GAUDIUM ET SPES

Aos bispos da Itália perguntava o Papa no dia 06-12-1965:

“Findo o Concílio, volta tudo o que era antes? As aparências e os hábitos responderão que sim; o espírito do Concílio responderá que não. Alguma coisa, e não pequena, deverá ser, também para nós - antes, sobretudo para nós – nova, as mudanças de tantas coisas exteriores? Sim, mas não é a estas que ora aludimos. Aludimos ao modo de considerar a Igreja, modo que o Concílio cumulou tanto de pensamentos, de temas teológicos, espirituais e práticos, de deveres e de confortos, a ponto de exigir de nós um novo fervor, um novo amor, como que um novo espírito”.

O seguinte trabalho consiste na apresentação da primeira parte da Constituição Gaudium et Spes.

CONSTITUIÇÃO PASTORAL

“GAUDIUM ET SPES” SOBRE A IGREJA NO MUNDO DE HOJE

DA CONVOCAÇÃO Á REALIZAÇÃO DO CONCILIO VATICANO II

No dia 9 de Outubro de 1958 falecia o papa Pio XII. Para trás deixava uma Igreja prestigiada, forte, bem organizada e economicamente consolidada. Assim deu-se inicio ao conclave que se seguiu, com 51 cardeais, elegeu, no dia 28 de Outubro, o patriarca de Veneza, cardeal Ângelo Roncalli que escolheu o nome de João XXIII. O papado humanizava-se, a Igreja refletia e vozes inquietas pediam outras formas de ser Igreja e estar no mundo.

Início de pontificado que João XXIII, em 1959, no último dia da semana de oração pela unidade dos cristãos, na festa da conversão de São Paulo, na basílica do mesmo nome, anuncia a celebração de um concílio ecumênico. O mundo surpreendia-se, os teólogos desconcertavam-se; as igrejas locais regozijavam-se; a cúria romana inquietava-se. Ninguém naquele momento podia avaliar o alcance de tal decisão. O dinamismo eclesial, por séculos direcionados pelas instâncias romanas, parecia ser agora devolvido à Igreja universal.

Problemas graves de contestação ou desvios doutrinais não se observavam no fim daquela década de cinqüenta. Detectavam-se apenas grupos dispersos na Europa central a pedir inovação no campo litúrgico, pastoral e ecumênico; de resto, a sensibilidade conservadora era notória na cúria romana, nos países mediterrânicos e latino-americanos. O que pretendia, de fato, o papa João XXIII?

O tempo que intercede entre o anúncio do concílio e o início da celebração, foi dedicado à preparação e organização do evento. Uma comissão central coordenava os trabalhos. João XXIII, por gestos e intervenções pontuais, ia dando a conhecer os objetivos do concílio. Tudo indicava que os padres a reunir em breve deveriam falar para dentro (Igreja) e para fora (mundo). A linguagem devia ser outra. Uma multiplicidade de sinais (dos tempos) pedia mudança de direção; na feliz expressão de João XXIII, importava proceder a uma atualização, a um “aggiornamento”.

O discurso do papa na abertura do concílio (11-10-1962) condensou linhas programáticas e orientação de trabalho que deveria ocupar os padres conciliares. O texto espelhava um espírito aberto, otimista, universal, digno de um grande acontecimento que se iria iniciar. De fato, o otimismo, a bondade e a simplicidade de um homem, com as responsabilidades do supremo pontificado, eram o início de uma nova era. O discurso inicial podia ter sido desmentido pela dinâmica conciliar que se seguiu. Tal não veio a acontecer. Circunstâncias imprevistas no decurso da 1ª sessão obrigaram a demoras em debates sobre matérias pouco consensuais; o esquema “De fontibus” estava a ser pouco consensual; lentamente, o episcopado universal despega-se de algumas propostas anteriormente preparadas pelas comissões romanas e “agarra” o concílio; importava dar tempo ao tempo para esclarecer doutrina e orientação pastoral. Foi nessa conjuntura que João XXIII intuiu ser necessário evitar pressas desnecessárias pondo em causa os objetivos pretendidos. Ele próprio abandona a idéia inicial de poder clausurar o concílio na noite de Natal de 1962.

Foi gesto profético deixar liberdade aos padres conciliares para refletir, estudar e decidir as melhores propostas doutrinais e pastorais para a Igreja e para o mundo. João XXIII acompanhou toda a primeira sessão; a morte surpreendeu-o no início do mês de Junho de 1963; outras três sessões se seguiram com Paulo VI. Ao longo da celebração, a Igreja tornou-se mais colegial, comunitária e dialogante com as outras Igrejas e com o mundo. Era uma Igreja que se rejuvenescia, reavivava a esperança, assumia compromissos e dava lugar à misericórdia. A era tridentina conhecera o seu fim. Uma nova forma de ser Igreja e estar no mundo e com o mundo passou a ser desafio permanente que tem prevalecido até aos nossos dias.

