ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO

ANÁLISE DA CONVERSAÇÃO – AC

A AC é uma abordagem da análise de discurso que foidesenvolvida por um grupo de sociólogos (Garfinkel, 1967; Bensone Hughes;1983), que se autodenominam “etnometodologistas”. A etnometodologia é uma abordagem interpretativa da sociologia que focaliza a vida cotidiana como feito dependente de habilidades e os métodos que as pessoas usam para produzi-la. A tendência entre eles é evitar a teoria geral e a discussão ou o uso de conceitos como classe, poder e ideologia, que constituem preocupação central na sociologia regular.

Alguns etnometodologistas demonstram interesse particular na conversação e nos métodos que seus praticantes usam para produzi-la e interpretá-la. Os analistas da conversação têm-se concentrado em conversas informais entre iguais, embora alguns trabalhos recentes direcionam-se para tipos institucionais de discurso, nos quais as assimetrias de poder são mais óbvias.

A AC contrasta com a abordagem de Sinclair e Coulthard ao destacar os processos discursivos e, conseqüentemente ao contemplar tanto a interpretação como a produção.

O autor argumenta que a AC tem uma concepção estreita de interpretação e processo, comparando-a, portanto, Sinclair e a Coulthard em sua orientação para a busca de estruturas nos textos.

Os Analistas da conversação produziram estudos de vários aspectos da conversão: aberturas e fechamentos convencionais: como os tópicos são estabelecidos, desenvolvidos e mudados; como as pessoas relatam estórias no curso de conversas; como e por que as pessoas formulam conversas (por exemplo, resumem-nas, sugerem o que implicam). Notáveis e influentes são os trabalhos sobre a tomada de turno descrevendo como os falantes se alternam no turno de fala. Sacks, Schegloff e Jefferson (1974) propõem um conjunto simples, mas poderoso de regras para a tomada de turno.

Tais regras aplicam-se ao completar-se uma “uma unidade de construção de turno”: os praticantes da conversação constroem seus turno de unidades, tais como frase complexa, a frase simples, o sintagma, e4 mesmo a palavra, e os participantes são capazes de determinar qual é esse unidade , e predizer, com grande precisão , seu ponte de completude. As regras são ordenadas:

1. O falante atual pode selecionar o próximo falante;

2. se isso não ocorrer. O próximo falante pode ‘ auto-selecionar-se’, iniciando a produção de um turno;

3. se isso não ocorrer, o falante atual pode continuar, os pesquisadores argumentam que essas regras dão conta de muitos aspectos observados da conversação : que as sobreposições entre os falantes ocorrem , mas geralmente são breves; que ocorre um grande numero de transições entre os turnos sem lacuna e sem sobreposição , e assim por diante.Elas permitem variação considerável em aspectos como a ordem e a duração dos turnos.

A AC tem enfatizado bastante a “implicatividade seqüencial” da conversação – a alegação de qualquer enunciado imporá restrições ao que possa segui-lo. A evidência para que x implique seqüencialmente y inclui: 1. o fato de que qualquer coisa que ocorra após x, se for de qualquer modo possível , será tomada como y (‘se essa é sua esposa?’, é seguida por ‘Bem , não é minha mãe’, a última deverá ser tomada como resposta positiva implicada; 2. o fato de que se y não ocorrer, sua ausência será notada e comumente oferece margem para uma inferência ( ‘ se os professores deixam de dar retorno às respostas dos alunos , isso pode ser tomado como uma rejeição implícita destes). Segundo Atkinson e Heritage (1984:6) “ virtualmente todo enunciado ocorre em algum local estruturalmente definido na conversa”. Uma implicação disso é que os turnos exibem uma análise de turnos prévios , fornecendo evidência constante no texto de como os enunciados são interpretados.

Outra implicação é que a posição seqüencial de um enunciado é por si só bastante para determinar seu sentido. Mas esse ponto é altamente questionável por dois motivos: 1) os efeitos da seqüência sobre o sentido variam segundo o tipo de discurso; 2) como sugerido pelo autor quando se discuti Sinclair e Coulthard, pode-se recorrer a uma variedade de tipo de discurso durante uma interação, e os participantes, como produtores e intérpretes, constantemente têm de negociar suas posições em relação ao seu repertório.

Apesar de diferentes pontos de partida e orientações disciplinares e teóricos, as abordagens de Sinclair e Coulthard e da AC têm forças e limitações bastante similares: ambas fizeram contribuições importantes para uma nova apreciação da natureza das estruturas no diálogo, mas nenhuma das duas desenvolve uma orientação social para o discurso e nem fornece uma explicação satisfatória dos processos discursivos e da interpretação, embora a AC apresente considerável reflexão sobre determinados aspectos da interpretação.

