CONSIDERAÇÕES ACERCA DO LIVRO O PEQUENO PRÍNCIPE
 
O Pequeno Príncipe foi escrito por Antoine de Saint-Exupéry em 1943, um ano antes de sua morte. Embora pareça um livro para crianças, é na verdade um livro rico em alegorias e verdades profundas sobre o relacionamento humano. Seu escritor tinha alma de poeta e suas frases ainda hoje são muito citadas por inúmeras pessoas. Até quem nunca leu essa obra conhece alguns de seus famosos textos como o diálogo da raposa com o pequeno príncipe. Esse livro atravessou continentes e foi traduzido para muitas outras línguas, sendo seu original em francês.

Pertenço a miríade de estrelas tocadas pela bela história de O Pequeno Príncipe, e não consigo aprisionar o desejo de compartilhar as impressões que a obra me causou.
Conservarei, como sempre, as mensagens do autor entre aspas. Minhas considerações surgirão livres nesse texto para que o leitor saiba identificá-las.

Gostaria de lembrar que uma das maiores traves em nossa visão chama-se – preconceito. Por causa dele muitas vezes deixamos de crescer. Esse livro, apesar de contar a história de um menino de seis anos, não foi escrito para crianças. As crianças me desculpem, mas elas não têm maturidade para alcançar a sabedoria dessa obra abissal. Adultos, não permitam que o preconceito lhes impeça de descobrir as grandes verdades contidas nessa pequena obra.

Exupéry começa desnudando a nossa pequenez. Somos tão fúteis. Não conseguimos enxergar a essência das pessoas. Quando nos falam de alguém, queremos saber seu cargo, onde mora, como mora, quantos anos tem. Tolos que somos, nunca perguntamos sobre o que essa pessoa pensa, quais os seus ideais. O que tem feito para tornar o mundo melhor. Interessa-nos apenas as suas referências sociais.

“As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: ‘Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?’ Mas perguntam: ‘Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai? ‘Somente então é que elas julgam conhecê-lo.”

A seguir esse pequeno admirável, que transpira amor, nos apresenta a cor púrpura do verdadeiro sentimento. “Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla.

"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras.”

Quantas vezes deixamos de enxergar o óbvio e nos apegamos a palavras ditas no calor da emoção, que podem não representar os nossos reais valores. Será que a nossa atitude não conta? Então basta um diálogo desastroso e todo o resto será apagado? Que amizade é essa tão frágil que facilmente se quebra? Onde a compreensão, a sensibilidade para conhecer o outro e dar-lhe uma chance para se desculpar?

“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas”

Temos uma miopia emocional que não nos deixa enxergar todo o caminho percorrido. Interessa-nos apenas o palco. O vencedor, para ganhar a coroa da vitória, antes se submeteu a longas horas de exercícios. Sacrificou momentos de lazer. Fez regimes severos – foi larva. Mas nós queremos nascer borboletas, lindas, leves, coloridas.
Para os líderes de hoje, o Pequeno Príncipe ensina que não devemos exigir das pessoas algo que não possam cumprir. Dessa maneira não só ficamos desautorizados como frustramos os que nos cercam. Vejamos o trecho a seguir:

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão.”

O sétimo planeta visitado pelo Pequeno Príncipe foi a Terra. Então o Príncipe encontra a raposa e trava um interessante diálogo no qual a raposa lhe ensina o significado de criar laços. Eis uma das mais belas e tocantes citações desse Livro de Ouro: “Se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.”

A raposa fala ainda sobre a alegria antecipada. Só os que realmente entendem o verbo cativar sabem do que ela está falando.
“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade”.
 
Nosso principezinho encontrou-se no deserto com um piloto que fez uma aterrissagem forçada por causa de uma pane no motor da aeronave. Novo encontro, mais aprendizado. Mas sempre há o momento da despedida. Cada um que conheceu o amor foi cativado pelo outro.
 
 “As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém... Quando olhares o céu de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!”

Em um dado momento o pequeno príncipe nos ensina a enxergar com o coração. Aprendamos com esse sábio menino a enxergar aquilo que só se vê com o coração.

27/12/05