Muita gente pensou ter sido uma tragédia. Pelo contrário - podemos agora dizê-lo - foi uma bênção de Deus! Após a morte de Pio XII, em 1958, foi eleito Papa Ângelo Roncalli, que tomou o nome de João XXIII. Apesar da idade avançada - tinha 78 anos - três meses depois de ter assumido as suas funções, resolveu convocar um Concílio. Dessa decisão poucas pessoas tiveram conhecimento, mas, logo que ela foi conhecida, não faltaram aplausos ao Papa pela sua coragem.

Em Milão estava alguém o Cardeal Montini que, se fosse Papa, não teria convocado o Concílio, não tinha condão para isso. Mas logo que João XXIII decidiu a realização do Concílio e chegaram às mãos dos bispos os projetos dos textos conciliares, o Cardeal deu conta de que, nesses projetos, faltava um texto orgânico a ligá-los entre si. E, em carta dirigida ao Papa, oito dias depois do início do Concílio, dizia o seguinte: “Parece-me que o Concílio não tem um plano de trabalho preestabelecido”. Para Montini o Concílio devia ocupar-se de um único problema: “A Igreja”.

Pensava-se que, em três meses, se resolveriam os trabalhos do Concílio. Ora aconteceu que, no final da primeira sessão, dos 72 documentos propostos nem um sequer tinha sido aprovado! João XXIII morreu meses depois, em 3 de Junho de 1963.

Tinha-se encontrado o caminho do Concílio. Se, para João XXIII o problema estava no “aggiornamento” da Igreja, para Paulo VI o problema central estava em refletir sobre a essência da Igreja. O projeto conciliar, de 72 documentos passa para 16, deixando aspectos secundários para intervenções futuras do Papa e das Congregações Pontifícias. Entre esses 16 a Igreja ocupa o lugar central. Pareceu-me sempre que os 16 documentos conciliares se podem comparar a uma árvore: uma árvore tem tronco, raízes, seiva e casca. Aqui temos a imagem das quatro Constituições: o tronco é a Igreja na sua constituição essencial: Luz das gentes. As raízes são a Sagrada Escritura - fonte constitutiva - e as tradições - fonte interpretativa: A Divina Revelação. A seiva é a Oração (de modo particular a Liturgia) que mantém vivo o tronco: O Sagrado Concílio. A casca é o contacto da Igreja com o mundo, do qual ela deve constituir a Alegria e a Esperança. Os nove Decretos tratam de assuntos importantes, mas que não são fundamentais: de algum modo, o resultado das Constituições.

O grande problema, proposto ao mundo, depois de quase dois milênios, continua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da história e da vida; os homens ou estão com ele e com a sua Igreja, e então gozam da luz, da bondade, da ordem e da paz; ou estão sem ele, ou contra ele, e deliberadamente contra a sua Igreja: tornam-se motivo de confusão, causando aspereza nas relações humanas, e perigos contínuos de guerras fratricidas.

Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamente, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realmente à alma para as coisas celestiais.

E assim, a celebração do Concílio torna a ser motivo e singular obrigação de grande reconhecimento ao supremo dispensador de todos os bens, por celebrarmos com cânticos de exultação a glória de Cristo Senhor, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos.

No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das vezes para além do que eles esperam se dirigem para o cumprimento de desígnios superiores e inesperados; e tudo, mesmo as adversidades humanas, dispõe para o bem maior da Igreja.

O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz.

A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito.

Levantando por meio deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela separados. Ao gênero humano, oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como outrora Pedro ao pobre que lhe pedia esmola: “Eu não tenho nem ouro nem prata, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda” (At 3,6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje riquezas caducas, não promete uma felicidade só terrena; mas comunica-lhes os bens da graça divina, que, elevando os homens à dignidade de filhos de Deus, são defesa poderosíssima e ajuda para uma vida mais humana; abre a fonte da sua doutrina vivificante, que permite aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que eles são na realidade; a sua excelsa dignidade e o seu fim; e mais, por meio dos seus filhos, estende a toda parte a plenitude da caridade cristã, que é o melhor auxílio para eliminar as sementes da discórdia; e nada é mais eficaz para fomentar a concórdia, a paz justa e a união fraterna.

CONTEXTO HISTÓRICO DA ENCÍCLICA GAUDIUM ET SPES

Entre os muitos e preciosos documentos produzidos pelo Concílio Vaticano II, a Constituição Gaudium et Spes se constituiu em um dos mais importantes. Foi também um dos últimos promulgados, já no final do Concílio. É chamada de Constituição Pastoral.

