PLANO DE ATAQUE

O "livro oficial" dos ataques terroristas de 11 de setembro.

por Rogério Beier

Um dos grandes "booms" editoriais do momento no Brasil, Plano de Ataque é o livro que reconstitui os atentados terroristas que abalaram os Estados Unidos da América em 11 de setembro de 2001. Recém lançado pela editora Objetiva, Plano de Ataque surge cinco anos após o êxito da Operação Aviões, como os ataques foram batizado pelos terroristas, em um momento que coincide justamente com os recentes lançamentos de Holywood, o que mostra uma grande visão estratégica da editora.

O autor do livro é Ivan Sant’Anna, carioca, piloto amador, ex-operador da bolsa de valores e sujeito fascinado por aviação. É dele também a autoria de outro best-seller sobre o tema, intitulado Caixa-preta, que trata sobre três grandes acidentes aéreos ocorridos no Brasil.

Para elaborar Plano de Ataque, Ivan realizou pesquisas nas mais diversificadas fontes durante três anos. Além de pesquisar em tudo o que foi publicado em jornais, revistas, TV e Internet, teve acesso aos registros das "caixas-pretas" que resistiram aos impactos; ao relatório da comissão independente de investigação sobre o 11 de setembro e entrevistou parentes, amigos e sobreviventes dos ataques, formando uma grande massa documental que o permitiu reconstituir muito do que se passou, não só no dia 11 de setembro, mas antes, quando da elaboração do plano de ataque aos Estados Unidos elaborado pelos terroristas.

O grande mérito de Ivan Sant’Anna, é trazer ao público brasileiro toda esta informação dos "bastidores" dos ataques. Através do livro conhecemos não apenas a cobertura da mídia sobre o caso, mas nos aprofundamos um pouco mais nas origens do time que planejou os ataques, conhecemos detalhes sobre as vidas dos homens que seqüestraram os aviões, como viviam, o grau de escolaridade, suas relações sociais e como foram arregimentados pela Al-Qaeda a participarem daquele que seria o maior ataque terrorista aos Estados Unidos. Além disso, o livro também conta com mapas traçando a rota que os aviões deveriam fazer e aquela que fizeram depois de seqüestrados, traz as transcrições de gravações das ligações feitas pelos passageiros dentro dos aviões e a reconstituição dos últimos momentos de cada vôo, especialmente o vôo 93, que foi ao chão antes de atingir o seu alvo, a Casa Branca.

Apesar dessas vantagens, o livro apresenta alguns pontos fracos, sendo o maior deles o fato do autor induzir seus leitores à conclusão de que a motivação por trás do 11 de setembro foi religiosa, quando já ficou demonstrado por muitos analistas políticos, como Noam Chomsky, por exemplo, que as reais motivações por trás dos ataques estão muito mais ligadas à política externa e interesses econômicos estadunidenses do que com a religião e o "amor à liberdade" desse povo. Repetir esse mantra é como se coadunar com a "imprensa marrom" daquele país, alienando a opinião pública e promovendo preconceitos contra seguidores de uma religião, estereotipando-os e fazendo deles as verdadeiras vítimas dos ataques de 11 de setembro, retroalimentando o ódio entre cristãos e muçulmanos.

Outro problema em Plano de Ataque é que ele tem uma vocação evidente de ser o "livro oficial", no Brasil, dos ataques de 11 de setembro. Não só se alinha com o discurso do governo estadunidense de que fora o ódio religioso dos muçulmanos contra os Estados Unidos e contra o "american way of life" que motivaram os ataques, mas também reforça uma mensagem de repúdio contra os muçulmanos e árabes, estereotipados nos terroristas, ao buscar emocionar o leitor com as histórias de vida de muitos dos que morreram no ataque. O livro busca promover, intencionalmente, um sentimentalismo no leitor visando levá-lo para o lado oposto do real problema por trás dos ataques terroristas, resumindo-o na questão maniqueísta do "bem contra o mau". Em nenhum momento o autor faz referências ao morticínio de civis provocado pela política externa estadunidense após a primeira guerra do golfo, em nenhum momento ele se refere aos mortos de Al-Shifa ou a outros casos nos quais o governo do Tio Sam é responsável direto pela morte e sofrimento de civis árabes. Limita-se tão somente a ser o porta-voz do governo estadunidense no Brasil, alienando ainda mais a opinião pública brasileira.

Portanto, fazendo o balanço final dos prós e contras deste livro, faço a recomendação da leitura de Plano de Ataque, mesmo que seja apenas para entender os mecanismos da propaganda estadunidense , já infiltrada nos escritores, jornalistas e cineastas do mundo inteiro, cumprindo seu papel de repetir ao mundo inteiro incessantemente uma mentira, até que esta se torne uma verdade absoluta e mundial.

LIVRO: Plano de Ataque

AUTOR: Ivan Sant’Anna

Editora: Objetiva

Lançamento: 2006

Avaliação: 3 estrelas (regular)

Roger Beier
Enviado por Roger Beier em 04/10/2006
Reeditado em 04/10/2006
Código do texto: T256132