Antigamente, a revelação de mistério era tão comum que não havia necessidade de se construir uma teologia distinta da revelação, ela é um desenvolvimento moderno que coincide com a emergência do ceticismo pós-iluminista.

Karl Rahner chamou de mistagogia, a “pedagogia” para o mistério e daí se pode ter o primeiro passo numa teologia da revelação. Dentro dessa dinâmica, a revelação pode esclarecer o mistério e dizer o que realmente é. Diante disso, temos que começar nossas reflexões sobre a revelação com uma indicação se e onde o mistério pode atingir nossas vidas.

Para Pagels, mistério é região do desconhecido que acolherá à medida que avançar o nosso conhecimento. Ele usa o termo “mistério” como equivalente de “problema a ser resolvido”. O mistério sempre está presente e não diminui acerca de nossos desvelamentos. Einstein via o mistério como real. Ela afirma que o sentido do mistério se intensificará à medida que o conhecimento científico se avança. A percepção do mistério pode penetrar na consciência de todos nós, ainda que possamos não chamá-lo por este nome. Leão Tolstoi apresenta uma viva ilustração de como perguntas de abertura para o mistério podem interromper a rotina da nossa vida. Ocasionalmente acontecem coisas que quebram a rotina e nos fazem vem o nosso mundo sob nova luz.

Existem as “perguntas limite” que surgem em conexão com áreas como a consciência e a ética, é o que esclarece Stephem Tolmin. Isso acontece quando uma consciência da dimensão do mistério emerge quando perguntamos por que afinal estamos envolvidos em tais ocupações. Perguntas-limite é um tipo de pergunta diferente do que acontece dentro da ciência, nos seus limites apenas. Os teólogos David Tracy e Schubert Ogden acreditam que estas são perguntas para as quais a religião parece ser a resposta mais apropriada, porque é nelas que o mistério começa a aparecer em relação às nossas disciplinas intelectuais e acadêmicas e é através das perguntas-limite que deveríamos também começar a entender a idéia de revelação.

A revelação, na Bíblia, ocorre nessa experiência estática de personalidades excepcionais que abrem um reino extraordinário de mistério além dos modos cotidianos de consciência. A revelação está presente na religião pré-letrada em sentido mais fundamental que apenas as erupções extáticas. A teologia da revelação deve oferecer interpretação dos dados básicos da nossa experiência, inclusive dos misteriosos. No cristianismo, o mistério infinito assume a limitação da finitude como seu modo de existência rela. Nele, uma grande característica do sagrado é sua paradoxal identificação com o humano. Deus aparece para a fé cristã como um mistério auto-esvaziante. O resultado do auto-esvaziamento infinito é vazio que parece infinito. Ele nos choca como mysterium tremendum, isto é, abismo que inspira medo e até pavor. Há também a imagem do Deus auto-limitante, que é uma imagem reveladora, que promove uma heurística (impulso para novas descobertas). É também auto-doante, auto-esvaziante que favorece a coerência cada vez mais ampla de nossa compreensão da realidade e do mistério.

No quarto capítulo, Haught fala da questão da Religião e Revelação. Ele envolve os temas: atitudes cristãs em relação às religiões, ele faz uma explanação centrada no mistério, fala sobre os quatro caminhos da religião e sobre o pluralismo religioso e a humildade de Deus. A religião na sua totalidade pode ser vista como a manifestação de um mistério transcendente e não com exclusividade do cristianismo e da religião bíblica. A visão cristã da revelação só se tornará distintiva para nós, se a considerarmos no contexto do outros tipos de consciência religiosa. Com o Concílio Vaticano II, para a teologia católica, é o fim da abordagem “apologética” da revelação. Nesse caso, o teólogo britânico John Bowker oferece uma explicação sobre a preocupação da religião com a apologética oferecendo uma nova perspectiva. Ele diz que as religiões são, no mínimo, sistemas de processamento de informações, mas é um tipo especial de informação, e não é trivial, mas pode ser não-verbal e verbal e está relacionada com a salvação, libertação e realização final, as questões que têm preocupado a todos. As informações que as religiões passam aos seus seguidores são as mais valiosas de todas, por isso necessita de proteção e isso as fazem defensivas e perigosas.