Gaudium et Spes foi um decreto centrado na mensagem do Concílio Vaticano II, cujo tom difere de muitos documentos anteriores da Igreja, no qual não se condena ou avisa, mas expressa simpatia e compreensão para com o mundo. A humanidade foi vista como tendo boas intenções, ansiosa por verdade e justiça que a Igreja desejava atender. O documento continha declarações ortodoxas sobre o pecado e o mal, mas quaisquer destas declarações negativas não passavam de um tema menor no escopo geral do documento..

Assim, todas as forças positivas do mundo moderno – o desejo de uma direção, a sede de justiça, a necessidade de honestidade e autenticidade – foram tratadas pelo Concílio como incipientes pedidos de ajuda, manifestando uma sabedoria e bondade implícitas ao homem moderno e, ao mesmo tempo, revelando que o homem moderno é por si mesmo inábil para conseguir o que ele anseia. As mais altas aspirações da cultura moderna são assim continuamente frustradas.

O Concílio também reconheceu que a Igreja pode aprender com o mundo. A chave era "ler os sinais dos tempos" discernindo a mão de Deus no movimento da história. A Igreja simplesmente não mais condenava a cultura secular, mas buscava o que nela havia de positivo, para construir sobre isto. Os Liberais, na Igreja e no mundo, imediatamente abraçaram a Gaudium et Spes como um documento em que a Igreja admitia erros cometidos no passado, e reconhecia a bondade essencial da cultura secular.

Esta encíclica é bem apresentada pelas palavras de Mons. Emilio Guano, na época Presidente da Comissão que elaborou o esquema inicial desta Constituição, poucos dias antes de se iniciarem os debates sobre este texto, numa conferência aos jornalistas, em 17 de outubro de 1964:

“Este esquema não é como os outros. Não tem como objeto imediato e direto a doutrina da Igreja. Não trata da consciência que a Igreja tem de si mesma, nem da Revelação, nem da renovação da vida espiritual e litúrgica, nem da disciplina eclesiástica, nem das formas canônicas. (...) O mundo de hoje com todos os seus problemas é que constitui o seu tema. É a Igreja que dirige seu olhar para a civilização atual, para as necessidades e aspirações dos homens de hoje, para as transformações e orientações novas que caracterizam a sociedade hodierna (...). O interesse por tudo o que é humano é algo de essencial na Igreja, porque ela foi fundada para os homens, pelo Filho de Deus feito homem, membro da família humana. Esses motivos fazem com que a Igreja procure compreender os homens e ser, ao mesmo tempo, compreendida por eles. (...) Naturalmente, ao entrar em contato com a realidade cotidiana, a Igreja não pode esquecer-se de que a sua missão é a de anunciar o Evangelho, é a de comunicar a vida divina aos homens, é a de conduzir os homens para Deus. Com o presente esquema, o Concílio tem em vista exprimir e favorecer o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo. A finalidade, portanto, do esquema é a de definir a atitude da Igreja perante os problemas do homem de hoje”.

A Gaudium et Spes se compõe de duas partes, na primeira parte, a Igreja desenvolve sua doutrina sobre o homem, o mundo no qual o homem é colocado e sobre suas relações com os homens. Na segunda parte, considera mais atentamente alguns aspectos da vida de hoje e da sociedade humana e de modo especial as questões e os problemas que atualmente parecem ser os mais urgentes (Cf. § 1).

A primeira parte propõe-se estudar o homem. De modo especial, aquele que se apresentava a Igreja no Concílio Vaticano II: o homem moderno e nos inícios da pós-modernidade, inserido na revolução copernicana em relação às concepções medievais, a filosofia moderna havia colocado o homem no centro de todas as coisas.

A Gaudium et Spes, ao mesmo tempo que reconhece a ferida que o pecado infligiu a toda a realidade humana, mostra que esta, contudo, foi definitivamente redimida por Cristo e em Cristo, o novo Adão. Em conseqüência, apresenta uma visão positiva do sentido e da vocação da criação, do homem, da atividade humana, das ciências, da técnica, da sociedade humana e da história. É com essa visão positiva que a Igreja busca dialogar com o homem moderno e anunciar-lhe a pessoa de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, e seu reino.

CAPÍTULO I

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

1 – O homem criado à imagem de Deus

Tudo quanto existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu centro e seu termo: neste ponto existe um acordo quase geral entre crentes e não-crentes. A Sagrada Escritura ensina que o homem foi criado «à imagem de Deus», capaz de conhecer e amar o seu Criador, e por este constituído senhor de todas as criaturas terrenas, para as dominar e delas se servir, dando glória a Deus.

Deus, porém, não criou o homem sozinho: desde o princípio criou-os «varão e mulher (Gn. 1,27); e a sua união constitui a primeira forma de comunhão entre pessoas. Pois o homem, por sua própria natureza, é um ser social, que não pode viver nem desenvolver as suas qualidades sem entrar em relação com os outros.

