O QUE É RELIGIÃO?

PERSPECTIVAS

A ciência e a tecnologia avançaram triunfalmente, construindo um mundo em que Deus não era necessário como hipótese de trabalho. Na verdade umas das marcas do saber cientifico é o seu rigoroso ateísmo metodológico. E nos perguntamos à religião desapareceu? Ela permanece e freqüentemente exibe uma vitalidade que se julgava extinta. Mas não se pode negar que ela já não pode freqüenta aqueles lugares que um dia lhe pertenceram: foi expulso dos centros do saber cientifico e das câmaras onde se tomam as decisões que concretamente determina nossas vidas. É tão presente que hoje poucos pais sonham com a carreira sacerdotal para os seus filhos. A religião não se liquida com a abstinência dos atos sacramentais e a essência dos lugares sagrados, da mesma forma que o desejo sexual não elimina com os votos de castidade. O que concorrem com freqüência é que as mesmas perguntas religiosas do passado se articulam agora, travestidas, por meios de símbolos secularizados. Conclui não que o mundo se secularizou, mas que antes que os deuses e esperanças religiosos ganharam novos nomes e novos rótulos, e os seus sacerdotes e profetas, novas roupas, novos lugares e novos empregos.

A religião está mais próxima de nossa experiência pessoal do que desejamos admitir. O estudo da religião, longe de ser uma janela que se abre apenas para panoramas externos, é como um espelho em que nos vemos. Aqui a ciência da religião é também ciência de nos mesmo. Como diz Feuerbach, a religião é o solene desvelar dos tesouros ocultos do homem, a revelação dos seus pensamentos íntimos, a confissão aberta de seus segredos de amor.

OS SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA

Sendo o homem diferente dos demais animais, onde tem sua própria história, tem sua programação biológica que não é completa e fechada, como será e qual será seu estilo, quais seus ideais? Que valor lutará?. Não é o corpo que o faz e não tem a ultima palavra. O homem é capaz de cometer suicídio. Ou entregar seu corpo à morte, desde que dela um outro mundo venha a nascer, como o fizeram muitos revolucionários. Ou de abandonar-se à vida monástica, numa total renuncia da vontade, do sexo, do prazer da comida. A cultura, nomes que se dá a esses mundos que os homens imaginam e constroem. É necessário que diante disso, os mais velhos ensinem e repassem toda a cultura no seu dia-a-dia como é o mundo. No entanto não existe cultura sem educação. Às vezes nos perguntamos porque razão os homens fazem cultura? A tradição filosófica fez grandes esforços no sentido de demostrar que o homem é um ser racional, ser de pensamento, mas as produções culturais que saem de suas mãos sugiram, ao contrário, que o homem é um ser de desejo. Desejo é sintoma de privação, de ausência. Não se tem saudade do bem-amado presente. É sempre assim com o desejo. Desejo pertence aos seres que se mantêm privados, que não encontram prazer naquilo que o espaço e o tempo presente lhes oferecem. É compreensível, portanto, que a cultura não seja nunca a reduplicação da natureza. Porque o que a cultura deseja criar é exatamente o objeto desejado. A atividade humana, assim, não pode ser compreendida como uma simples luta pela sobrevivência que, uma vez resolvida, se dá ao luxo de produzir o supérfluo. A sugestão que vem da psicanálise é de encontrar um mundo que possa ser amado. Há situações em que ele pode plantar jardins e colher flores. Há outras situações, portanto, de impotência em que os objetos do seu amor só existem através da magia da imaginação e do poder milagroso da palavra. Junta-se assim, o amor, o desejo, a imaginação, as mãos e os símbolos, para criar um mundo que faça sentido, que esteja em harmonia com os valores do homem que o constrói. E quando o desejo não se realiza, resta cantá-lo, dizê-lo, celebrá-lo, escrever-lhe poemas, compor-lhe sinfonias, anunciar-lhe celebrações e festivais. E a realização da intenção da cultura se transfere então para a esfera dos símbolos. E é aqui que surge a religião, teia de símbolos, rede de desejo, confissão da espera, horizonte dos horizontes, a mais fantástica e pretensiosa tentativa de transubstanciar a natureza. O sagrado não é uma eficácia inerente às coisas. Ao contrario, coisas e gestos se tornam religiosos quando os homens os batizam como tais. A religião nasce com o poder que o homem têm de dar nomes às coisas, fazendo uma discriminação entre coisas de importância secundaria e as coisas nas quais seu destino, sua vida e sua morte se dependuram. Quando entramos no mundo sagrado, entretanto, descobrimos que uma transformação se processou. Porque agora a linguagem se refere às coisas invisíveis, coisas para além dos nossos sentidos comuns que, seguindo a explicação, somente os lhos da fé podem contemplar. O zen-budismo chega mesmo a dizer que a experiência da vida religiosa, satóri, é um terceiro olho que se abre para as coisas que os outros dois não podem ver.

