HARMADA- ROMANCE DE JOÃO GILBERTO NOLL- EDITORA FRANCIS-2003.


Meu primeiro contato com o realismo mágico na literatura brasileira foi com Murilo Rubião. Causava-me certo complexo em relação à literatura hispano-americana não haverem escritores capazes de produzir literatura fantástica em língua portuguesa, entendida como literatura fantástica aquela que produz uma dúvida no leitor se o que lê é realidade ou sonho, persistindo essa dúvida durante toda a leitura do texto fantástico.
João Gilberto Noll em HARMADA consegue a proeza de aproximar-se da literatura fantástica nas primeiras páginas do seu romance, para logo depois subtrair o leitor daquela dúvida e a seguir derivar o texto para o realismo mágico, que ao contrário do que ocorre em alguns textos de Murilo Rubião, não ser torna nunca inverossímil, porque tudo que não é factível ou factual no romance pertence à subjetividade dos personagens e se torna factível e real porque a subjetividade é real.
HARMADA é a estória de um ator, estéril, extremamente deprimido, situação descrita nas primeiras páginas do romance na aproximação da literatura fantástica, porque a despeito de a depressão ser real é explorada no texto de forma onírica e o leitor demora algo para chegar e entender o que está por acontecer.
A situação do personagem é de completo abandono.
Mas a reação é humana. Quando o ator vai à busca do seu passado emborcando estonteantemente no agora, nas situações prementes de sobrevivência psíquica, emocional e física.
Psíquica porque se reestrutura com os talentos que possui.
Emocional porque a despeito do abandono em que se encontra ainda é capaz de amar.
Física porque é a partir das expansões de atitudes e do reconhecimento das limitações físicas que o ator passa a ser protagonista, passa a ser referência para os outros personagens sem tomar posse psíquica, emocional ou fisicamente dos outros personagens.
Outros personagens como a mulher que o abandonou porque é estéril, como a filha adotiva de outra mulher que veio a falecer e que o abandonara também.
Um romance para os desesperançados lerem.
Um romance para os egoístas lerem.
Um romance para os suicidas lerem e desistirem do ato extremo.
Um romance otimista, esperançoso e alvissareiro, destaque na obra de um autor no geral pessimista.
Uma obra prima.
HARMADA está relacionado entre os 100 livros mais importantes da literatura brasileira da revista BRAVO.
Tal relação leva em conta os livros que foram mais importantes segundo os elaboradores da lista dos 100 mais da BRAVO em cada época da literatura brasileira. A lista não se aproxima dos 100 livros mais importantes da literatura brasileira de todos os tempos, mas isto ao invés de “desvalorizar’ HARMADA, valoriza ainda mais o livro. Um belo romance que nos enche de alegria e esperança.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 28/10/2010
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