2 – O pecado e suas conseqüências

Estabelecido por Deus num estado de santidade, o homem, seduzido pelo maligno, logo no começo da sua história abusou da própria liberdade, levantando-se contra Deus e desejando alcançar o seu fim fora d'Ele.

Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação.

O homem encontra-se, pois, dividido em si mesmo. E assim, toda a vida humana, quer singular quer coletiva, apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.

A sublime vocação e a profunda miséria que os homens em si mesmos experimentam, encontram a sua explicação última à luz desta revelação.

3 – Constituição do homem: sua natureza

O homem, ser uno, composto de corpo e alma, sintetiza em si mesmo, pela sua natureza corporal, os elementos do mundo material, os quais, por meio dele, atingem a sua máxima elevação e louvam livremente o Criador. É, pois, a própria dignidade humana que exige que o homem glorifique a Deus no seu corpo (6), não deixando que este se escravize às más inclinações do próprio coração. O homem constitui-se em um ser de transcendência, pois possui uma alma espiritual e imortal o que o faz superior aos demais seres presentes na natureza criada por Deus.

4 – Dignidade do entendimento

Participando da luz da inteligência divina, com razão pensa o homem que supera, pela inteligência, o universo. Conseguiu ele grandes progressos nas ciências empíricas, nas técnicas e nas artes liberais. Mas buscou sempre, e encontrou uma verdade mais profunda. A natureza espiritual da pessoa humana encontra e deve encontrar a sua perfeição na sabedoria, que suavemente atrai o espírito do homem à busca e amor da verdade e do bem, e graças à qual ele é levado por meio das coisas visíveis até às invisíveis. Mais do que os séculos passados, o nosso tempo precisa de tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. É necessária uma sabedoria do amor imprescindível nos tempos atuais que urge por humanização. Pelo dom do Espírito Santo, o homem chega a contemplar e saborear, na fé, o mistério do plano divino.

5 – Dignidade da consciência moral

No fundo da própria consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer; essa voz, que sempre o está a chamar ao amor do bem e fuga do mal, soa no momento oportuno, na intimidade do seu coração: faze isto, evita aquilo. O homem tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus; a sua dignidade está em obedecer-lhe, e por ela é que será julgado. A consciência é o santuário de Deus presente no homem. Não raro, porém, acontece que a consciência erra, por ignorância invencível, sem por isso perder a própria dignidade. Outro tanto não se pode dizer quando o homem se descuida de procurar a verdade e o bem e quando a consciência se vai progressivamente cegando, com o hábito do pecado.

6 – Grandeza da liberdade

Mas é só na liberdade que o homem se pode converter ao bem. Os homens de hoje apreciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a razão. Muitas vezes, porém, fomentam-na dum modo condenável, como se ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade. A verdadeira liberdade vem de Deus. A liberdade do homem parte da reta consciência e não de impulsos ou condicionamentos externos ao homem. A liberdade do homem, ferida pelo pecado, só com a ajuda da graça divina pode tornar plenamente efetiva esta orientação para Deus. E cada um deve dar conta da própria vida perante o tribunal de Deus, segundo o bem ou o mal que tiver praticado

7 – A imortalidade e o enigma da morte

É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Enquanto, diante da morte, qualquer imaginação se revela impotente, a Igreja, ensinada pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena.

A fé, que se apresenta à reflexão do homem apoiada em sólidos argumentos, dá uma resposta à sua ansiedade acerca do seu destino futuro; e ao mesmo tempo oferece a possibilidade de comunicar em Cristo com os irmãos queridos que a morte já levou, fazendo esperar que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus.

8 – Formas e raízes do ateísmo

A razão mais sublime da dignidade do homem consiste na sua vocação à união com Deus. Porém, muitos dos nossos contemporâneos não atendem a esta íntima e vital ligação a Deus, ou até a rejeitam explicitamente; de tal maneira que o ateísmo deve ser considerado entre os fatos mais graves do tempo atual e submetido a atento exame.

Com a palavra «ateísmo», designam-se fenômenos muito diversos entre si. Com efeito, enquanto alguns negam expressamente Deus, outros pensam que o homem não pode afirmar seja o que for a seu respeito; outros ainda, tratam o problema de Deus de tal maneira que ele parece não ter significado.

O ateísmo nasce muitas vezes dum protesto violento contra o mal que existe no mundo, ou de se ter atribuído indevidamente o caráter de absoluto a certos valores humanos que passam a ocupar o lugar de Deus. A própria civilização atual, não por si mesma, mas pelo fato de estar muito ligada com as realidades terrestres, torna muitas vezes mais difícil o acesso a Deus.

