O PODER DA ÂNCORA

““ Não adianta nem tentar me esquecer,
Durante muito tempo em sua vida,
Eu vou viver.
Detalhes tão pequenos de nós dois,
São coisas muito grandes p’ra esquecer,
E a toda hora vão estar presentes,
Você vai ver.”
                                              Roberto Carlos


Tudo que fazemos ou sentimos é fruto de um determinado processamento neurológico, que é igual à nossa capacidade de aprendizagem. Não há pensamento nem sentimento sem uma causa que o provoque. Pergunte a você mesmo o que é que o faz ficar com vontade de comprar alguma coisa; pergunte-se o que o faz escolher este ou aquele modelo de carro, este ou aquele tipo de roupa, esta ou aquela pessoa para namorar. Somente a aparência externa? O prazer que lhe causa a escolha? Certamente que não. São as representações internas do produto ou da pessoa, que são montadas em sua mente. São as neuroassociações que você faz entre eles e os estados psíquicos que lhe dão prazer.
Toda visão, som ou cinestesia formam representações internas em nossas mentes. Imagens de coisas que vemos no dia a dia, na vida real, no cinema, nas revistas, imagens que formamos através dos livros que lemos, das conversas que mantemos, dos sons que ouvimos, das coisas que tocamos, dos alimentos que provamos, etc.
Um som, uma voz que ouvimos, forma em nossa mente uma imagem auditiva interna; se o que mais nos impressiona é o tom, dizemos que a imagem é auditiva tonal; se são as palavras que se destacam, a imagem auditiva é digital.
Quando destacamos uma textura, uma sensação tátil externa, dizemos que estamos formando uma imagem cinestésica externa; se algo, um movimento, um toque, nos faz sentir bem ou mal, temos uma imagem cinestésica interna. Essas imagens, externas ou externas, também se relacionam com paladares e aromas.
A cada vez que vemos, ouvimos ou sentimos alguma coisa e processamos essa informação, atribuindo-lhe um significado, estamos instalando um “programa” em nosso sistema neurológico. Esse “programa” será acessado quando ocorrer o estímulo que o evoca. Esse estímulo é o que chamamos, em PNL, de âncora.
Quando disparamos essa âncora, o sistema neurológico recupera o estado emocional associado à experiência original e coloca o nosso organismo em condição de senti-la novamente. Então o sistema nervoso emite a resposta que está “programada” para esse estímulo.

A nossa mente desenvolve naturalmente diversas estratégias (programas) para todas as respostas que precisa dar à vida. O problema é que a maioria delas é inconsciente. Não sabemos ( ou não perguntamos), porque agimos de uma forma e não de outra. Por que temos vontade de fazer isto e não aquilo.
Dessa forma, somos levados a experimentar diversos estados de ânimo, sem ao menos atinar com a razão deles. Esses estados foram ancorados em nosso sistema neurológico em algum momento de nossas vidas. E se eles afloram, é por que alguma coisa os detonou. È certamente uma âncora que foi disparada sem que tivéssemos se apercebido do que a fez disparar.
Âncoras são estímulos sensoriais – imagens, sons ou cinestesias – que a nossa mente utiliza para acessar um programa neurológico. Tome-se, por exemplo, a música de Roberto Carlos “ Detalhes”, citada na abertura deste texto. Toda a letra dessa bela obra musical é composta de âncoras. A velha calça desbotada, o ronco do carro, os cabelos longos do rapaz, o toque no corpo da moça, o retrato na moldura, etc. são âncoras visuais, auditivas e cinestésicas que detonam estados internos de intensa emoção em determinada pessoa, referida pelo artista.
Em PNL, ancoragem se refere ao processo natural pelo qual qualquer elemento de uma experiência sensitiva (que é um componente da modalidade sensorial utilizada para codificar a experiência) pode recriar, em nossa fisiologia, a experiência inteira. Em outras palavras, é um gatilho que, quando disparado, aciona o sistema neurológico e nos leva ao estado interno que está associado àquela experiência.
A âncora é uma ferramenta de PNL, criada a partir das descobertas feitas pela psicologia behaviorista experimental. Suas raízes estão nos trabalhos feitos por Pavlov, com os reflexos condicionados dos animais. Em suas experiências com a PNL, Bandler e Grinder descobriram que nos seres humanos, a maioria desses reflexos é gerada de forma inconsciente, razão pela qual foram chamados de âncoras. (Aquele lastro do navio que fica submerso para segurá-lo quando está fundeado no porto).
Âncoras, de forma geral, são estímulos externos que acionam comportamentos. O despertador toca, isso nos diz que devemos levantar; o apito da fábrica significa que é hora de começar a trabalhar; a sirena da ambulância ou do corpo de bombeiros indica que ocorreu algum acidente, o sinal vermelho no trânsito nos diz que devemos parar o carro, um olhar reprovador de alguém significa que não estamos nos comportando de acordo com o padrão exigido pelo ambiente, etc.
Símbolos visuais, palavras, amuletos, preces, sensibilidades (meu calo dói, vai chover), podem constituir âncoras positivas ou negativas. Quem nunca viu um artista ou esportista de renome beijar a medalhinha depois de um sucesso, quem nunca viu alguém dizendo uma palavra-senha, uma prece, recitando um mantra, etc. antes de começar a fazer alguma coisa?

Já vimos que todos os nossos estados internos nos são sugeridos pelas mensagens que impressionam o nosso sistema neurológico. A intensidade dessa impressão nem sempre é percebida inteiramente pela consciência.
Ninguém acorda pela manhã com esta ou aquela disposição de espírito sem que esse estado tenha sido provocado por alguma causa. Todos os nossos humores nos são sugeridos por algum tipo de atividade neuroassociativa. Às vezes pode ser um sonho, um acontecimento que não conseguimos lembrar, uma palavra que foi dita no dia anterior, na qual não prestamos atenção, uma cor que vimos em determinada cena, uma música, um toque, um aroma, um sabor etc. Quando nossa mente acessa essa âncora, imediatamente o sistema nervoso emite uma determinada resposta.
A ancoragem pode se processar de forma consciente ou inconsciente. Uma imagem, um som, um toque, e logo estamos a experimentar determinado sentimento que, às vezes, não sabemos por que sentimos e nem de onde veio.
Sabendo como esses estados internos são ancorados em nosso sistema neurológico, poderemos trabalhar conscientemente para gerá-los e administrar a nossa vida emotiva. E, mais que isso, aprendendo a ancorá-los, estaremos adquirindo a habilidade necessária para desenvolver estratégias que nos ajudarão a desenhar para nós mesmos um gabarito psíquico tendente a olhar o mundo com olhos de oportunidade, o que significa desenvolver uma personalidade capaz de dar respostas mais eficientes à vida.

As aptidões físicas são extremamente influenciadas pela loteria genética, mas as qualidades de caráter, as diferenças de personalidade, que afinal, fazem a diferença entre os seres humanos não. As primeiras só podem ser melhoradas, mas as segundas são adquiridas por aprendizagem. Isso quer dizer que temperamento não é destino nem faz parte da herança genética que nossos antecessores nos deixaram.

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DO LIVRO À PROCURA DA MELHOR RESPOSTA- ED. 24X7- SÃ
O PAULO, 2009.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/07/2010
Reeditado em 02/07/2010
Código do texto: T2353659
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