A arte de escrever

O que significa “estilo”? Por que nem sempre eruditos de vasta leitura tornam-se escritores competentes? Por que pensar por si mesmo é uma tarefa árdua? Como administrar a inspiração?

Essas e muitas outras questões são brilhantemente debatidas por Schopenhauer em “A arte de escrever”, uma antologia de ensaios retirados de seu livro “Parerga e Paralipomena” (1851).

Um dos mais ilustres filósofos alemães, Schopenhauer influenciou gênios como Freud e Nietzsche, sendo ainda responsável por introduzir o budismo à metafísica alemã.

Nessa coletânea de ensaios ele analisa de forma profunda o ofício de pensar e escrever, fazendo reflexões preciosas e precisas acerca do processo literário, tanto no tocante á criação, quanto no ato de traduzir idéias em palavras. Retrata e critica pesadamente a situação da literatura em seu país no séc XIX, não sem surpreender o leitor pela atualidade pulsante de suas colocações.

Schopenhauer tem um estilo inconfundível: é ferino, entusiasmado, meticuloso. Sua linguagem é cuidadosamente trabalhada para, com palavras simples e certeiras, exprimir idéias fantásticas. O resultado é que ele geralmente se faz entender, modelando sua idéia para dar-lhe a exata feição, isso quando não arranca as palavras da boca do leitor. Esse domínio da linguagem é um dos pontos fortes do livro, e tornam a leitura fluente, e, no mais das vezes, agradável.

Afora isso, Schopenhauer tem idéias interessantes acerca dos efeitos que o excesso de leitura pode provocar no espírito dos homens. Traz também considerações sobre as inovações da linguagem provenientes da modernidade, reflete sobre a longevidade das obras, sobre a diversidade dos cérebros.

Talvez o melhor do livro, entretando, seja a forma como o filósofo se debruça sobre a mente dos eruditos de sua época, chegando a um profundo conhecimento de como funcionam, de quais são os tipos de escritores, de como desenvolver as qualidades literárias e quais as técnicas empregadas pelos escritores ruins para esconder seu enorme vazio intelectual.

Falando em “enorme”, talvez resida aí um dos defeitos de Schopenhauer: seus excessos. Extremamente radical em certos aspectos, por vezes preconceituoso e arrogante, ele tende a certos pontos de vista intransigentes e exagerados. Perto da genialidade do autor, entretanto, essas falhas são completamente perdoáveis. A leitura desse livro pode fascinar o público pela inteligência e humor ferino de seu autor e (coisa mais rara do que o senso comum admite) pelo conteúdo de suas idéias. Afora isso, é leitura altamente reconfortante, orientadora e instigante para quem deseja se aventurar no mundo da literatura como escritor.

Jéssica Callou
Enviado por Jéssica Callou em 10/02/2007
Código do texto: T375996