A difusão de idéias unificadas com a revelação está, sobretudo vinculada com limitações protetoras. A história do mundo está aproximando as várias tradições entre si que já não podem ignorar-se reciprocamente. A religião em nosso planeta está agora entrando numa nova fase da sua história. O ecumenismo tem-se feito presente com isso, os membros de várias religiões tem procurado aprender coisas novas uns dos outros.

Atualmente existem dois tipos de opção teológica: a pluralista, que relativiza radicalmente a importância de fronteiras religiosas distintas. Esta propõe que as diferentes tradições religiosas podem ser caminhos igualmente válidos de experimentar a revelação de realidade última. Á também a abordagem inclusivista da teologia cristã, que não nega o valor das outras tradições, mas se preocupa com a preservação das fronteiras. Está aberta ao diálogo, mas não está disposta a sacrificar o ensinamento expresso nos At 4, 12: “Pois não há debaixo do céu outro nome [exceto Jesus Cristo] dado aso homens pelo qual devamos ser salvos.

Todas as religiões, nos caminhos divergentes, buscam e expressam a união com o que chamamos de “mistério”. Nelas também encontramos possibilidades de que uma forma ou de outra, podem ser relativas, dentro de uma maneira culturalmente específica de olhar para um mistério inefável. Intuições de mistério são universalmente possíveis e não são confinados a contextos lingüístico-culturais específicos, justamente por todos terem experiências-limite.

Ao falar das religiões, podemos perceber diferenças e a maioria delas refere-se à sua vinculação compreensivelmente unilateral com as imagens, eventos, experiências ou pessoas sacramentais particulares. No caso do cristianismo, Jesus, o Cristo, é o símbolo ou sacramento primário do nosso encontro com Deus. A religião é também mística, silenciosa e ativa. Se olharmos para a história da religião podemos observar que existe mais de um caminho para o mistério, que são necessariamente quatro, sob a forma de tipologia em quatro diferentes tipos de religiões: a religião antiga (ou primitiva),que adota uma imagem sacramental ou simbólica em relação ao mistério; o hinduísmo, tendência mística presente em toda religião; o budismo, caracterizado como silencioso; e as religiões proféticas (judaísmo, cristianismo e islamismo), que podem ser tomadas como exemplos do alado ativo da religião. Para eles, a abordagem do mistério sagrado é inseparável da práxis transformadora no mundo da existência política, social e econômica. Contudo, nesse aspecto a religião tem um significado de aventura para o mistério, com isso, está claro que há mais de um caminho para percorrer.

O capítulo cinco tem como título: Promessa. Ele fala sobre o mistério como promessa, fala de Abraão, das características da promessa e da esperança, do judaísmo, fala sobre a visão e também sobre a imagem da humildade de Deus. Haught esclarece que, tendo em vista de que as religiões tem um poder de salvar e libertar, as pessoas buscam uma solução para sanar suas tristezas e também o mal, mas estas religiões têm um ambiente diferente para este meio. As que tiveram sua origem em Abraão experimentam o mistério em termos de “futuro”. A religião de Israel deixou de conceber os círculos da natureza como esfera primária em que se há de buscar a realização suprema. Existem três características principais da promessa divina, que são a gratuidade, a prodigalidade e a surpresa e estão presentes na história de Abraão. O mistério tem o caráter de futuridade, mas nem por isso, torna as religiões proféticas menos místicas do que as outras. A esperança dá evidência de um aspecto apofático ou de renúncia na sua disposição de esquecer o presente e na sua paciente espera da autêntica chegada do futuro de Deus. Ela possui sua própria forma de ascetismo e exige que deixemos nosso apego à maneira como as coisas são. Se seguirmos a Bíblia, a esperança na promessa de Deus é o núcleo da religião autêntica e tem implicações auditivas e visuais.

No capítulo seis, o autor trata da questão: Jesus e a visão. Neste, o autor discute sobre Jesus como a revelação da promessa de Deus e sobre a Cruz e ressurreição. Percebemos que a promessa exige imagens que possam despertar nossa esperança de maneiras específicas devido a revelação ter a capacidade de envolver mais do que apenas uma manifestação sacramental ou verbal do mistério e requer momentos de silêncio, renúncia e espera. Para a fé cristã, Jesus tem um caráter sacramental primário do nosso encontro com o mistério da promessa. Nesse sentido, a revelação nasceu no cadinho da mente, da alma e da imaginação judaica do homem Jesus de Nazaré, com sua visão do Reino de Deus.

