A Oração de Jabez

O presente trabalho, longe da pretensão de esgotar as facetas a serem exploradas e destrinchadas na obra em questão, antes de tudo, visa dar ao leitor uma visão panorâmica quanto aos principais pontos positivos e negativos do livro “A oração de Jabez”.

O autor, baseando-se em uma experiência pessoal, herdada nos idos de sua passagem pelo Seminário Teológico, expõem, inspiradoramente, as nuances ocultas na “menor biografia bíblica” como ele assim intitula a história do Israelita Jabez, brevemente narrada no livro de 1 Crônicas 4:9-10. Segundo Wilkinson, nesta rápida narração, há um diferencial de vida e postura diante de Deus, que podem e devem ser aplicados na vida diária do atual cristão. Baseado nas bênçãos derramadas por Deus na vida deste irmão de fé, sua postura poderia ser hoje lida, ou melhor, traduzida, pela breve oração entoada por ele durante sua passagem por esse mundo: “Se me abençoares muitíssimo, e meus termos ampliares, e a tua mão for comigo, e fizeres que do mal não seja afligido!” e as conseqüências seriam extraídas da continuação desta mesma passagem: “E Deus lhe concedeu o que lhe tinha pedido.” Em torno disto, giram todos os argumentos da obra do nosso irmão Bruce.

Logo no prefácio, podemos encontrar a primeira declaração controversa do autor: A oração de Jabez constitui um modelo de prece a qual Deus sempre atende. Estimulando a fé, fundamentada na submissão ao Senhor, mas mascarada na disposição para a Obra do Reino dos Céus, os argumentos teológicos esbarram em um intransponível obstáculo que não é levado em consideração: A vontade soberana de Deus. Somado a isso, já no primeiro capítulo (pag. 15), o leitor mais desatendo, pode ser levado a crer que o poder de transformação obtido com a prática da oração está em sua forma, e não na transformação do caráter e do coração que ela evidencia. Fechando este malfadado capítulo (pag. 18), podemos ser iludidos a acreditar que as bênçãos de Deus estão condicionadas as obras de nossas mãos, fazendo de pecadores como nós esboço dos religiosos da Antiga Israel.

No entanto, o livro dá uma repentina guinada para o alto a partir do seu segundo capítulo, quando a oração em si, e o que ela representa em termos de mudança de vida e visão de Reino, começa a ser destrinchada em suas páginas. O descomprometimento com a falsa modéstia de alguns religiosos, que querem convencer o cristão que não é lícito buscar bênçãos para si mesmo sob a pena de estar evidenciando egoísmo, é um dos grandes acertos do autor: Buscar bênçãos para você, para então, através delas, alcançar e abençoar outros.

No capítulo terceiro, a obra aborda a definição de propósitos concretos para a vida do fiel, seja no campo profissional, pessoal ou eclesiástico, onde brilhantemente fica evidenciado a necessidade do cristão traçar metas e sonhos para sua vida, em todos os aspectos, buscando primeiramente a glória do nome de Deus, testificando ao mundo o poder vigente Dele em sua vida. Causar maior impacto para Deus, através de sua vida – este é o propósito. A grande verdade revelada ao longo deste capítulo (pag. 45), e que conforta a alma do leitor, é saber que Deus usa o fraco para nele evidenciar mais ainda a sua glória.

O livro prossegue em seus argumentos, tocando no assunto crucial que é a incapacidade do homem em manter firmes as rédeas na condução dos seus sonhos, quando eles verdadeiramente são os Sonhos de Deus, uma vez que somente as mãos do Senhor podem firmar esta direção. Dependência de Deus, esta é a idéia chave deste segmento. O autor, dotado de divina sabedoria, remete seus argumentos a “Igreja de Atos”, evidenciando, com inquestionável competência, que o “segredo” da Igreja primitiva não era a capacidade de seus líderes e membros, e sim o fato dela estar buscando, constantemente, o enchimento com o Espírito Santo: a Mão de Deus sobre e vida de cada um deles.

Após os belíssimos três últimos capítulos, onde o autor apresentou ao leitor a intimidade do Deus a que servimos, ele entra em uma evidente dualidade, quando tentar fundamentar o conceito de que “ser preservado do mal” não consiste em passar lutas e tentações. Primeiramente, a noção de que um cristão em profunda comunhão com Deus sempre será atacado por Satanás, mais uma vez esbarra na Soberania de Deus, que tanto abençoa ou permite atribulação aos seus filhos, para glorificação do seu nome, edificação pessoal e testemunho de fé e amor. O que diferencia o “filho de Deus” da “criatura de Deus” não é a prosperidade material ou as lutas diárias, mas sim como se lida com cada uma destas situações, pois o “Filho de Deus” sempre regozijará no Senhor, seja na escassez ou na bonança. Primeiramente, teríamos que desconsiderar que nós adoramos a um Deus Perfeito, mas que foi tentado no deserto antes do início do seu ministério público, e que nos deixou um modelo de oração que nos ensina a pedir para sermos livres do mal, e para que não caiamos diante das tentações, o que evidencia que sempre estaremos sujeitos a sermos tentados, restando a nós repudiarmos estas tentações para não irmos contra a natureza santa do Deus a que servimos, cedendo ao pecado. Creiamos que diante das tentações que virão seremos fortalecidos para resistí-las, caso contrário as palavras do Apóstolo Paulo em Romanos 7:15-25 não fazem sentido... a não ser que consideremos que o Apóstolo não tinha conhecimento dos desígnios do Senhor quando as escreveu, o que é inviável, visto que toda escritura é divinamente inspirada ( II Tm 3:16). O Apóstolo Tiago também corrobora os escritos de Paulo quando diz: "Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam." (Tg 1:12).

No desfecho de sua mensagem, o escritor nos esclarece de maneira bem apropriada, que a motivação para um cristão que resolve seguir as pegadas de Jabez não deve ser a bênção a ser recebida, ou tampouco a “vitoria” em uma competição com seu irmão de fé, mas sim alcançar o mais alto prêmio de Deus: A vida eterna em Cristo Jesus! Talvez um pouco tardiamente, Bruce Wilkinson alerta que não é o uso místico da Oração de Jabez que irá modificar o futuro daquele que resolveu imitar os caminhos de seu autor, mas sim a sua guarda em nossos corações, transformando-a em palavra viva através de nossos atos.

Concluímos, após esta breve passagem pelos ensinamentos desta obra, que o autor foi largamente abençoado em grande parte de suas colocações, sendo prejudicado em sua mensagem, apenas por colocações isoladas, que só surtirão efeitos colaterais em seus leitores se forem vista e analisadas também de forma isolada, visto que ao serem inseridas no contexto geral dos ensinamentos abordados, evidenciam a correção e seriedade do autor em relação a Sã Doutrina e a palavra de Deus.

ICCV
Enviado por ICCV em 23/09/2011
Código do texto: T3236884
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