Sem dúvida que não estão imunes de culpa todos aqueles que procuram voluntàriamente expulsar Deus do seu coração e evitar os problemas religiosos, não seguindo o ditame da própria consciência; mas os próprios crentes, muitas vezes, têm responsabilidade neste ponto. A falta de uma correta explanação doutrinaria e de praticas coerentes ocasionou por vezes esse mal.

9 – O ateísmo sistemático

O ateísmo moderno apresenta muitas vezes uma forma sistemática, a qual, prescindindo de outros motivos, leva o desejo de autonomia do homem a um tal grau que constitui um obstáculo a qualquer dependência com relação a Deus. Não se deve passar em silêncio, entre as formas atuais de ateísmo, aquela que espera a libertação do homem, sobretudo da sua libertação econômica.

10 – Atitude da Igreja perante o ateísmo

A Igreja, fiel a Deus e aos homens, não pode deixar de reprovar com dor e com toda a firmeza, como já o fez no passado, essas doutrinas e atividades perniciosas, contrárias à razão e à experiência comum dos homens, e que destronam o homem da sua inata dignidade. A Igreja procura entender as causas do ateísmo. A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus. Com efeito, o homem inteligente e livre, foi constituído em sociedade por Deus Criador; mas é, sobretudo chamado a unir-se, como filho, a Deus e a participar na sua felicidade. Entretanto, cada homem permanece para si mesmo um problema insolúvel, apenas confusamente pressentido.

Só Deus pode responder plenamente e com toda a certeza, Ele que chama o homem a uma reflexão mais profunda e a uma busca mais humilde.

Quanto ao remédio para o ateísmo, ele há-de vir da conveniente exposição da doutrina e da vida íntegra da Igreja e dos seus membros. O que contribui mais que tudo para manifestar a presença de Deus é a caridade fraterna dos fiéis que unanimemente colaboram com a fé do Evangelho (18) e se apresentam como sinal de unidade.

Ainda que rejeite inteiramente o ateísmo, todavia a Igreja proclama sinceramente que todos os homens, crentes e não-crentes, devem contribuir para a reta construção do mundo no qual vivem em comum.

Pois a Igreja sabe perfeitamente que, ao defender a dignidade da vocação do homem, restituindo a esperança àqueles que já desesperam do seu destino sublime, a sua mensagem está de acordo com os desejos mais profundos do coração humano.

11 – Cristo, o homem novo

Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. Adão, o primeiro homem, era efetivamente figura do futuro, isto é, de Cristo Senhor. Imagem de Deus invisível (Col. 1,15), Ele é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Cristo assumiu em tudo a condição humana menos o pecado.

O cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogênito entre a multidão dos irmãos, recebe «as primícias do Espírito» (Rom. 8,23), que o tornam capaz de cumprir a lei nova do amor. É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, vai ao encontro da ressurreição, fortalecido pela esperança.

E o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido.

Tal é, e tão grande, o mistério do homem, que a revelação cristã manifesta aos que crêem. E assim, por Cristo e em Cristo, esclarece-se o enigma da dor e da morte, o qual, fora do Seu Evangelho, nos esmaga. Cristo ressuscitou, destruindo a morte com a própria morte, e deu-nos a vida, para que, tornados filhos no Filho, exclamem no Espírito: Abba, Pai.

CAPÍTULO II

A COMUNIDADE HUMANA

1 – Propósito do Concílio

As múltiplas relações favoreceram para um maior aumento do desenvolvimento técnico. Infelizmente, as mesmas, não favoreceram para o aumento do diálogo fraterno e do mútuo respeito. Contudo, amparado pela luz da Revelação Cristã, nos é apontado um poderoso horizonte; a comunhão entre as pessoas, que desemboca no reconhecimento do véu que encobre a vida: a dignidade.

2 – Índole comunitária da vocação humana

O documento nos assevera que todos nós fazemos parte da mesma família (imagem e semelhança de Deus): portanto, são todos irmãos um dos outros.

Ora a temática do Amor (a Deus e ao Próximo) apontada pela Sagrada Escritura, deve ser o guia de maior importância para a unidade, à verdade e a caridade; já que “hoje os homens se tornam cada dia mais dependentes uns dos outros e o mundo se unifica cada vez mais.” Em síntese, “não se pode encontrar plenamente o Amor, a não ser no sincero dom de si mesmo.” (GS 24)

3 – Interdependência da pessoa humana e da sociedade humana

É no contexto social que o homem progride, satisfaz sua dependência, demonstra e aperfeiçoa suas qualidades. Enfim, é no serviço e no diálogo mútuo que ele responde à própria vocação.

Os pivôs desta natureza social são a Família e a sociedade política. É a partir destes aspectos que o homem desenvolverá suas habilidades e direitos, almejando combatendo o mal estrutural (Econômico, Político e Social), decorrente do egoísmo e do orgulho dos homens.

