Pavão Misterioso

RESCALDO, de José Bezerra Cavalcante

Editora UFPB

João Pessoa – 2011

José Bezerra Cavalcante nasceu em Esperança/PB

em 30/06/1940. Participou ativamente do movimento

litero-artistico Geração 59.

Escreveu sua primeira obra em 2009, Baú de Lavras,

por ocasião do cinquentenário da Geração 59.

O que dizer sobre a obra Rescaldo, do escritor José Bezerra Cavalcante?

Iniciando pelo título:

Rescaldo, conforme o Aurélio, significa: calor reverberado pelo incêndio

ou fornalha.

E o texto que dá nome à obra:Rescaldo

“Vereis, enfim, os meus fundantes idos

foram tão pelo tempo carcomidos

que após nenhuma chuva e grã queimada

jazem rescaldos d’ontens, por si cotos,

entre coivaras e tições de outrora.

E que sob céu assim, de todo cinza

sigo beirando esse borralho túmido,

com pés doídos, pelo opaco afora.” (p.21)

De cara, vê-se toda a sofisticação no uso metafórico; caracterizando, portanto, uma linguagem hermética, densa, e excêntrica. Como o próprio autor, em suas notas, fala “a palavra quase sempre assume um sentido-alvo”. E mais além o mesmo define: “Poesia é a ante – e a retroface, a sobre – e a infraface da realidade objetiva...” Depois, o autor finaliza “teimo em poetar, isto é, praticar o modo infinitivo de poesia; de preferência, recompondo retalhos de antanho, uma vez que poetar sobre o passado é como manipular o tempo.”

Sua poética é plena de erudição; discurso cheio de torneios linguísticos, jogos vocabulares, cadência, concisão etc., bem ao gosto dos pós-modernistas, ou mais precisamente dos (neo)barrocos. Veja-se em Mareo:

Esse sol sem sombra

me tosquia o rumo,

me semeia mangue,

me derreia o prumo,

me vadia exangue

e transluz o sumo

do meu próprio sangue.(p.23)

Sarduy (1972) define o barroco não só como um período específico da história da cultura, mas como uma atitude generalizada e uma qualidade formal dos objetos que o exprimem;...”

A Poética, de José Bezerra Cavalcante, remete o leitor a essa crença diante de textos tão bem costurados e lapidados; em que sua poesia-objeto infere ímpar repensar.

Para Sarduy também, “a leitura é um ato de enfrentar e resolver os problemas das anamorfoses, forma natural embora distorcida pela reflexão,...” Nada mais justo, que tal leitor desenvolva o seu veio criativo e generoso ao realizar a leitura dessa e de outras poesias.

Assim sendo, que fique pra todos os leitores, essa possibilidade de aventurar-se num profícuo, mas nem tanto fácil, que é o ato de ler. Ótima Leitura!

Lourdes Limeira
Enviado por Lourdes Limeira em 19/09/2011
Reeditado em 19/09/2011
Código do texto: T3228356