Labov e Fanshel

O trabalho destes pesquisadores é um estudo de um lingüista e um psicólogo sobre o discurso da entrevista da psicoterapêutica. Ao contrário de Sinclair e Coulthard e da AC , Labov e Fanshel assumem a heterogeneidade do discurso , que para eles reflete as ‘ contradições e pressões’ da situação de entrevista.Eles concordam com Goffman (1974) que as mudanças entre ‘molduras’ são um aspecto normal da conversação e identificam nos seus dados uma configuração de diferentes ‘estilos’ associados a diferentes molduras : o”estilo da entrevista” , o “estilo cotidiano” usado nas narrativas de pacientes sobre a “vida desde a última visita” (N) e o “ estilo da família “(F) , o estilo usado nas situações de família para expressar emoções fortes.

As entrevistas são divididas em seções transversais – correspondem em extensão às trocas de Sinclair e Coulthard, embora as seções transversais possam fazer parte de monólogos. A análise de seções transversais enfatiza a existência de ‘fluxos de comunicação ‘ verbal e para lingüística paralelos, os últimos cobrindo aspectos como freqüência, volume e qualificadores da voz como ‘ofegância’, e carregando sentidos implícitos que são ’negáveis’. Uma variável entre tipos de discursos é a relativa importância do canal paralingüístico: no discurso terapêutico, as contradições entre os significados explícitos do canal verbal e os sentidos implícitos do canal paralingüístico constituem uma aspecto central.

A análise produz uma ‘expansão’ de cada seção transversal, uma formulação do texto que torna explícito o que era implícito, ao fornecer referentes para pronomes, ao verbalizar os sentidos implícitos das pistas paralingüístas , ao produzir material factual relevante de outras partes dos dados e ao tornar explícita parte do conhecimento partilhado dos participantes.

A seção transversal é então analisada como ‘interação’ (significando uma “ação que afeta as relações do ‘eu’ e ‘outros’”). Supõe-se que qualquer enunciado realize simultaneamente algumas ações que são hierarquicamente ordenadas, de modo que as ações de nível superior são realizadas por meio de ações de nível inferior (uma relação marcada por ‘conseqüentemente’ a seguir).

Labov e Fanshel refere-se a sua abordagem como análise de discurso ‘abrangente’, e seu detalhamento é de certo impressionante , embora também , como indicam , consumam muito tempo. Eles próprios identificam alguns problemas: as pistas paralingüísticas são reconhecidamente difícieis de interpretar , as expansões podem ser feitas interminavelmente e inexiste um ponto obviamente motivado para a segmentação , e as expansões têm efeito de aplainar importantes diferenças entre elementos de primeiro e segundo plano no discurso.O autor focaliza a discussão sobre duas importantes percepções em sua abordagem :

A primeira é a visão de que o discurso pode ser estilisticamente heterogêneo por causa de contradições e pressões na situação de fala. No caso do discurso terapêutico, a sugestão é que o uso do estilo ‘cotidiano’ e ‘familiar’ é parte da estratégia da paciente para estabelecer alguma parte na conversa como imunes à habilidade intrusa do terapeuta. O princípio da heterogeneidade do discurso é um elemento central na discussão de “intertextualidade “ do autor.Há duas diferenças entre a posição do autor e a de Labov e Fanshel. Primeiro, o encaixe de um estilo em outro, é apenas uma forma de heterogeneidade e freqüentemente toma formas mais complexas, em que os estilos são difíceis de separar. Segundo, a visão deles sobre heterogeneidade é muito estática: eles consideram o discurso terapêutico como uma configuração estável de estilos, mas não analisam a heterogeneidade dinamicamente como mudanças históricas nas configurações de estilos. O valor principal do princípio da heterogeneidade parece estar na investigação da mudança discursiva dentro da mudança social e cultural mais ampla.

A segunda percepção é que o discurso é construído sobre proposições implícitas que são tomadas como tácitas pelos participantes e que sustentam sua coerência. , Novamente, esse é um princípio importante, cujo potencial e cujas implicações não são desenvolvidos por Labov e Fanshel. Eles aproximam-se de uma análise crítica do discurso terapêutico, fornecendo recursos analíticos valiosos para tal análise.

