ASFIXIA – PEDRO PAIXÃO
“Só nos humanos a natureza adoece.”
O título não poderia ser mais apropriado. A leitura dos contos de Pedro Paixão no livro Asfixia, publicado pela Quetzal Editores em 2006, é um mergulho ousado nos subterrâneos humanos. O que drena os instintos e permanece oculto sob as máscaras cotidianas.
Logo nos primeiro conto, somos acumpliciados com a decisão de se enforcar na narrativa confessional do narrador. Falta de ar. Somos levados pelo estímulo de proteger o homem das suas certezas, mas o alçapão se abre e sentimos a corda no pescoço suspender a respiração até que “os acasos do destino” nos devolvem o chão.
Breve respiração nos intervalos. A paixão desvelada em seus plurais significados entorpece, embriaga, excita, aplaca as ficções com novas realidades, alucina com lancinantes percepções... Não há como permanecer distante dos personagens. Somos impulsionados a entrar no mundo apaixonado de Pedro Paixão.
No conto Anamnese, o autor revela o nosso diagnóstico. A bipolaridade dos atos e omissões que norteiam nossas buscas e abandonos. O risco vital das nossas manias e do extremo, quase letárgico, da perspectiva deprimida. Aflição permanente pulsando em cada palavra, medo, ansiedade, desejo, indiferença... A vida e a morte atreladas ao corpo no limiar de um alçapão falso. Ficção? Asfixia!
Lemo-nos na ascendência do amor ardente, do caos sexual, do arrebatamento e nas ruínas do martírio, da cólera, do sofrimento.
“A tua boca é a minha entrada para a asfixia. Porque vagueias tu pelo deserto em busca do vento? Porque persegues a tua sombra? Não encontrarás essa vida que procuras, porque nada permanece.”
Pedro Paixão, escritor português renomado, é autor de uma profusa obra literária, que inclui títulos como Viver todos os dias cansa, Onze noites em Jerusalém, A noiva judia, Saudades de Nova York e Nos teus braços morreríamos, lançados no Brasil.