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Altevir Alencar: agonia de amor na exaltação poética

Os sentimentos maduros no Livro de Sonetos de um poeta reconhecido em todo o País

Por: Guimarães Rocha*

Um pássaro que canta livremente mesmo mantendo a correção das formas, esse é o formoso poeta Altevir Alencar. O seu Livro de Sonetos, que neste 2006 alcançou a quinta edição, consegue um feito digno de quem se torna único, uma escola da humanidade, abrigando escolas literárias que se contrapõem, e ao mesmo tempo alçando vôo além dessas convenções. Adota estilo parnasiano de escrever (objetividade, pureza formal), mantém o romantismo (sensibilidade e subjetivismo acima da razão) na essência e vai além, destruindo prisões do habitualismo, permitindo até mesmo a extravagância e um mar de simbolismos (próprios de uma escola reagente ao parnasianismo), num modo elegante de ser.

A obra reúne 103 sonetos, todos ao modo italiano — cada composição com 14 versos, dois quartetos e dois tercetos. Não é só porque Austregésilo de Athayde, Elpídio Reis, Tito Filho, Tomaz Gomes Campelo e o desembargador Brandão de Carvalho homenageiam Altevir Alencar no posfácio desse Livro, que nos motivaremos a louvar o insigne poeta piauiense que foi adotado por Mato Grosso do Sul e honrou a hospitalidade trabalhando pelo bem público, tendo sido prefeito de Nioaque. A leitura acurada nos atira a uma compreensão que fecha as portas a inúteis louvaminhas e nos entrega, emocionados, a importantes reflexões. O autor é advogado, membro da Academia Piauiense de Letras e da Academia Sul-mato-grossense de Letras.

Altevir é uma vítima bem-sucedida da necessidade de expressar. Ele tem que gritar o amor e a dor, e o faz de modo original e estonteante. Nas letras vivas, narra tristeza e morte, enumera alegrias fugidias e todos os níveis mais profundos dos sentimentos. Veja como ele diz em “No Nordeste” (soneto), sobre a “Tarde longa e cansada de verão”, quando “O peito imenso do sertão soluça” (...) ou ainda em “Solitude”, lembrando o despedaçador Augusto dos Anjos, referindo-se ao “tumultuar medonho”, “Um bando de ilusões fugindo a esmo” e “A ausência inexplicável de mim mesmo”. E mais, no “Meu coração”: “(...) É um cárcere sem portas/ Onde se agrupam todos os fantasmas/ Das esperanças que nasceram mortas”.

O poeta não foge do contraditório. Associa as agonias do universo com o amor sonhado, vivido com felicidade, depois perdido, mas escravizado na memória. No concreto “Velho portão”, sente que “Sou a porta da vida escancarada, /Que a rajada da angústia escancarou”. Insatisfeito, chora em “Nunca”, sobre os amores impossíveis, mas despertos: “Tu não aplacarás as minhas ânsias/— Mulher feita de fogo e de distâncias, /Que eu sempre quis... e nunca pude ter”. E na construção “Dentro de nós” reclama: “Tudo nos diz que o pranto mais ardente/ É justamente o que a alma desconhece”.

A mulher está presente em sua verídica aspiração de pureza, encontros com o amor, devaneios e decepções. “Vem” é o soneto assim finalizado: “Que este amor que me queima é uma loucura /É minha glória e minha própria ruína”, um dos muitos choques em que ele identifica fatalidade nas coisas. Talvez por isso, no “Nirvana”, desabafa: “Sou cálice de flor que se adelgaça, /Recebendo a neblina da desgraça, /Dentro da noite horrível do viver”.

Por vezes iconoclasta, em angústia ousa, poeticamente, falar como no incluso “Talismã”: “Ruja, feroz, o temporal do inverno, /tornem-se fogo as lágrimas de Deus...”.

— Advogado Altevir Alencar, todo poeta sabe que um bom intercessor assume funções de anjo da guarda. Prossiga defendendo o coração da poesia, semeando beleza, mesmo quando dolorida, nesses misteriosos caminhos da nossa vida!

* Poeta escritor, membro da Academia Sul-Mato-grossense de Letras - Campo Grande - Mato grosso Sul

Guimarães Rocha
Enviado por Guimarães Rocha em 17/08/2006
Código do texto: T218876