Potter e Wtherell

Para final de uma abordagem não-crítica à análise de discurso, o autor discutiu o uso por Potter e Wtherell (1987) da análise de discurso como método na psicologia social. Mostra como a análise de discurso pode ser usada para estudar as questões que têm sido abordadas tradicionalmente com outros métodos e, porque levanta a questão se a análise do discurso concerne, principalmente, à “forma” ou ao “conteúdo” do discurso.

A defesa da análise de discurso por Potter e Wtherell como método para psicólogos sociais baseia-se em um único argumento que é sucessivamente aplicado a várias áreas fundamentais da pesquisa na psicologia social . O argumento é que os psicologia social tradicional distorce e mesmo ‘suprime’ propriedade-chave dos materiais lingüísticos que usa como dados ; que o discurso é ‘construtivo’ e, conseqüentemente, constitui objetos e categorias; e que o que uma pessoa diz não permanece consistente de uma ocasião a outra , mas varia segundo funções da fala.Primeiro, o argumento é aplicado à pesquisa sobre atitudes : a pesquisa tradicional pressupunha que as pessoas tinham atitudes consistentes sobre ‘objetos’, tais como‘imigrantes de cor’, enquanto a análise de discurso mostra não apenas que as pessoas fazem avaliações diferentes e até contraditórias de um objeto de acordo com o contexto, mas também que o próprio objeto é constituído diferentemente, dependendo de sua avaliação. O argumento é então aplicado ao estudo de como as pessoas usam regras, como as pessoas produzem relatos explicativos de se comportamento(desculpas. Justificativas, etc.), e assim por diante, argumentando-se , em cada caso, a favor da superioridade da análise de discurso sobre outros métodos experimentais .

Potter e Wtherell contrastam a priorização do conteúdo em sua abordagem com a priorização da forma na teoria ‘ teoria da acomodação da fala na psicologia social .Esta focaliza a maneira como as pessoas modificam a fala de acordo coma pessoa a quem falam e assim com a variabilidade da forma lingüística segundo o contexto e a sua função ; enquanto na primeira eles abordam variabilidade do conteúdo lingüístico . O foco sobre o conteúdo proposicional dos enunciados e sobre os tipos de argumento nos quais as proposições funcionam. Por exemplo, ao pesquisarem atitudes, registram o que os informantes da Nova Zelândia dizem a respeito da repatriação dos imigrantes da polinésia. Em outros casos , o foco é sobre o vocabulário ea metáfora – por exemplo-,os predicados ( verbos, adjetivos) e as metáforas usados relativos à comunidade , em reportagens da mídia sobre os distúrbios urbanos na Grã-Bretanha em 1980.

Na verdade, a distinção forma – conteúdo não é tão clara como pode parecer. Há aspectos de conteúdo que realmente estão ligados a questões de forma; por exemplo, a metáfora pode ser uma questão de fusão d e diferentes domínios de sentido, mas também é uma questão de quais palavras são usadas em um texto,um aspecto de sua forma . E , do mesmo modo, aspectos de forma estão ligados ao conteúdo : a mescla de estilos no discurso terapêutico , identificada por Labov e Fanshel, é, em um nível , a mescla de formas( refere-se às linhas de entonação que são típicas do estilo da família ) mas também significativa em termos de conteúdo( por exemplo, em termos da construção da paciente como um tipo particular de ‘eu’ ou sujeito.

O quadro analítico de Potter e Wtherell é pobre em comparação com outras abordagens : seu conteúdo reduz-se a aspectos limitados do significado ‘ideacional’ ou conceitual do discurso, o que deixa intocadas outras dimensões de significados ( em termos amplos , ‘interpessoais’) e aspectos associados de forma. É no tratamento dado ao ‘eu’ por Potter e Wtherell que essas limitações analíticas se tornam mais aparentes.Ao contrário de tratamentos tradicionais do eu na psicologia social , eles adotam uma posição construtivista que enfatiza a constituição variável do eu no discurso. Mas eles são incapazes de operacionalizar adequadamente essa teoria em sua análise de discurso porque diferentes ‘eus’ são sinalizados implicitamente por meio de configurações de muitos aspectos diversos de comportamento verbal (como também não verbal), e é necessário um aparato analítico mais rico do que o de Potter e Wtherell para descrevê-los.

Como outras abordagens referidas, a de Potter e Wtherell é insuficientemente desenvolvida em sua orientação social para o discurso. Há em sua análise de discurso uma ênfase individualista parcial sobre as estratégias retóricas dos falantes. A discussão do eu é uma exceção aparente, porque uma visão construtivista do eu enfatiza a ideologia e a moldagem social do eu no discurso, mas essa teoria é pouco adequada à orientação predominante no livro. Finalmente há uma tendência para a atividade estratégica ou retórica do ‘eu’ , ao se usarem categorias , regras, etc., como alternativas à sujeição do ‘eu’ , em lugar de se tomarem as duas , em uma síntese dialética .

