Angustia

RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro. 53ª ed. Editora Record. 2001. p.237 Romance tendo como personagens principais, Luiz da Silva, Julião Tavares, Marina e Rosenda. Angústia é um romance ficcional narrado em 1ª pessoa, no qual a personagem, Luiz da Silva narrador e protagonista, ultrapassa os limites do equilíbrio de seu “eu” interior entre idas e vindas de lembranças de suas vivências.

A intencionalidade do autor em Angústia tem como objetivo, mostrar, além da realidade dos conflitos materiais da gente do nordeste também o estado psíquico-emocional conflitantes deles. E de acordo com pesquisas feitas por Francesco Antônio Capo consultor universitário, há a possibilidade de que Graciliano Ramos tenha sido influenciado pelas idéias psicanalistas do austríaco Sgmund Freud, divulgadas no Brasil por Oswald de Andrade e Mario de Andrade na década de 1920.O estilo empregado em Angústia pelo autor, é uma linguagem expressionista, o excessivo jorro de palavras, repetições e associações a partir de pequenos detalhes, mostram certa belicosidade, algum predomínio do egoísmo no comportamento, certo atraso moral, a cultura materialista e a visão utopista que aturdem os seres humanos em geral, para estabelecer parâmetros definidores da felicidade possível e o equilíbrio emocional. O contexto histórico social em que o autor escreveu Angústia, foi a década de 1930, época de conflitos ideológicos internacionais, de um lado socialismo, impulsionada pela política da União Soviética, de outro o fascismo italiano e, o nazismo na Alemanha e esses atingiram também o Brasil, muitas pessoas foram presas por terem sido consideradas subversivas, inclusive Graciliano Ramos no ano em que foi publicado Angústia, 1936.

A narrativa de Angustia inicia com um relato da personagem Luis da Silva, quando está se restabelecendo de um conflito emocional ocorrido trinta dias antes de começar a narrativa. A personagem é um homem simples, funcionário público, mora no subúrbio de Maceió com uma criada, Vitória, de hábitos estranhos, fala sozinha enterra suas economias no quintal e, lê no jornal com atenção a lista de navios que chegam e saem com seus passageiros.Tem poucos amigos, sendo eles, Moisés que vende mercadoria a prestação e gosta de pregar revolução operária, Pimentel, colega da repartição pública e seu Ivo um mendigo que aparece em sua casa para pedir comida. Sua vida se resume em ir ao café entre conversas vazias e indagativas, ouvir recitais musical, algumas leituras de soneto no Instituto Histórico e quando não está trabalhando, ler romances medíocres, segundo ele.

Em uma festa de arte que houve no Instituto Histórico conheceu Julião Tavares, homem de retórica cheia de pompas, de família rica. Luis da Silva nutriu uma antipatia por Julião Tavares desde quando o conheceu.Conheceu também Marina, quando em uma tarde debaixo da mangueira no quintal de sua casa, estava lendo um daqueles romances medíocres. Ela era a vizinha nova, a anterior havia morrido, eles fizeram amizade depois de muitos olhares, e ele apaixonou-se por ela. A paixão foi tão forte, resultando num pedido de casamento e ela aceitou, só o que esse não sabia é que ela não estava muita interessada em amor e sim numa estabilidade social, e ele não era de muitas posses. Portanto quando Marina conhece alguém que pode lhe oferecer mais que Luis da Silva, ela não perdeu tempo, e este alguém foi Julião Tavares, que em uma de suas visitas à casa de Luis da Silva a conheceu e começou a flerta-la. Marina envolve-se com Julião Tavares e o resultado é uma gravidez inesperada, a qual Julião Tavares não toma nem conhecimento e isto a desestrutura, levando-a procurar uma parteira clandestina. Quando Luis da Silva descobre o que aconteceu, fica com muita raiva ofendendo Marina e querendo matar Julião Tavares.

O fluxo da conciência do narrador invade toda a narrativa, todos fatos são narrados segundo a visão dele, parecendo mais um diário de adolescente. Angústia é um romance psicológico, de confissão. O tempo psicológico predomina mais que o tempo físico, porque as lembranças do narrador fundiram presente e passado por meios das mais variadas associações, estilhaçando o tempo em devaneios. Verifica-se um emocional tumultuado da personagem Luis da Silva, pois tudo à sua volta é angustiante, feio, miserável, mas em seus delírios, quando recorda a morte do pai e a personagem Rosenda, enxerga sua tristeza e lhe oferece café, a lembrança foi narrada com carinho em relação aquela xícara de café, dando a entender ao leitor, que no tudo feio sempre haverá pelo menos, um belo. De modo que ao mesmo tempo em que narra as miserabilidades da alma humana, verifica-se uma esperança na vida que pelo menos alguém se condoerá dos conflitos emocionais e materiais do ser humano. O estado psíquico de Luis da Silva não é diferente de muitas personagens vivas e em Angústia observa-se a conseqüência que pode causar o desequilíbrio, quando se transporta aos outros a projeção de seu “eu” interior, quando não se trabalha uma forma de reequilibrar a vida. O angustiado, o miserável, o frustrado não eram as pessoas à volta de Luis da Silva e sim ele, daí essa visão asquerosa em relação a tudo, descrevendo o povo nordestino tão feio e miserável, disfarçando uma misericórdia, que na realidade é para si mesmo.

E de acordo com pesquisas feitas a respeito da vida do autor de Angústia, Graciliano Ramos, crê-se que ele tenha deitado um pouco de seus sentimentos no papel, fazendo suas personagens com pedaços de si mesmo.

Zeldi Isabel de Lemos

Zeldi Lemos
Enviado por Zeldi Lemos em 24/04/2011
Reeditado em 03/08/2017
Código do texto: T2927834
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