Sobre meu livro SEIS BREVES HISTÓRIAS SOBRE A VIDA, O TEMPO, O AMOR E A MORTE

Gosto de contar histórias. Não tenho a pretensão de ser reconhecido como um grande escritor. Não tenho a intenção de produzir, no âmbito da literatura, nenhuma obra esteticamente revolucionária, nada que possa ser considerado de vanguarda, nada que possa ser comparado, por exemplo, ao livro “Ulisses”, do escritor irlandês James Joyce – o qual, entretanto, o escritor argentino Jorge Luis Borges considerava ruim, uma vez que, para a grande maioria dos leitores, incompreensível.

Para escrever os contos aqui reunidos tive a preocupação de desenvolver meus argumentos através de um estilo claro, objetivo, regularmente linear, porque escrevo por prazer acreditando, também, capaz de, basicamente, proporcionar prazer aos meus leitores, mas sem deixar de levá-los a refletir sobre a vida, o amor, o tempo e a morte, temas básicos das histórias aqui publicadas, de resto, temas básicos para o desenvolvimento de qualquer história.

Escrevo, portanto, para ser lido, para ser entendido e, como todo artista, também sofro influências, a maior delas proveniente da leitura de livros do escritor norte-americano Ray Bradbury, considerado por muitos como o poeta da ficção científica ou da chamada “ficção fantástica”. Os que já leram seus livros – entre eles As Crônicas Marcianas, O País de Outubro, O Vinho da Alegria e Morte é uma Transição Solitária, entre outros, sentirão que falo a verdade quando começarem a ler as seis histórias que compõem este livro. Como cada um de nós, Bradbury também sofreu influências, todas de leituras que fez das obras de escritores como Edgar Alan Poe, mestre em desenvolver romances e contos de horror, e Júlio Verne, um dos primeiros a profetizar, através da ficção científica, entre outras coisas, muitos dos artefatos tecnológicos hoje presentes entre nós.

Entretanto, apesar de esperar que meus leitores tenham prazer com minhas histórias, não descarto a possibilidade de eles virem a sentir náuseas quando as lerem, detestando-as. Não por serem mal escritas – ou talvez por isso - mas principalmente porque a maioria dos personagens que as compõem não é presenteada com finais felizes.

Excluindo-se os contos Orgasmo, onde uma jovem virgem espera ansiosamente e encontra a libertação através do gozo total; Liberdade Condicional, onde um velho presidiário, primeiro voluntário de uma experiência científica, tem a chance de remediar os momentos que lhe condenaram para sempre e, talvez, em O Fantasma, onde o espectro de uma velha senhora duvida da própria existência e, voluntariamente, resolve abandonar um corpo e um tempo que já não lhe pertencem, nas histórias de A Máquina do Tempo, A Última História de Amor e A Conversão eles vivem momentos de angústia e desespero, debatendo-se respectivamente ora entre os efeitos mágicos de uma máquina fotográfica, ora na possibilidade perdida de um amor perfeito, ora em dúvidas teológicas que se estabelecem graças a uma total ausência de fé em seus personagens, e uma exacerbada vontade de encontrar as respostas para os propósitos de Deus através da razão. Este, particularmente, poderá causar furos entre aqueles freqüentadores de igrejas, demasiadamente dogmáticos para não hesitarem em me condenar à fogueira – se ainda estivéssemos no tempo da Santa Inquisição – ou reforçar a idéia de que viver não vale a pena, estimulando suicidomaníacos a darem cabo da própria vida.

Ao escrever todos eles, não tive a pretensão de reforçar as conclusões de quem quer que seja sobre o que quer que seja, nem mesmo as minhas. No universo onde foram inseridos, meus personagens vivem suas próprias vidas e, dentro delas, expressam opiniões que lhe são próprias. Mesmo que, num ou noutro momento, eles possam me representar, os textos aqui apresentados não servem para camuflar nenhuma tese científica ou filosófica particular. Evidentemente, são apenas ficções. Como disse antes, escrevi as histórias porque escrever me dá prazer, e as criei especialmente para aqueles que gostarão delas.