4 – Promoção do bem-comum

O progresso mundial favoreceu para o estreitamento da vida social, ou seja, o convívio com diversos grupos culturais. O desafio está em desenvolver direitos e deveres que dizem respeito a todo o gênero humano. Desta forma, o bem-comum deve de prestigiar a dignidade da pessoa humana, mediante direitos e deveres com características universais e invioláveis, tais como: alimento, vestuário, casa, família, educação, trabalho, respeito, informação, proteção, liberdade etc. Para tanto, será necessário uma transformação da consciência social, permeada pela ação do Espírito, onde será prestigiada apenas a dignidade da pessoa humana.

5 – Respeito da pessoa humana

O documento acentua a importância do próximo. Sendo assim, devemos de ir ao encontro do “outro eu”; levando em conta sua vida e os meios necessários para levá-la dignamente.

Ademais, devemos de resistir a tudo que opõem a vida, toda a espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia, suicídio, mutilações, tormentos, violência, escravidão, prostituição etc. Estas são ações que ofendem gravemente a honra devida ao Criador.

6 – Respeito e amor dos adversários

Somos convidados - mediante a delicadeza e a caridade – a dialogar com os diversos pensamentos e atitudes, em busca da verdade salvadora e do bem comunitário.

Contudo, deve-se distinguir o erro, daquele que erra. O objetivo é combatermos o erro e preservar a dignidade da pessoa; pois só Deus é juiz e penetra os corações. Agindo com estes parâmetros, estaremos Praticando o Perdão apregoado por Jesus Cristo.

7 – Igualdade essencial entre todos os homens

Tendo os homens a mesma natureza e dignidade, deveria também ser reconhecida a sua igualdade fundamental. “Sem dúvida, os homens não são todos iguais quanto à capacidade física e forças intelectuais e morais, variadas e diferentes em cada um”. Mas “é realmente de lamentar que esses direitos fundamentais da pessoa ainda não sejam respeitadas em toda parte.” (GS 29)

É escandaloso e é obstáculo para a justiça social, as excessivas desigualdades econômicas e sociais, que vão de contramão as condições de uma vida mais humana e justa. Combater a desigualdade conjuntural e privilegiar a dignidade resultará num fim desejado: a paz social e internacional.

8 – Superação da ética individualista

A transformação da consciência passa pela superação da postura individualista; pois tem em vista a justiça e a caridade. Em síntese, é uma visão voltada para o próximo, ao coletivo, ao bem-comum.

Sendo homens novos e construtores duma humanidade nova, transcenderemos as ações particulares – com o auxílio da graça divina –, e estenderemos progressivamente a todo o mundo.

9 – Responsabilidade e participação social

Faz-se necessário que haja uma formação mais ampla da consciência: que ela seja pautada na geração de homens e mulheres com forte personalidade, e não apenas seres eruditos.

Mesmo cercado por limitações externas, o homem deverá ter consciência de sua própria dignidade e responder à sua vocação, através dos serviços prestados à comunidade humana. Assim, transformará o mundo pelas ações (Políticas, Sociais, Serviços, pela Vida) que objetivam a verdadeira liberdade.

10 – O Verbo encarnado e a solidariedade humana

Deus, através de homens realiza aliança com o seu povo, a fim de, santificá-lo e salvá-lo. Com efeito, a encarnação do Verbo de Deus, nos revela o amor do Pai e a sublime vocação dos homens – ser semelhante à Cristo: servidor e agente transformador.

Em verdade, é o amor (síntese de toda lei) que nos faz discípulos, irmãos. É pelo amor que nos tornamos um, visto que formamos “uma nova comunhão fraterna entre todos os que O recebem com fé e caridade, a saber, na Igreja, que é seu corpo, no qual todos, membros uns dos outros, se prestam mutuamente serviço segundo os diversos dons a cada um concedidos.” (GS 32)

CAPÍTULO III

A ATIVIDADE HUMANA NO MUNDO

1 – Problemas do sentido da atividade humana

O homem sempre procurou desenvolver-se na vida, com seu trabalho e engenho, apoiando-se na técnica e na ciência, estendendo seu domínio a toda natureza, evoluindo com o tempo suas aspirações e aquisições.

Com a evolução da comunicação em ordem global, a família humana perpassa para uma evolução nacional, ou seja, organiza-se como única comunidade no mundo, disponibilizando assim ao homem um “poder criador” que desvenda seus próprios bens, através de seus próprios meios.

2 – Qual é papel da Igreja neste contexto?

A Igreja como guardiã da palavra divina, tenta unir a luz da revelação à competência de todos os homens, empreendendo um “caminhar”, com a humanidade sob a luz de Cristo e de sua palavra.

