A paz existe quando o espírito encontra com o corpo.
                                                                           Fausto Wolff.
 

          Mário Quintana escreveu que um bom poeta é aquele que lê o leitor. Este a meu ver é um conceito limitado. O bom poeta seria então aquele escrevinhador de poesia sensorial, aquele provocador de sensações como um Álvaro de Campos. Então bastaria a Fernando Pessoa ter este heterônimo para ser um bom poeta? Claro que não! Outros Pessoas se desdobraram em heterônimos para o poeta do Tejo ser o poeta maior que é. O bom poeta, pensei, é aquele que lê e inscreve no leitor. Alexandre Moraes, em seu livro Preparação para o exercício da chuva, escreveu: “Nós somos aqueles que conseguiram não se ausentar.” Essa frase ficou inscrita em mim como uma redefinição do ser. Mas isso ainda não bastava para mim, não bastava para eu saber o que era um bom poeta. Muitos filmes, alguns romances, alguns contos, os ensaios de Montaigne, haviam provocado em mim sentimentos que a poesia e os bons poetas e mesmo os poetas maiores não haviam conseguido provocar.
Talvez a poesia pura conseguisse isso. O romance nasceu da poesia, mas nunca vivera, antes de ler Almádena de Mariana Ianelli, um romance em relação a um livro de poesia. Ler Almádena para mim foi viver uma estória de amor, estória sem enredo, sem premonições em relação ao fim, porque a obra de Mariana Ianelli vem a provocar neste leitor, já li também seu livro Fazer silêncio e tenho outro na fila, um amor infinito.
Desde Cecília Meireles, não surgia na poesia brasileira um poeta com lirismo tão poderoso quanto o dela. Mariana Ianelli veio preencher este vazio. Cecília Meireles chegou a ser considerada a namoradinha do Brasil. A puerilidade dessa pecha desmoronou com o tempo e, ao surgir no cenário das letras uma poeta como Mariana Ianelli, podemos dizer que todos os amantes e as amantes da poesia teem uma poeta brasileira para se apaixonarem, e, ao se apaixonarem, não terem medo de estarem vivendo uma ilusão. Sim, a leitura da obra de Mariana Ianelli é apaixonante, e como só o amor nos amadurece, a poesia de Mariana Ianelli causa um efeito sentimental em quem a lê de verdade. Então o bom poeta passa a ser o que lê o leitor, inscreve no leitor e é lido pelo leitor como alguém essencial, como alguém sem quem não podemos mais viver, como alguém que transcende o leitor por sua poesia possuir uma mística.
Robert de Souza, em Um débat sur la Poésie, tenta resumir o pensamento do Abade Brémond sobre poesia pura em seis itens:
1)                                 Todo poema deve suas características poéticas essenciais a uma espécie de realidade unificadora e misteriosa;
2)                                 Não basta, nem é necessário, ler poeticamente um poema para captar-lhe o sentido, uma vez que existe certo encantamento obscuro e independente do significado das palavras;
3)                                 Poesia não se pode reduzir a um discurso prosaico, pois constitui um meio de expressão que ultrapassa as formas comuns da prosa;
4)                                 Poesia é uma espécie de música e ao mesmo tempo não é apenas música, pois age como uma espécie de condutor de corrente pela qual se transmite a natureza íntima da alma;
5)                                 É a encantação que proporciona a comunicação inconsciente do estado de alma em que se encontra o poeta até que se manifesta por ideias e sentimentos, momento esse que se revive confusamente lendo o poema;
6)                                 A poesia é uma espécie de magia mística semelhante ao estado de oração. (1)
 
A poesia de Mariana Ianelli reúne em Almádena (Torre de mesquita de onde o almuadem conclama os muçulmanos às orações; MINARETE) todas as qualidades que o Abade Brémont elencou para a caracterização de poesia pura.
Desde Cecília Meireles, não surgia na poesia brasileira um poeta com lirismo tão poderoso quanto o dela.
O sentimento de ler Almádena foi de que aos poucos Mariana Ianelli ia tirando pedras de dentro de mim para construir sua torre lírica. Algo de novo acontecera no leitor, algo mágico, místico, profundo e visceral, que me fez diferente como já ocorrera comigo após viver situações passionais, situações de força sentimental, encantamento de redescoberta do amor. Mariana Ianelli, eis uma poeta para ser lida por todos os amantes e as amantes da poesia. Felizmente já sou um desses amantes da obra de Mariana Ianelli. Obra a ser cortejada por todos, a ser compartilhada, alardeada em vozes de almuadens por todas as torres do Brasil.
O Site Oficial da poeta é http://www2.uol.com.br/marianaianelli/, nele encontramos entrevistas da poeta, seus livros publicados, biografia, poemas de seus livros e vídeos nos quais Mariana Ianelli declama alguns dos seus poemas
 
 
1)      Campos, Geir – Pequeno Dicionário de Arte Poética. Geir Campos, Editora Conquista. Rio de Janeiro – 1966.
 
 
Nota: a) livros publicados pela poeta: Trajetória do antes – 1999, Duas chagas – 2001, Passagens – 2003, Fazer silêncio – 2005, Almádena - 2007, Treva Alvorada – 2010.
            b) Leiam também a resenha sobre o livro Fazer silêncio em http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2531118.