O sagrado se instaura ao poder do invisível. E é ao invisível que a linguagem religiosa se refere ao mencionar as profundezas da alma, as alturas dos céus, o desejo do inferno, os fluidos e influências que curam o paraíso, as bem-aventuranças e o próprio Deus. Bem que teríamos de nos perguntar acerca do poder mágico que permite que os homens falem acerca daquilo que nunca viram. E a resposta é que, para a religião, não importa os fatos e as presenças que os sentidos podem agarrar. Importam os objetos que a fantasia e a imaginação podem construir. Fatos não são valores: presenças que não valem o amor. O amor se dirige para as coisas que ainda não nasceram. Vivem do desejo e da esperança. E é justamente ai que surge a imaginação e a fantasia, “encantações destinadas a produzir... a coisa que se deseja...” (Sartre). Concluímos, assim, com honestidade, que as entidades religiosas são entidades imaginárias. De fato, aprendemos desde muito cedo a identificar a imaginação com aquilo que é falso. Parece que a imaginação é um engano que tem de ser erradicado. Que a imaginação seja subordinada à observação! Que os fatos sejam valores! Que o objeto triunfe sobre o desejo. Não estou dizendo que a religião é apenas imaginação. Mas estou sugerindo que ela tem o poder, o amor e a dignidade do imaginário. Portanto, ao afirmar que a entidade religiosa pertence ao imaginário. Estou apenas estabelecendo sua filiação e reconhecendo a fraternidade que nos une. Passamos então ao homem, que não sobrevive por meio de artifícios de adaptação física, pois ele cria cultura e, com ele as redes simbólicas da religião.

É verdade que os homens não vivem só de pão. Vivem também de símbolos, porque sem eles não haveria ordem, nem sentido para a vida, e nem vontade de viver.

O EXÍLIO DO SAGRADO

Todos os símbolos que são usados com sucesso experimentam esta metamorfose. Deixam de ser hipótese de imaginação e passam a ser tratadas como manifestação da realidade. Certos símbolos derivam o seu sucesso do seu poder para congregar o homem, que usa para definir sua situação, e articular um projeto comum de vida. No processo histórico do qual nossa civilização se formou, recebemos uma herança simbólica - religiosa, a parte de duas vertentes. De um lado, os hebreus e os cristãos. Do outro, as tradições culturais dos gregos e dos romanos. Não conhecemos nem uma época que lhe possa ser comparada. Porque ali os símbolos do sagrado adquiriram uma densidade, uma concretude e uma onipresença que fazia com quer o mundo invisível estivesse mais próximo e fosse mais sentido que as próprias realidades materiais. Nada acontecia que não fosse pelo poder do sagrado, e todos sabiam que as coisas do tempo estão iluminadas pelo esplendor e pelo terror da eternidade. Todas as coisas tinham seus lugares apropriados, numa ordem hierárquica de valores, porque Deus assim tinha arrumado o universo, sua casa, estabelecendo guias espirituais e imperadores, no alto, para exercer o poder e usar a espada, colocando lá em baixo a pobreza e o trabalho no canto de outros. Tudo girava em núcleo central, matemática que unifica todas as coisas: o drama da salvação, o perigo do inferno, a caridade de Deus levando para os céus as almas puras. Se o universo havia saído, por um ato de criação pessoal, das mãos de Deus – e era inclusive possível determinar com precisão a data de evento tão grandioso – e se Ele continuava, pela sua graça, a sustentar todas as coisas, concluía-se que tudo, absolutamente tudo, tinha um propósito definido.O homem medieval desejava contemplar e compreender. Sua atitude era passiva, receptiva. Agora a necessidade de riqueza, inaugura uma atitude agressiva, ativa, pela qual a nova classe se apropria da natureza, manipula-a, controla-a, força-a a submeter-se às suas intenções, integrando-se na linha que vai das minas e de campos às fabricas, e destas aos mercados. A condenação do sagrado era exigida pelo interesse da burguesia e o avanço da secularização. Basta abrir os jornais e tomar ciência das tensões entre Igreja e Estado, Igreja e interesses econômicos. A argumentação é a mesma. As idéias se repetem. Que a religião cuide das realidades espirituais, que das coisas matérias à espada e o dinheiro se encarrega!

