O LIVREIRO DE CABUL
Terminei de ler O Livreiro de Cabul. Gostei dos relatos de vidas reais. Contudo, não pude me furtar à frustração de ver como as mulheres são tratadas no mundo talibã.
 
A submissão deles em geral é algo atroz. Observei que nem os homens escapam dos grilhões, visto que os mais novos devem obediência cega aos mais velhos. Os filhos do Sultan guardam toda a revolta no coração, mas não têm coragem de enfrentar o pai.
 
Notei também a obediência incontestável do sobrinho do Sultan, Tajmir, à sua mãe. Mesmo apaixonado por outra, aceitou casar-se com a escolhida por ela  sem qualquer   resistência.
 
Tajmir decidiu ser feliz a qualquer custo. Quando ele conheceu a sua futura esposa, khadija, disse: "Posso amá-la". Amei esse menino pela sua decisão de buscar a felicidade em tudo o que estivesse ao seu alcance. "Khadija teve muito medo de ter uma filha.(...) Eu dizia a ela e a todo mundo que queria uma filha, assim, se tivéssemos uma filha, ninguém lastimaria, porque era isto que eu queria (...). Agora, khadija está com medo de não poder mais engravidar (...). Então eu digo a ela que um filho é suficiente (...). Então, caso não venhamos a ter outro, todos vão dizer que não quisemos ter mais filhos, e caso venhamos a ter outro, todos ficarão felizes de qualquer maneira".  
 
O pensamento desse menino, Tajmir,  é de profunda sabedoria e lembra o raciocínio da minha querida Polyanna que fazia o jogo do contente e em quem me espelho de vez em quando.  
 
Por baixo da burca dócil há mulheres que sofrem, que amam, que têm desejos proibidos e "Elas protestam 'se suicidando ou cantando' ".
 
Um fato chamou a minha atenção em particular no tocante aos costumes desse povo: por que a primeira esposa do Sultan ficou tão revoltada com o segundo casamento do marido se a poligamia lá é uma regra? Eu pensei que esse costume estivesse tão arraigado entre as mulheres que elas não se incomodariam com isso.
 

Também não compreendi muito como essas mulheres que viram moeda de troca para as famílias, conseguem sentir alegria com a festa de um casamento forjado.
 
Torci tanto pela Leila, a irmã-escrava de Sultan e sua família, a moça dócil ao extremo, mesmo sendo culta. A moça que sonhou ser feliz, livre e que esperei seu sonho se realizasse nas páginas finais do livro. Claro, é uma história real. Real até demais.  
 
O texto acima foi elaborado em forma de carta (e-mail) e enviado a uma pessoa amiga.