Lingüística Crítica

O grupo que desenvolveu a abordagem tentou casar um método de análise lingüística textual com uma teoria social de funcionamento da linguagem em processos políticos e ideológicos, recorrendo a teoria lingüística funcionalista associada com Michael Halliday (1978,1985) e conhecida como ‘lingüística sistêmica’

Neste estudo, a lingüística crítica encontrava-se ansiosa por distinguir-se da ligüística regular e da sociolingüística. São rejeitados dois dualismos prevalecentes e relacionados na teoria lingüística : o tratamento dos sistemas lingüísticos como autônomos e independentes do uso da linguagem e a separação entre significado e estilo ou expressão( ou entre conteúdo e foram). Contra o primeiro dualismo, a lingüística crítica afirma com Halliday que “ a linguagem é como é por causa de sua função na estrutura social e argumenta que a linguagem à qual as pessoas têm acesso depende de sua posição social.Contra o segundo dualismo, a lingüística crítica apóia a concepção de Halliday da gramática de uma língua como sistemas de ‘opções’ entre as quais os falantes fazem seleções segundo as circunstâncias sociais, assumindo que opções formais têm significados contrastantes e que as escolhas de formas são sempre significativas.A sociolingüística é criticada porque meramente estabelece correlações entre linguagem e sociedade, em vez de buscar relações causais mais profundas, incluindo os efeitos da linguagem na sociedade : “ a linguagem serve para confirmar e consolidar as organizações que a moldam” ( Fowler ET AL., 1979:1990.

Na lingüística crítica, há uma tendência a enfatizar demais o texto como produto e a relegar a segundo plano os processos de interpretação de textos. Na análise, a relação entre aspectos textuais e sentidos sociais é muitas vezes retratada como sem problemas e transparente, na prática atribuem-se valores a estruturas particulares (tais como orações passivas sem agentes) de modo bastante mecânico. Os textos podem estar abertos a diferentes interpretações, dependendo do contexto e do (a) intérprete, o que significa que os sentidos dos sociais do discurso (bem como ideologia) não podem ser simplesmente extraídos do sem considerar padrões e variações na distribuição, no consumo e na interpretação social do texto.

Outra limitação da lingüística crítica é que ela confere uma ênfase unilateral aos efeitos do discurso na reprodução social de relações e estruturas sociais existentes e, negligencia tanto o discurso como o domínio em que se realizam as lutas sociais, como mudança no discurso, uma dimensão uma mudança social e cultural mais ampla. Segundo o autor a interpretação é um processo ativo em que os sentidos a que se chegou dependem dos recursos usados e da posição do (a) intérprete, e só ignorando esse processo dinâmico é que se pode construir textos que produzam efeitos ideológicos sobre um recipiente passivo. O que está em questão é a visão descendente do poder e da ideologia na lingüística crítica; na estase social e não na mudança, nas estruturas sociais e não na ação social e na reprodução social e não na transformação social. Há necessidade de uma teoria social do discurso baseada em uma reavaliação desses dualismos tomados como pólos em relações de tensão, em vez de optar-se por um membro de cada par e rejeitar o outro como se fossem mutuamente exclusivos.

A lingüística crítica se concebe a interface linguagem-ideologia muito estritamente. Primeiro, além da gramática e do vocabulário, outros aspectos dos textos podem ter significância ideológica - por exemplo, a estrutura argumentativa ou narrativa geral de um texto. Segundo a lingüística crítica lida com o monólogo escrito e tem relativamente pouco a dizer sobre os aspectos ideologicamente importantes da organização do diálogo falado (como a tomada de turno), embora haja alguma discussão das dimensões pragmáticas dos enunciados, tais como seus aspectos de polidez. Terceiro, devido ao negligenciamento relativo dos processos de interpretação, a ênfase cai exageradamente na realização de ideologia nos textos. Os processos de interpretação levam os intérpretes a pressupor coisas que não estão no texto e que podem ser de natureza ideológica.

Os processos discursivos de produção e interpretação textual tornaram-se uma preocupação central, e há mais atenção explicita ao desenvolvimento de uma teoria social do discurso, com uma orientação para luta e a mudança histórica no discurso, que se centra em uma tentativa de desenvolver uma teoria do gênero discursivo.

