O olhar machadiano por uma boa causa

A Causa Secreta é um conto típico de Machado de Assis: incomum, inusitado. Traz inquietações sutis com fatos que evidenciam o comportamento humano. Ao criar as personagens Garcia, o jovem estudante de medicina, Fortunato, o burguês de meia idade, e Maria Luísa, esposa de Fortunato, o autor estabelece relações de sadismo e impulso de agressividade humana, atitudes boas e ruins, humanas e egoístas. Tudo isso, muito bem amarrado em uma narrativa curta e repleta de surpresas.

No conto, Garcia e Fortunato se conheceram em uma situação onde há um ferido que é socorrido por Fortunato, a partir daí, acabam por abrir uma Casa de Saúde. Os laços se estreitam com a sociedade e Garcia se apaixona pela mulher de Fortunato, Maria Luísa, que corresponde ao sentimento. Apesar de nunca terem, ao menos, se declarado um ao outro, nunca conseguiram deixar de cultivar o amor em segredo. No desenrolar da trama, o leitor descobre que Fortunato, apesar da aparência normal, é um sádico com atitudes de generosidade e vingança, ou seja, ajuda as pessoas, não com o intuito de ajudar, mas com sadismo.

É sobre Fortunato que se mantém o foco da narrativa, mesmo porque é ele quem guarda a causa secreta: um impulso assustador de sadismo. Seu nome vem da palavra fortuna, que quer dizer sorte, destino, fazendo uma análise psicológica, do que Machado de Assis quis dizer com a personagem, sobretudo ao batizá-la de Fortunato, podemos dizer que o impulso da agressividade é da natureza humana, existe no destino de cada um, não com a mesma intensidade, mas existe. Seria como se fosse uma inclinação natural do homem para a agressão.

Em vários contos de Machado de Assis, existem fatos vistos como algo irremediável. No caso de A Causa Secreta, o adultério, que é visto como uma espécie de sentença jurídica, a qual não se pode mudar. É um fato imposto pela natureza humana.

Durante todo o conto, o autor faz das virtudes humanas, fontes de crítica e reflexão para os leitores: o fingido cuidado de Fortunato pelos doentes, a santidade de Maria Luísa, revelada como adúltera no fim da trama; a amizade de Garcia, que poderia estar sendo mantida por causa do interesse em Maria Luísa, enfim, uma falta de confiança e simpatia pelos homens e pela humanidade, uma indiferença gritante aos seus sofrimentos, amarguras e desesperos que nos levam a julgar ou sermos julgados.

SÔNIA OLIVEIRA
Enviado por SÔNIA OLIVEIRA em 17/11/2006
Código do texto: T294018