ENCARCERAMENTO SOCIAL

Ao chegar a uma certa idade, as crianças ficam profundamente admiradas com a possibilidade de se localizarem no mapa. Essa localização do “eu” em configurações por estranhos, constitui um dos aspectos importantes daquilo que talvez eufimisticamente, é chamado de “crescer” – é por sua vez uma tentativa de ingresso na cosmovisão dos adultos. Nisto a criança sadia é aquela que acredita no que está registrado em sua ficha escolar. O adulto normal é aquele que vive dentro das coordenadas que lhes foram atribuídas. Aquilo a que se chama consenso geral é na verdade, o mundo dos adultos aceito como óbvio – a ficha escolar transformou numa ontologia; essa localização informa a um individuo aquilo que ele pode fazer e que pode esperar da vida. A pessoa age em sociedade dentro de sistemas cuidadosamente definidos de poder e de prestígio. E depois que aprende sua localização, passa também a saber que não pode fazer muita coisa para mudar a situação. Ademais existe uma consciência do “ele”, que exprime com bastante exatidão a heteronomia da vida de uma pessoa. Aspectos da perspectiva sociológica pode ser melhor esclarecidos pelo exame de duas importantes áreas de investigação – controle social e estratificação social. Controle Social refere-se aos meios usados por uma sociedade para “enquadrar” seus membros recalcitrantes. Nenhuma sociedade existe sem controle social. Os métodos de controle variam de acordo com a finalidade e o caráter do grupo em questão. Já o conceito de estratificação consiste ao fato de que toda sociedade compõe-se de níveis inter-relacionados em termos de ascendência e subordinação, seja em poder, privilegio ou prestígio. Em outras palavras toda sociedade possui um sistema de hierarquia. Tais estratificações são formadas por classes sociais. Max Weber definiu classe em termos das expectativas razoáveis que um indivíduo pode ter. Além disso, a situação social em que nos encontramos só é definida por nossos contemporâneos, como ainda pré-definida por nossos predecessores. É mais difícil nos livrar-mos de suas fatídicas heranças do que das tolices criadas em nossa própria geração. Este fato expresso no aforismo segundo o qual os mortos são mais poderosos que os vivos. Cabe lembrar os papeis sociais onde cada um dos estágios de suas relações recíprocas foi pré-definido, pré-fabricado – ou, se o feitor assim preferir “fixado”. No mais das vezes, podemos no máximo escolher entre o tipo A e o tipo B, tendo ambos sido pré-definidos a priori. A localização pré-determina e pré-define quase tudo o quase quanto fazemos, desde a linguagem até a etiqueta, desde as nossas convicções religiosas até a probabilidade de que venhamos a cometer suicídio. A sociedade, como fato objetivo e externo manifesta-se, sobretudo na forma de coerção. Suas instituições moldam nossas ações e até mesmo nossas expectativas. Recompensam-nos na medida em que nos ativermos aos nossos papéis. Se sairmos fora desses papéis, a sociedade dispõe de um numero quase infinito de meios de controle social. A sociedade nos precedeu e sobreviverá a nós. Nossas vidas não são mais episódios em sua marcha majestosa pelo tempo. Em suma, a sociedade constitui as paredes de nosso encarceramento na história.

REFERENCIAS:

BERGER, Peter L. perspectivas sociológicas: uma visão humanista. Petrópolis: vozes, 1986.

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 27/08/2010
Código do texto: T2462966
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