Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho

O livro de Ricardo Antunes, Adeus ao Trabalho? Encontra-se dividido em quatro capítulos abrangendo complexas questões, dentre as quais, podemos citar: houve o desaparecimento do operariado fabril? O que significa a diminuição da classe trabalhadora? Como ficaram os sindicatos? A categoria trabalho já não é central na sociedade contemporânea?

No primeiro capítulo, intitulado “Fordismo, Toyotismo e Acumulação Flexível”, o autor discute as transformações ocorridas no mundo do trabalho e seus impactos sobre a classe dos trabalhadores, e que essa classe que vive do trabalho, sofreu a mais aguda crise deste século, tanto na materialidade quanto na sua subjetividade, bem como, contesta a existência do fordismo e do taylorismo como únicos processos produtivos, mostrando que a estes junta-se a “acumulação e a especialização flexíveis” e o “toyotismo” ou modelo japonês, sendo este, a forma mais atual da exploração da mão de obra para obter resultados mais satisfatórios no processo da produção de riqueza.

A especialização flexível tem a “Terceira Itália”, como cenário, possibilitando uma nova forma produtiva que utiliza o desenvolvimento tecnológico com uma desconcentração produtiva baseada em empresas médias e pequenas, são empresas consideradas como “artesanais”. O toyotismo que combinando a experiência da indústria têxtil com a gestão de supermercado (kanban) na indústria automobilística, propiciou um grande desenvolvimento industrial japonês, aonde um trabalhador opera seis máquinas, em média, além do que, no Kanban a produção orienta-se no sentido de recolocar o produto no estoque logo após a sua venda, ao contrário da produção fordista. Aliado a isso o toyotismo mostrou-se eficiente na luta contra a ação dos sindicatos japoneses, criando um traço distintivo desse sindicalismo: “o sindicalismo por empresa ou o chamado sindicato-casa”, além do que, enfatiza o neoliberalismo com este modo de produção.

No segundo capítulo, o autor aborda a temática das mudanças em curso no mundo do trabalho, revela as tendências encontradas nos países de capitalismo avançado, onde a classe trabalhadora apresenta-se cada vez mais complexa, fragmentada e heterogênea. Acentua o caráter contraditório dessas mudanças onde, de um lado, há um processo de qualificação do trabalho através de sua maior intelectualização e, de outro, o processo inverso de desqualificação ou precarização do trabalho, além do que, as transformações apontam ainda para a redução do número de trabalhadores do setor fabril e o extraordinário incremento no setor de serviços, bem como, a redução dos empregos em tempo integral, acompanhada simultaneamente, pelo crescimento do trabalho em tempo parcial, precário e subcontratado, além do o incremento do trabalho feminino. Neste segundo capítulo, concluímos que o autor aponta para a fragmentação, complexificação e heterogeneização da classe trabalhadora; qualificação e desqualificação do trabalho; desemprego estrutural; incremento do trabalho feminino e o trabalho precário, temporário, parcial, subcontratado e terceirizado. O resultado destas transformações é a constituição de uma classe trabalhadora cada vez mais complexa e heterogênea.

No terceiro capítulo, a crise sindicalista, suas particularidades e os desafios do movimento sindical, é o tema abordado. Um indicativo da crise dos sindicatos constitui-se na tendência da queda à taxa de sindicalização, demonstrada pelo autor através de tabela. Ao lado desta tendência um outro fator que evidencia a crise do movimento sindical seria a dificuldade de superar a distância entre os trabalhadores estáveis e os trabalhadores terceirizados, temporários, subcontratados que um sindicalismo verticalizado da era fordista tem sido incapaz de romper. Por fim, juntam-se aos fatores anteriores a intensificação da tendência corporativa, que procura preservar os interesses do operariado estável. A crise do movimento sindical se acentua com o desenvolvimento da individualização das relações de trabalho; desregulamentação e flexibilização do mercado de trabalho; ação ideológica e a capacidade de manipulação do capital. Os sindicatos além de fazerem frente ao movimento do toyotismo necessitam abandonar a estrutura verticalizada pela horizontalizada, avançar para além de uma ação defensiva e com isso auxiliar na busca de um projeto que caminhe na direção da emancipação dos trabalhadores. Ricardo Antunes coloca a possibilidade dos trabalhadores precários, parciais, temporários ou subproletariados, virem a se constituir num sujeito social capaz de assumir ações mais ousadas, buscando seu espaço, seus direitos e representações.

No quarto e último capítulo, o autor inicia explicitando que é absolutamente necessário qualificar a dimensão quando se discute a questão da crise da sociedade de trabalho. Trata-se do trabalho abstrato ou concreto? O primeiro sendo entendido como mais intelectualizado o segundo com características artesanais. Se a crise é do trabalho abstrato, traduz a redução do trabalho vivo e a ampliação do trabalho morto, indicado por Marx como tendência do capitalismo. O trabalhador já não transforma objetos materiais diretamente, mas supervisiona o processo produtivo em máquinas. Antunes faz questão de deixar claras essas questões fundamentais, pois elas balizam as tarefas que devem ser realizadas pelos trabalhadores na construção de seu futuro, para ele, a revolução de nossos dias é, desse modo, uma revolução no e do trabalho. É uma revolução no trabalho na medida em que deve necessariamente abolir o trabalho abstrato e instaurar uma sociedade fundada na auto-atividade humana, no trabalho concreto que gera coisas socialmente úteis, no trabalho social.

Porém, O autor pouco se refere aos impactos do capitalismo no segmento rural, ao papel das instituições de ensino. Entre as diversas formas de desvalorização, o estágio profissional não é mencionado. A prática de contratação de estágio é a mais nova modalidade de precarização do trabalho, pois, contrata-se o estagiário como mão-de-obra barata, deixando milhares de trabalhadores fora do mercado de trabalho.

Bibliografia:

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. Campinas, SP, Cortez, 1998.