Metodologia do trabalho científico

Livro: "Metodologia do Trabalho Científico" de Antônio Joaquim Severino. São Paulo: Cortez, 2007.

O autor, docente da Faculdade de Educação da USP, aborda de modo claro e objetivo as técnicas e recursos sobre a metodologia de estudos e de trabalhos científicos. Muito agradável de se ler, a postura adotada pelo autor sobre a natureza da educação superior e, mais geralmente, a educação, convence e nos leva a fazer coro com seus pensamentos.

Sobre a universidade:

A educação superior tem como objetivos: capacitação profissional, formação científica e formação política. A capacitação profissional habilita o estudante a exercer plenamente a sua futura função através da assimilação e domínio das técnicas pertinentes a sua área de conhecimento. A formação científica se dá através de um trabalho sistemático de estudo e construção do conhecimento (este é o tema principal do livro). A formação política se faz necessária para que o estudante tenha uma consciência histórico-social. Em que país vive e qual a sua realidade social? É imprescindível a preocupação da universidade com a construção da cidadania no indivíduo, sempre orientada por uma visão de uma sociedade democrática.

A universidade se sustenta por uma tríplice base: ensino, pesquisa e extensão. A articulação destes três pilares é o que permite a universidade cumprir o seu papel com qualidade. Configura-se um erro pensar que a universidade pode ter apenas o ensino como finalidade, vendo o conhecimento não como um processo, mas como um produto, o professor como sujeito (ativo) e o estudante como objeto (passivo). O processo pedagógico ensino-aprendizagem só acontece quando sustentado por uma atitude investigativa (pesquisa) tanto pelo professor quanto pelo estudante. Quanto a extensão, esta é o retorno à sociedade de um investimento feito por ela à universidade, buscando-se a integração de ambas.

Sobre a leitura de textos:

"A aprendizagem, em nível universitário, só se realiza mediante o esforço individualizado e autônomo do aluno". (pg. 38)

Autor > mensagem (pensamento) > codificação > interferências culturais e pessoais > código (texto) > decodificação > interferências culturais e pessoais > mensagem (pensamento) > Leitor

1) Delimitação da unidade de leitura - a unidade de leitura pode ser um capítulo, artigo, resenha etc. que tenha um sentido completo. A assimilação dos conteúdos estudados precisa ser qualitativa e inteligentemente seletiva, dada a complexidade e o vasto acervo bibliográfico existente.

2) Análise textual - procuramos aqui apreender o sentido geral do texto, sanando as dúvidas de vocabulário e conceitos desconhecidos.

3) Análise temática - pergunta-se: de que se trata o texto? Qual o assunto? Qual o problema levantado e a tese defendida pelo autor, bem como a argumentação e o raciocínio por ele adotado?

4) Análise interpretativa - Qual a sua posição em relação às proposições e conclusões do autor? A crítica, aqui, depende muito da maturidade intelectual.

5) Problematização - Levantamento de dúvidas e problemas para possíveis discussões em grupo ou reflexões.

6) Síntese - reelaboração da mensagem do autor com base na reflexão pessoal.

Teoria e prática científica:

Podemos dividir em três partes o trabalho científico: epistemologia, metodologia e técnica. A epistemologia do trabalho científico é a base da metodologia e técnica. Se faz necessário adotar um paradigma epistemológico (positivismo, funcionalismo, hermenêutica, estruturalismo, fenomenologia, arqueogenealogia, dialética), ou seja, define-se como se irá conceber a natureza e o processo de construção do conhecimento implicando, por sua vez, em uma metodologia e técnica adequadas. A metodologia pode ser: quantitativa, qualitativa, participante, pesquisa-ação, estudo de caso, documental, experimental, de campo, exploratória, explicativa etc). As técnicas são: documentação, entrevistas, histórias de vida, observação, questionário.

O autor indica bibliografias valiosas sobre epistemologia e metodologia.

Orientações sobre a pós-graduação:

"Quaisquer que sejam as distinções que se possam fazer para caracterizar as várias formas de trabalhos científicos, é preciso afirmar preliminarmente que todos eles têm em comum a necessária procedência de um trabalho de pesquisa e de reflexão que seja pessoal, autônomo, criativo e rigoroso." (pg. 214)

"A escolha de um tema de pesquisa, bem como a sua realização, necessariamente é um ato político. Também, neste âmbito, não existe neutralidade. Ressalte-se que o caráter pessoal do trabalho do pesquisador tem uma dimensão social, o que confere o seu sentido político. Esta exigência de uma significação política englobante implica que, antes de buscar-se um objeto de pesquisa, o pós-graduando pesquisador já deve ter pensado no mundo, indagando-se criticamente a respeito de sua situação, bem como da situação de seu projeto e de seu trabalho, nas tramas políticas da realidade social. Trata-se de saber bem, o mais explicitamente possível, o que se quer, o que se pretende no mundo dos homens." (pg. 215)

"Não há lugar, neste nível, para o espontaneísmo, para o diletantismo, para o senso comum e para a mediocridade." (pg. 218)

"A contribuição do orientador será tanto mais enriquecedora, quanto mais informado e problematizado estiver o orientando, quanto mais alto for o nível de provocação intelectual suscitada pelo orientando. Por isso, antes de procurar seu orientador, o pós-graduando deve estudar e aprofundar suas propostas iniciais, mediante leitura, seminários, debates, até que devidamente instrumentado consiga amadurecer um projeto, elaborando-o por escrito. Só então cabe iniciar sua discussão com o orientador." (pg. 235)

O orientando não deve procurar o orientador esperando deste uma atitude paternalista, mas deve expressar autonomia e mostrar a que veio. A relação orientando-orientador é educativa e essencialmente dialógica.

Reflexão: a sistematização do estudo e do processo do trabalho científico sem dúvida nenhuma é fundamental para a aprendizagem eficaz em qualquer nível, mas prioritariamente na educação superior. Há, no entanto, outros pontos a serem considerados na vida universitária, tais como: relações interpessoais, amizade, lazer, esporte, afetividade, sentimento, intuição e religiosidade. O autor não aborda tais questões, centralizando a vida universitária no ensino, pesquisa e extensão.

Janeiro de 2009