Pêcheux

Michael Pêcheux e seus colaboradores desenvolveram uma abordagem crítica à análise de discurso que, como a lingüística crítica, tenta combinar teoria social do discurso com um método de análise textual- discurso político escrito. Sua Pesquisa tem se ligado a desenvolvimentos políticos na França, relação entre partido comunista e socialista nos anos 70 e uma comparação de seu discurso político.

A fonte da abordagem foi à teoria marxista de ideologia de Althusser (1971). Althusser enfatiza a autonomia relativa da ideologia da base econômica e a contribuição significativa da ideologia para reprodução ou transformação das relações econômicas. Argumentou que a ideologia ocorre em formas materiais e, funciona pela constituição (‘interpelação’) das pessoas em sujeitos sociais e sua fixação em ‘posições’ de sujeito, enquanto ao mesmo tempo lhes dá a ilusão de serem agentes livres.Esses processos realizam-se no interior de várias instituições e organizações, tais como a educação, a família ou o direito, que na concepção de Althusser funcionam como dimensões ideológicas do Estado – que chamou de “aparelhos ideológicos de estado “( AIEs).

A teoria Pêcheux foi desenvolver idéia de que a linguagem é uma forma material da ideologia. Ele usa o termo discurso para enfatizar a natureza ideológica no funcionamento da linguagem e de modo inverso, a existência da materialidade lingüística na ideologia. Um AIEs é concebido com um complexo de formações ideológicas inter-relacionadas cada qual correspondendo aproximadamente a uma posição de classe no interior do AIE. Pêcheux sugere que cada posição incorpora uma formação discursiva (FD) , um termo que tomou emprestado de Foucault. Uma FD é “aquilo que em uma dada formação ideológica determina ‘o que pode e deve ser dito’”

FDS são faces lingüísticas de domínios sociohistoricamente constituídos na forma de pontos de estabilização que produzem o sujeito e simultaneamente junto com ele o que lhe é dado ver, compreender, fazer, temer e esperar.

A força da abordagem de Pêcheux, e a razão para considerá-la como critica, é que ela casa uma teoria marxista do discurso com métodos lingüísticos de análise textual. Porém, o tratamento dos textos é insatisfatório. Os textos são homogeneizados, e o efeito de aplicação transformacional a analise em orações separadas. Esse procedimento possibilita um foco seletivo sobre partes dos textos o que significa que os objetos de análise são as orações e não o texto completo. Estes são tratados como produto, como na lingüística crítica, e os processos discursivos de produção e interpretação textual recebem pouca atenção. São analisados em termos semânticos estreitos com o foco em palavras-chave, são consideradas apenas as dimensões ideacionais do significado, enquanto deixam de ser contempladas as dimensões interpessoais que dizem respeito ás relações sociais e às identidades sociais e são favorecidas as relações de significado mais abstratas em detrimento das propriedades do sentido dos enunciados no contexto.Há uma visão unilateral do sujeito como um efeito; é negligenciada a capacidade dos sujeitos de agirem como agentes, e mesmo de transformarem eles próprios as bases da sujeição. A teoria da desidentificação como mudança gerada exteriormente por uma prática política particular é uma alternativa implausível por construir possibilidade de transformação em nossa visão do discurso e do sujeito.

A segunda geração da análise do discurso na tradição de Pêcheux alterou aspectos fundamentais da abordagem, em parte em respostas às críticas e em parte sob a influência de mudanças políticas na França. O interdiscurso passou a ser considerado como um processo de constante reestruturação, no qual a delimitação de uma FD é fundamentalmente instável, não se tratando de um limite permanente a separar o interior do exterior, mas um limite entre diferentes FDs que muda de acordo com o que está em jogo na luta ideológica. Dada a heterogeneidade constitutiva do discurso, pondo questões para os intérpretes sobre as FDs mais relevantes para sua interpretação e, conferindo à análise de discurso o caráter de uma disciplina interpretativa e não diretamente descritiva. Ao mesmo tempo. Ocorre o abandono da ‘ilusão do teórico’, de que as transformações radicais dos interdiscursos são autorizadas pela existência do marxismo-leninismo. Com um novo foco sobre o evento discursivo particular, emerge uma visão dialética, e a possibilidade de transformações torna-se inerente à natureza heterogênea e contraditória do discurso.

Fairclough Norman. Discurso e mudança social. Brasília UNB 2008

Abordagens da análise de discuso páginas 31 a 57

Ione Z
Enviado por Ione Z em 06/02/2010
Código do texto: T2072793