É nessa união do caminhar da Igreja com a humanidade que vai-se valorizando as atividades humanas individuais e coletivas de modo que, os homens se esforçam para melhorar as condições de vida em co-relação a vontade de Deus, que como criador dispensou ao homem o poder de “dominar a terra com tudo que nela contém e governar o mundo na justiça e santidade.

“Deus disse: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança, como nossa semelhança, e que ele eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os repteis que rastejam sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou” Gn1, 26-27

Deus é Criador universal, o homem deve orientar-se a si e o universo para Ele; de maneira que, estando todas as coisas sujeitas ao homem, seja glorificado em toda a terra o nome de Deus.

“Quanto mais se aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce a sua responsabilidade, pessoal e comunitária.” GS 34

Toda atividade humana realizada é voltada para si própria. Assim com as ações do homens ele não transforma apenas a realidade mas realiza-se a si mesmo, valorizando o seu “ser” e não o seu “ter”.

“A norma da atividade humana é, pois a seguinte: segundo o plano e vontade de Deus, ser conforme com o verdadeiro bem da humanidade e tornar possível ao homem, individualmente considerado ou em sociedade, cultivar e realizar a sua vocação integral.” GS 35

3 – Justa autonomia das realidades terrestres

Muitos dos nossos contemporâneos parecem temer que a íntima ligação entre a atividade humana e a religião constitua um obstáculo para a autonomia dos homens, das sociedades ou das ciências.

4- A atividade humana viciada pelo pecado

A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso humano, tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande tentação.

O homem deve combater constantemente, se quer ser fiel ao bem; e só com grandes esforços e a ajuda da graça de Deus conseguirá realizar a sua própria unidade.

5- A atividade humana aperfeiçoada na Encarnação e no mistério pascal

Jesus revela-nos que “Deus é amor” (1 Jo. 4, 8) e ensina-nos que a lei fundamental da perfeição humana, é o novo mandamento do amor.

Dá, assim, aos que acreditam no amor de Deus, a certeza de que o caminho do amor está aberto para todos e que o esforço por estabelecer a universal fraternidade não é vão, este amor não se deve exercitar apenas nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas circunstâncias ordinárias da vida.

Com sua morte ensina-nos que devemos levar a cruz que a carne e o mundo fazem pesar sobre os ombros daqueles que buscam a paz e a justiça. Com sua Ressurreição anima, purifica e fortalece também aquelas generosas aspirações que levam a humanidade a tentar tornar a vida mais humana e a submeter para esse fim toda a terra.

6- A nova terra e o novo céu

A figura deste mundo, deformada pelo pecado, passa certamente , mas Deus ensina-nos que se prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual reina a justiça e cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que se levantam no coração dos homens.

“ Com efeito, o que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, se se perder ou arruinar a si mesmo?” Lc 9, 25

A expectativa da nova terra deve ativar a solicitude em ordem a desenvolver esta terra, onde cresce o corpo da nova família humana, que já consegue apresentar uma certa prefiguração do mundo futuro.

CAPÍTULO IV

O PAPEL DA IGREJA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

1 – Relação mútua entre a Igreja e o mundo (GS, n. 40)

Pressupondo tudo o que o Concílio já declarou acerca do mistério da Igreja, considerar-se-á a mesma Igreja enquanto existe neste mundo e com ele vive e atua. Em vista de um fim salvador e escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela existe já atualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade terrena e chamados a formar já na história humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até à vinda do Senhor.

• Constituída e organizada como sociedade neste mundo;

• Dispoem de convenientes meios de unidade visível e social;

• Agrupamento visível e comunidade espiritual;

• Caminha juntamente com toda a humanidade;

• Participa da mesma sorte terrena do mundo;

• Fermento e a alma da sociedade humana;

Igreja auxilia para tornar mais humana a família dos homens e a sua história, não se limitando a comunicar ao homem a vida divina; eleva a dignidade da pessoa humana, dá um sentido mais profundo à quotidiana atividade dos homens.

2 – Ajuda que a Igreja oferece ao homem (GS, n. 41)

A Igreja descobre ao mesmo tempo ao homem o sentido da sua existência, a verdade profunda à cerca dele mesmo, sabida que só Deus, pode responder às aspirações mais profundas do coração humano, que nunca plenamente se satisfaz com os alimentos terrestres.

Aquele que segue Cristo, o homem perfeito, torna-se mais homem. Uma vez que nenhuma lei humana pode salvaguardar tão perfeitamente a dignidade pessoal e a liberdade do homem como o Evangelho de Cristo, confiado à Igreja.

 Rejeita toda a espécie de servidão, a qual tem a sua última origem no pecado;

 Recomenda a caridade;

Ao contrário, a dignidade da pessoa humana, em vez de se salvar, perde-se.