Conhecer é saber o funcionamento. E quem sabe o funcionamento tem o segredo da manipulação e do controle. E assim que esse tipo de conhecimento abre o caminho da técnica, fazendo a ligação entre a universidade e a fabrica, a fabrica e o lucro. A distancia nos encontramos da ciência medieval que se perguntava a cerca da finalidade das coisas e buscava ouvir harmonias e vislumbrar propósitos divinos nos acontecimentos do mundo! O conhecimento só nos pode chegar através da avenida do método cientifico. Foi estabelecido um quadro simbólico, onde não havia lugar para a religião. Foi identificado com o passado, o atraso, a ignorância de um período negro da história, Idade das trevas, e explicada como comportamento infantil de povos e grupos não evoluído. Opondo-se a esse quadro sinistro, um futuro luminoso de progresso, riqueza e conhecimento cientificam. Como dizia Rickert, com o triunfo da burguesia Deus passou a Ter problemas habitacionais crônicos. Despejado de um lugar, despejado de outro. Progressivamente foi empurrado para fora do mundo. Para que os homens dominem a terra é necessário que Deus esteja confinado aos céus. A religião foi aquinhoada com a administração do mundo invisível, o cuidado da salvação, a cura das almas aflitas. As pessoas continuam a Ter noites de insônias e a pensar sobre a morte. E os comerciante e banqueiros também têm alma, não lhe bastão a posse da riqueza, sendo-lhes necessário sobre plantar sobre ele também as bandeiras do sagrado. Querem Ter a certeza de que a riqueza foi merecida, e buscam nela os sinais do favor divino e a cercam de confissões de piedade. E também os operários e camponeses possuem almas e necessitam ouvir as canções do céu a fim de suportar as tristezas da terra,. E sobreviveu o sagrado como religião dos oprimidos.

A COISA QUE NUNCA MENTE

Com a revolução sociológica, ocorreu mudança radical de perspectivas, e um novo mundo de compreensão da religião se instaura com a afirmação: “considere os fatos sociais como se fossem coisas.” No comentário de Durkheim: “Diz-se que a ciência, em principio, nega a religião. Mas a religião existe. Constitui-se num sistema de fatos dados. Em uma palavra: ela é uma realidade. Como poderia a ciência negar tal realidade?” Ora, se a religião é um fato, os julgamentos de verdade e de falsidade não pode ser a ela aplicados. O que são as religiões? À primeira vista nos espantamos com a imensa variedade de ritos e mitos que nelas encontramos o que nos faz pensar que talvez seja impossível descobrir um traço comum a todas. As religiões, sem exceção alguma, estabelecem uma divisão bipartida do universo inteiro, que se racha em duas classes nas quais está contido tudo o que existe. E encontramos assim o espaço das coisas sagradas e, delas separadas por uma série de proibições, as coisas seculares ou profanas. O critério da utilidade retira das coisas e das pessoas todo o valor que eles possam ter, em si mesmas, e só leva em consideração a elas podem ser usadas ou não. Ninguém tem nada a ver com suas ações. Na medida em que avança o mundo profano e secular, assim avança também o individualismo e o utilitarismo. O indivíduo não é mais o centro de coisa alguma e se descobre totalmente dependente de algo que lhe é superior (Schleiermacher). O sagrado é o criador, a origem da vida a fonte da força. Vão-se os critérios utilitários. O homem não mais é o centra do mundo, nem a origem das decisões. O sagrado é o centro do mundo, a origem da ordem, a fonte das normas, a garantia da harmonia. Para Dukheim a sociedade é o Deus que todas as religiões adoram, ainda que de forma oculta, escondida aos lhos dos fiéis. Assim, “esta realidade, representadas pelas mitologias de tantas formas diferentes, e que é a causa objetiva, universal e eterna das sensações sui generis com as quais a experiência religiosa é feita, é a sociedade”. A essência da religião não é a idéia, mas a força. O sagrado não é um círculo da saber, mas um círculo de poder. Dukheim percebe que a consciência do sagrado só aparece em virtude da capacidade humana para imaginar, para pensar um mundo ideal. A religião pode se transforma. Mas nunca desaparecerá. E ele concluiu reconhecendo um vazio e anunciando uma esperança: “os velhos deuses já estão avançados em anos ou já morreram, e outros ainda não nasceram”.