O tema da revelação mostra como a fé pode ajudar-nos a ver as coisas em perspectivas cada vez mais amplas e profundas. A satisfação do nosso desejo de “visão” é essencial para a vitalidade humana. Jesus faz um vínculo com o Reino de Deus e a nossa práxis presente da justiça. Ele liga a esperança com a ação, utiliza em seus ensinamentos imagens vivas baseadas na experiência secular do seu tempo e sua ressurreição é a promessa na qual se baseia a esperança cristã, que significa que Ele ainda está presente a nós. Com isso, ele nos remete ao mistério supremo, que chamou de “Abba”. Sua ressurreição está fundamentada no amor de Deus, que entra na ausência de relação e dela se apropria para vencê-la.

Haught, no capítulo sete, fala sobre a congregação da esperança, que compreende os temas: revelação, passado e presente; a revelação como salvação; revelação e sacramento; e a inspiração e as escrituras. Ele diz que da experiência da renovada confiança despertada pela vida, morte e ressurreição de Jesus, nasceu a comunidade dos que foram chamados: a ecclesia. Ela é a nova congregação da esperança. É definida como comunidade através da recepção da promessa reveladora de Deus que é celebrada e comunicada ao mundo. Tem como missão transmitir a proclamação de um Reino de Deus inclusivo feito por Jesus e repetir a cada época as razões que temos para uma perene esperança na visão divina de plenitude para todo o mundo. Com isso, um encontro com a promessa da revelação hoje, pode ocorrer por causa da nossa imersão na memória interna da Igreja.

A linguagem da igreja é em primeiro plano, confessional, entusiástica e envolvida e não cientificamente desinteressada. A fé cristã é fundamentalmente eclesial. A própria Igreja sempre necessita de conversão. É através da vida, da oração e da atividade espiritual compartilhada com outros, que somos levados ao encontro com o Cristo da promessa. É função da Igreja proteger a história cristã de modo a garantir a sua transmissão fiel e não diluída à próxima geração de crentes. Ela traz consigo certos limites, mas também possui impulso radical para a inclusividade. O conteúdo e a substância da revelação é sempre mistério, e, para a fé bíblica, esse mistério indefinível, mas realizador vem a nós na forma de futuro insondável, que promete libertação completa. As histórias antigas são indispensáveis, pois é na sua contínua repetição que encontramos os limites que conferem forma apropriada à nossa esperança. A revelação, sob a reflexão de Haught, é a inflexível busca do futuro divino de libertar-nos da nossa fixação no passado.

No que se diz sobre revelação e sacramento, as religiões tem um aspecto sacramental, através do qual recebem e expressam seu senso de mistério. Na tradição cristã, Jesus é o sacramento primário e a Igreja traz a realidade de Deus corporalmente para a vida de seus membros. Sobre a inspiração e as Escrituras, a inspiração deve significar algo muito mais profundo que a infusão de verdades sagradas nas mentes de escritores bíblicos isolados. A inspiração bíblica é o efeito da promessa de Deus sobre indivíduos que escreveram dentro do contexto de uma comunidade de fé nascida e sustentada pela visão de promessa emanada do Espírito da esperança.

No capítulo oito, com o título de A revelação e o Cosmo, o autor desenvolve a questão sobre o universo quando este é interpretado à luz da revelação. Ele fala também sobre a história cósmica e o que significa; a representação da história pela fé e sobre a preocupação com o cosmo. Pela revelação, o mundo apresentado pela ciência é moldado pelo mesmo desejo de realização futura que veio à luz consciente, explícita e historicamente em Abraão, nos profetas e em Jesus. Alguns pensadores científicos têm o que se pode dizer sobre o universo, um “pessimismo cósmico”. Ele é composto por “pedações” irracionais de matéria sem explicação inteligível, que se originam por acaso. Em relação a Jesus Cristo, para Karl Rahner, ele é o dom que Deus faz de si mesmo ao universo, conferido definitiva e irreversivelmente. Segundo Haught é necessária uma interpretação cósmica da revelação, principalmente porque nosso planeta está ameaçado por uma crise ambiental de proporções sem precedentes.

