RESENHA: "A CONSTRUÇÃO DA NOTÍCIA"

Em seu texto sobre o jornalismo na web e seus procedimentos, Pollyana Ferrari inicia com a dualidade tempo vs. dinheiro nas agências de notícias. Afinal de contas, são estas instituições que estão imbuídas em abastecer os mais diversos veículos de comunicação. Portanto, a internet foi um caminho explorado primeiramente pelas agências. Estava aberto o comércio das notícias em rede, e da forma mais imediata possível.

O hipertexto é colocado como um recurso de preservação histórica da notícia. O internauta tem a possibilidade de acessar a mesma informação em diferentes momentos e conferir o que já aconteceu em relação àquele assunto. Os portais jornalísticos começaram, nos anos 2000, a disponibilizar um link que disponibilizassem notícias minuto a minuto, a fim de que o internauta tivesse a impressão de atualização em tempo real. Com o tempo, esses espaços exclusivos à constante renovação foram sendo plenamente incorporados aos portais, agora dedicados totalmente à instantaneidade. Porém, conforme Ferrari, o afã publicador era de tal voracidade que o jornalista passava a publicar as informações de forma “picada” e sem uma lógica. O início do jornalismo na web ainda era suplantável pelas mídias já consolidadas. Logo, os principais portais jornalísticos eram dominados pelas agências, estas sim tinham o domínio da construção da notícia em tempo real.

As funções em uma redação já eram previamente delimitadas. A redação digital chegou modificando completamente o modo de produção, fazendo com que os profissionais necessitassem incorporar novos cargos. Neste novo processo digital, muitas vezes o trabalho de coletar, apurar, escrever, revisar e “subir” para a rede ficava a cargo de apenas um jornalista – o que resultava em textos mal-informativos, escritos sem coesão e com atentados à gramática. O Jornalismo na internet estava obviamente carente de um procedimento adequado para a busca de sua identidade.

A autora cita agências de notícias como a Reuters e a Associated Press como “atacadistas da notícia”, ao passo que os demais veículos são o “varejo da informação”, entregando o produto aos consumidores. A vitória ou a derrota na transmissão informativa é uma questão de segundos. Para que os dados sejam corretamente passados, a regra da pirâmide invertida (lead) continua válida – o quê, quem, quando, onde e por quê. Outras situações questionadas são o fato de apenas um jornalista muitas vezes não conseguir selecionar a riqueza de alguns detalhes da notícia e a informação que chega incompleta ao leitor. Para Ferrari, esclarecer o internauta que a notícia ainda é construída durante a sua leitura é um detalhe que atribuiria mais credibilidade ao site.

A autora aponta para o faro sintetizador e a minúcia na pesquisa, citando para isso a postura do repórter em entrevistas (transformar uma pergunta respondida “sim” em aspas é um subterfúgio condenável por Ferrari) e a pesquisa bem planejada, a qual não deve se restringir a buscadores. O capítulo é encerrado com a ideia de que muito já se realizou, mas a perspectiva de Ferrari é de que muito mais recursos virão em prol do jornalismo em meio digital.

A autora Pollyana Ferrari utiliza uma abordagem pouco polêmica, apesar de contestar algumas práticas da imprensa na internet. Suas idéias soam como instrutivas e objetivas tanto para os jornalistas experientes, os iniciantes e os estudantes. O texto é uma grande reflexão acerca do Jornalismo produzido na web ao apontar para o procedimento utilizado pelos profissionais no pleno exercício de suas funções, e é frisado que a ética nunca deve ser deixada de lado – aliás, falar de ética é um hábito mister a diversos autores de textos que tratam de Jornalismo – transformar uma pergunta respondida em “sim” em uma declaração, por exemplo, é um ato contestado por Ferrari. A autora está certa em recusar um mero paliativo jornalístico, uma vez que esta prática denota preguiça em elaborar questões e fere os princípios da boa-fé e da lisura, tão cobrados em manuais de redação. A qualidade da notícia tende a cair com a prática, e os veículos de comunicação ficam nivelados por baixo. O público, por sua vez, acaba por perder a confiança em sua emissora, revista, jornal ou site. Com uma audiência claudicante, o risco é de que os patrocinadores apostem menos nos veículos. Todos saem perdendo a partir de uma medida comumente encarada como facilitadora.

Com o advento da internet, o Jornalismo passou por uma inequívoca reinvenção. Se em um primeiro momento, o processo de apuração de um jornal contava com uma tolerância maior – já que na primeira fase da comunicação em rede, os sites jornalísticos nada mais eram do que uma transcrição do impresso, algumas vezes em versões PDF – posteriormente, a agilidade na percepção dos fatos aliada a uma análise sucinta é o que define os rumos do Jornalismo na web. A melhor comunicação agora é realizada em tempo real. Ao invés de esperar uma notícia se completar, o bom comunicador é aquele que divulga um dado principal e adiciona novidades no mesmo pouco a pouco. É isto que Ferrari exemplifica com a comparação ao tronco de uma árvore, que é o fato mais relevante, como uma queda de avião. Os “galhos” são a causa da queda, depoimentos de sobreviventes, resgate de corpos, um infográfico da queda, outros acidentes históricos...

A questão dos erros gramaticais é um detalhe que complicador, talvez não na compreensão do texto, mas como na própria credibilidade do veículo de comunicação. No afã de “subir” as novidades cada vez mais factualmente, o redator ignora acentos, vírgulas e plurais e comete erros de grafia. É bem verdade que estas falhas também se notam no meio impresso, mas os sites têm demonstrado uma freqüência maior. E um leitor pode até trocar um site pelo outro apenas devido a erros crassos de escrita, que poderiam ser resolvidos com uma rápida revisão, já que os textos jornalísticos tendem a não ser tão grandes.

O Jornalismo cidadão foi reforçado com o advento dos blogs e o microblog twitter, junto à possibilidade básica da troca de e-mails. O leitor está em condições de colaborar com a divulgação dos fatos enviando vídeos e fotos. A maioria dos sites jornalísticos é aberta à participação direta do internauta por meio de fóruns e enquetes. Com o twitter, postagens muitas vezes supositivas podem levar a notícias, dependendo do trabalho de apuração. As possibilidades são inúmeras e cabe ao profissional da imprensa ter bom senso para interpretar os acontecimentos na web.

Conforme coloca a autora, muito já foi feito na comunicação dentro da internet, e todos os dias surgem inovações e novos caminhos. O que certamente sintetiza um mundo em cada vez mais acelerada evolução

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 15/04/2010
Código do texto: T2198231
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