AS FLORES SOBRE AS CORRENTES

Para Marx, o paraíso perdido não existe porque acredita não ter. Mas dirige seu olhar para os horizontes futuro e espera a vinda de uma cidade santa, de transfiguração erótica do corpo. É o homem que faz a religião; a religião não faz o homem. Quem é esse homem que produz a religião? Ele é um corpo, corpo que tem de comer, corpo que necessita de roupa e habitação, corpo que se produz, corpo que tem de transformar a natureza, trabalhar, para sobreviver. Mas o corpo não existe no ar. Não encontramos de forma abstrata e universal. Para Marx aqui se encontra a contradição máxima do capitalismo: o capitalismo cresce graças a uma condição que torno o conflito entre trabalhadores e patrões inevitável. O problema não de natureza moral nem de natureza psicológica. Nenhum salário, por mais alto que seja, eliminará a alienação. E é aqui que aparece a religião, em parte para eliminar os cantos escuros do conhecimentos. Mas, pobre dela... Ela mesmo não vê. Como pretende iluminar? Iluminar com ilusões que consolam os fracos e legitimações que consolidam os fortes. A religião, “expressão de sofrimento real, protesto contra um sofrimento real, suspiro da criatura oprimida, coração de um mundo sem coração, espírito de uma situação sem espírito”. E, desta forma, as palavras que brotam do sofrimento se transformam, elas mesmas, no bálsamo provisório para uma dor que ele é impotente para curar. E é por isso que é ópio, “felicidade ilusória do povo”. Marx antevê o fim da religião. Ela só existe numa situação marcada pela alienação. Portanto, “Marx foi o único que compreendeu que uma religião que não invoca a transcendência deveria ser chamada de política.”

A VOZ DO DESEJO

Somos seres atormentados por uma guerra interna sem fim, chamada neurose, na qual somos nossos próprios adversários. É que tais desejos são muitos fortes. Entretanto, a psicanálise afirma que, se é verdade que a essência da sociedade é a repressão do indivíduo, a essência do indivíduo é a repressão de se mesmo. Somos incapazes de ser felizes. Não somos o que desejamos ser. O que desejamos ser jaz reprimido... E é justamente ai, diria Feuerbach, que se encontra a essência do que somos. Somos nosso desejo, desejo que não pode florescer. Mas, o pior de tudo, como Freud observa, é que nem sequer temos consciência do que desejamos. Não sabemos o que queremos ser. Não sabemos o que desejamos e porque o desejo, reprimido, foi forçado a habitar as regiões do esquecimento. Tornou-se inconsciente. Os sonhos são as vozes do desejo. E é aqui que nasce a religião, como mensagem do desejo, expressão de nostalgia, esperança de prazer... Freud estava convencido de que somos desejos, por mais fortes que tossem estavam condenados ao fracasso. E isso porque a realidade não foi feita para atender aos desejos do coração. Deus é esse coração fictício que o desejo inventou, para tornar o universo humano e amigo. E então a própria morte perdeu o seu caráter ameaçador. As religiões são, assim, ilusões que tornam a vida mais suave. É por detrás dos mitos e ritos, cerimônias mágicas e benzeções, procissões e promessas, podemos percebe os encontros, ainda que tênues, do homem que espera uma nova terra, um novo corpo. E os seus sonhos religiosos se transformam em fragmentos utópicos de uma nova ordem a ser construída.