3 – Ajuda que a Igreja oferece à sociedade (GS, n. 42)

A Igreja reconhece, promover a unidade, em Cristo. Ela própria manifesta assim ao mundo que a verdadeira união social eterna flui da união dos espíritos e dos corações, daquela fé e caridade em que indissolùvelmente se funda, no Espírito Santo, a sua própria unidade.

Além disso, dado que a Igreja não está ligada, por força da sua missão e natureza, a nenhuma forma particular de cultura ou sistema político, económico ou social, pode, graças a esta sua universalidade, constituir um laço muito estreito entre as diversas comunidades e nações. A Igreja, por sua vez, declara querer ajudar e promover todas essas instituições, na medida em que isso dela dependa e seja compatível com a sua própria missão.

4 – Ajuda que a Igreja oferece à atividade humana (GS, n. 43)

O divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo, pondo em risco a salvação eterna. A exemplo de Cristo os cristãos por poderem exercer todas as atividades terrenas, unindo numa síntese vital todos os seus esforços humanos, domésticos, profissionais, científicos ou técnicos com os valores religiosos, sob cuja elevada ordenação, tudo se coordena para glória de Deus.

Os leigos, que devem tomar parte ativa em toda a vida da Igreja, não devem apenas impregnar o mundo com o espírito cristão, mas são também chamados a serem testemunhas de Cristo, em todas as circunstâncias, no seio da comunidade humana.

Quanto aos Bispos, juntamente com os seus sacerdotes, a quem está confiado o encargo de governar a Igreja de Deus, anuncia a mensagem de Cristo de tal maneira que todas as atividades terrenas dos fiéis sejam penetradas pela luz do Evangelho. Manifestam ao mundo o rosto da Igreja com base no qual os homens julgam da força e da verdade da mensagem cristã. Contudo, a Igreja não deixa de ver quanta distância separa a mensagem por ela proclamada e a humana fraqueza daqueles a quem foi confiado o Evangelho.

5 – Ajuda que a Igreja recebe do mundo (GS, n. 44)

Assim como é do interesse do mundo que ele reconheça a Igreja como realidade social da história e seu fermento, assim também a Igreja não ignora quanto recebeu da história e evolução do género humano.

A experiência dos séculos passados, os progressos científicos, os tesoiros encerrados nas várias formas de cultura humana, os quais manifestam mais plenamente a natureza do homem e abrem novos caminhos para a verdade, aproveitam igualmente à Igreja.

Tudo isto com o fim de adaptar o Evangelho à capacidade de compreensão de todos e às exigências dos sábios. Esta maneira adaptada de pregar a palavra revelada deve permanecer a lei de toda a evangelização.

Como a Igreja tem uma estrutura social visível, sinal da sua unidade em Cristo, pode também ser enriquecida, e de fato o é, com a evolução da vida social. Não porque falte algo na constituição que Cristo lhe deu, mas para mais profundamente a conhecer e melhor a exprimir e para a adaptar mais convenientemente aos nossos tempos.

6 – Jesus Cristo Alfa e Omega (GS, n. 45)

“Eu sou o alfa e o ómega, o primeiro e o último, o começo e o fim” (Ap. 22, 12-13).

Ao ajudar o mundo e recebendo dele ao mesmo tempo muitas coisas, o único fim da Igreja é o advento do reino de Deus e o estabelecimento da salvação.

Com efeito, o próprio Verbo de Deus, por quem tudo foi feito, fez-se homem, para, homem perfeito, a todos salvar e tudo recapitular. “recapitular todas as coisas em Cristo, tanto as do céu como as da terra” (Ef. 1,10).

BIBLIOGRAFIA

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COMPÊNDIO VATICANO II. Constituições, decretos e declarações. Gaudium et Spes. 11ª ed. Petrópolis. Vozes, 1968

DOCUMENTOS DO CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. São Paulo. Paulus, 2001 (Clássicos de bolso)

HITCHCOCK, James. Fim da Gaudium et Spes?. http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=fim_gaudium_spes&lang=bra (Acesso em 17/09/2009)

HUMMES, Cláudio, Contribuições da Gaudium et Spes para a compreensão pastoral do homem de hoje. http://74.125.93.132/search?q=cache%3AGW0Mi_Oz55QJ%3Acaioba.pucrs.br%2Ffaced%2Fojs%2Findex.php%2Fteo%2Farticle%2Fview%2F1711%2F1244+gaudium+et+spes+resumo&hl=pt-BR&gl=br (Acesso em 17/09/2009)

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http://fomedapalavra.blogs.sapo.pt/12631.html (Acesso em 16/09/2009)

http://www.presbiteros.com.br/index.php/discurso-do-papa-joao-xxiii-na-abertura-solene-do-concilio/ (Acesso em 16/09/2009)

Marcos Paulo Rodrigues
Enviado por Marcos Paulo Rodrigues em 23/11/2009
Código do texto: T1939259
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