No capítulo nove, é tratado o tema sobre “o sentido da história”. O autor desenvolve a questão da idéia da história, do sentido da história, das razões da nossa esperança e da história e a humildade de Deus. Para Haught, história é a série total de eventos que ocorreram no universo. Em geral podemos falar de história do universo ou da história da natureza. É imprescindível enfocar procura do sentido da revelação sobre a questão da significação da nossa própria existência como condição histórica distinta. Apenas através de uma teologia cristã da história e da revelação é que encontramos uma segurança adequada à incalculabilidade do futuro de Deus, bem como às nossas mais profundas aspirações humanas. O começo da existência histórica traz desafio e sofrimento juntamente com a promessa de beleza e alegria ativa. O sentido da história só pode tornar-se claro no seu final e enquanto isso, a relação é provisória. Nesse sentido, surge a esperança, que só é impossível se não for baseada em eventos passados e presentes que ofereçam as bases para a nossa confiança na realização futura.

O capítulo dez faz referência à revelação e o eu. Aqui é trabalhada a dinâmica da vergonha; Jesus e a vergonha; a humildade de Deus e a busca de significação; e o eu, a liberdade e o futuro. É necessário um esclarecimento sobre o que significa ser um eu em relação a Deus, porque dificilmente o sentido da revelação é expresso em termos puramente individualistas e podemos tomar como exemplo, as cartas de Paulo, que não são apropriadas para pensar na redenção em termos individualistas. Para Haught, a revelação deve falar ao nosso mais profundo desejo natural de sermos intrinsecamente valorizados. E a vergonha acaba sendo o sentimento que se toma conta de nós, principalmente quando tomamos consciência de um aspecto do nosso ser que parece inaceitável. Com isso, em virtude da nossa atitude de evitar o lado vergonhoso de nós mesmos, tornamo-nos cúmplices da negligência, por parte da sociedade, dos elementos que não se encaixam nas suas exigências de valor. É necessário que o indivíduo perceba que é da experiência da liberdade que ele precisa para ser um eu. A realidade de Deus é a própria razão da liberdade e isto só é apreendido quando nos tornamos sensíveis ao fato de que a liberdade é dom do auto-ausentamento de Deus.

No último capítulo desta obra, é feita uma apresentação sobre razão e revelação. Para fechar a linha de raciocínio, neste décimo primeiro capítulo, John F. Haught fala da verdade como manifestação, das raízes da consciência crítica e da “estranha” lógica da promessa. É lícito explicitar aqui que tudo na Bíblia pressupõe revelação. Ela fornece a resposta não só para a pergunta sobre como é Deus ou quem é Deus, mas também para a pergunta se, afinal, existe um mistério divino. Em relação à razão, no caso do ceticismo, ele aborda a questão do status de verdade da revelação perguntando se o seu conteúdo pode ser verificado independentemente pela ciência ou pela razão. Ronald Thiemann diz que toda justificação de reivindicação de verdade da revelação “tem uma inevitável dimensão escatológica ou prospectiva”. Para Haught, nossa consciência crítica sustenta que nossas intelecções e julgamentos só são significativos e verdadeiros se puderem ser verificados por métodos publicamente disponíveis.

Apreciação do texto

John F. Haught apresenta-nos um belíssimo texto, o qual nos proporciona um longo caminho de estudos. É bastante pertinente a questão não só do mistério, mas também da promessa e da revelação que é apresentado nas escrituras de forma muitas vezes complexas e que num emaranhado de informações, acabamos não percebendo as linhas de pensamento à qual nos levam e neste caso, o autor colabora destacando seus pensamentos. A linha de raciocínio é perfeitamente construída ao longo do texto possibilitando aos leitores destacar pontos que o autor simplesmente destaca com bastante autonomia. Ao definir a revelação ele nos leva a caminhar por lugares que abrangem nossas expectativas de como se pode tratar de tal assunto inferindo métodos que há séculos vem sendo pesquisados e atualizados, porque como o próprio autor deixa claro no texto, o tema da revelação é também um tema muito questionado pelo pensamento moderno. É possível e de grande valia utilizar este texto em todos os âmbitos de nossa vivencia, principalmente nos trabalhos pastorais, ambiente em que somos freqüentemente indagados a respeito da revelação. Foi de muito proveito o estudo deste livro. O autor foi simplesmente iluminado ao escrevê-lo, pois abriu-nos caminhos e mostrou-nos etapas a serem percorridas.

Marcos Paulo Rodrigues
Enviado por Marcos Paulo Rodrigues em 19/11/2009
Código do texto: T1931946
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.