O DEUS DOS OPRIMIDOS

Instaurou com os profetas um novo tipo de religião, de natureza ética e política, e que entendia que as relações dos homens com Deus têm de passar pelas relações dos homens, uns com os outros. Daí a necessidade de separar o Deus em cujo nome falava que era o Deus dos oprimidos, e que despertava a esperança e apontava para um futuro novo, dos ídolos dos opressores, que tornavam as pessoas gordas, pesadas, satisfeita consigo mesmas, enraizadas em sua injustiça e cegas para o julgamento divino que se aproximava. O que restou como história, foram os relatos que a religião triunfante, mãos dadas com os conquistadores, fez de si mesma e daquele que foram esmagados. E, assim, em nossa memória restou apenas a religião dos fortes, dos vencedores, juntamente aquela que os profetas denunciaram. Quanto à religião dos profetas, ela continua emergindo aqui e ali. Mas aqueles que empunharam suas esperanças foram derrotados. E, para efeitos práticos, foi como se tal religião nunca estivesse existido. Foi então que uma serie de fatores coincidentes permitiu que se reconstruísse a perdida visão profética da religião como instrumentos de libertação dos oprimidos. Os fracos exigem a mudança, se não com sua voz, por medo, pelo menos seus sonhos. O sofrimento prepara a alma para a visão (Buber). E dos pobres e oprimidos brotam as esperanças – tal como aconteceu com os profetas hebreus - de um futuro que eles herdarão a terra. Reencontramos-nos no mundo dos profetas em que a religião aparece com toda a sua ambivalência política: os sonhos dos poderosos eternizam o presente e exorcizam um futuro novo: os sonhos dos oprimidos exigem a dissolução do presente para que o futuro seja realização do Reino de Deus, não importa o nome que se lhe dê.

A APOSTA

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Todas as ciências, sem exceção, são obrigadas a um rigoroso ateísmo metodológico: demônios e deuses não podem ser invocados para explicar coisa alguma. Tudo se passa, no jogo da ciência, como se Deus não existisse. Teríamos certezas sobre as coisas que amamos e que vemos, com certeza, envelhecer, decair, sumir... Ah! Se pudéssemos ficar grávidos de deuses... E é assim que passamos para um outro mundo em que a falta não está subordinada aos olhos, mas ligada ao coração. É que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. A religião fala sobre o sentido da vida. Ela declara que vale a pena viver. Que é possível ser feliz e sorrir. E o que todas elas propõe é nada mais que uma série de receitas para a felicidade. Aqui se encontra a razão por que as pessoas continuam a ser fascinadas pela religião. A religião diz: “o universo interior faz sentido”. Ao que a ciência recruta: “as pessoas religiosas sentem e pensam que o universo interior faz sentido”. Afirmar que a vida tem sentido é propor a fantástica hipótese de que o universo vibra com os nossos sentidos, sofre a dor dos torturados, chora as lágrimas dos abandonados, sorri com as crianças que brincam...Tudo está ligado. Convicção de que, por detrás das coisas visíveis, há um rosto invisível que sorri, presença amiga, braços que abraçam, como na famosa tela de salvador Dali. E é esta crença que explica os sacrifícios que se oferecem nos altares e as preces que se balbuciam na solidão. A experiência religiosa, assim, depende de um futuro. Ela se nutre de horizontes utópicos que os olhos não viram e que só podem ser contemplados pela magia da imaginação. Deus e o sentido da vida são ausências, realidade por que se anseia dádiva da esperança. De fato, talvez seja esta a grande marca da religião. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch: “onde está a esperança ali também está a religião”.

Resenha do livro o que é religião.

Referencia:

ALVES, Rubem. O que é Religião? São Paulo. Ed. Loyola. 5º edição. 2003.

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 28/08/2010
Código do texto: T2465320
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