A vida que ninguém vê- Eliane Brum

Em 1999, surgiu uma coluna de crônicas-reportagens publicadas no jornal Zero Hora com nome de A vida que ninguém vê. Mais adiante, em 2006, as 21 melhores crônicas foram reunidas em um livro-reportagem de mesmo nome, de autoria da jornalista Eliane Brum, em 2007 a obra ganhou o Prêmio Jabuti- Melhor livro- reportagem. No livro encontram-se histórias de personagens que não estampam capas de jornais e revistas ou tem qualquer notoriedade pública. São retratadas situações corriqueiras da vida de gente comum que aparentemente não têm nada de extraordinário para contar.

As crônicas da vida real narradas por Eliane Brum são carregadas de desafios e obstáculos, enfrentados por seus poderosos personagens- humanos anônimos- que lutam para sobreviver, cada um de sua forma. A maioria faz parte do mesmo cenário: as ruas de Porto Alegre, como é o caso de Sapo, pedinte do centro da cidade há mais de trinta anos, perdeu o movimento das pernas aos três meses de vida. Seu nome é Alverindo, mas nas ruas é chamado de sapo por se arrastar pelas calçadas por conta de sua condição.

Ou a história da menina Camila que pedia trocados no sinal em forma de versos: - Tio Lindo, tia linda do meu coração. Eu pergunto a você se não tem um trocadinho ou uma fichinha pra essa pobre garotinha. Algumas tristezas vêm mais de longe se hospedar na capital, como foi o caso de Antônio Antunes que luta pela sua família contra um rival de peso: a pobreza.

Na obra, você encontra essas e outras histórias extraordinárias da vida real. Ao final, também descobre algo sobre si mesmo. Esta frase se encontra na contracapa do livro, e me convidou a fazer essa descoberta, que para mim é a valorização da minha história como cidadã comum, mas ao mesmo tempo singular. Em meio a tantos estereótipos de vidas perfeitas, muitas vezes julgamos nossas experiências insignificantes.

Conhecer estas desventuradas crônicas da vida real contadas com tanta expressividade, me fez lembrar de algo que aprendi na disciplina de Reportagem, sobre a importância da humanização do relato. Conceito que traduz as páginas deste livro-reportagem, uma pessoa de carne e osso contando a história de outra.

Esta é uma leitura fundamental pra quem quer encarar a face da realidade, principalmente para os estudantes e profissionais de Jornalismo e pra quem se identifica com a área da comunicação. Além dos exemplos de histórias de vida, podemos desfrutar de algumas páginas em que a autora fala sobre a sua profissão e a defende como a melhor profissão do mundo. Também oferece dicas para se fazer um bom Jornalismo, como a arte do olhar.

Jornalista, escritora e documentarista. Eliane Brum ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de um romance - Uma Duas- e de outros três livros- reportagem: Coluna Prestes – O Avesso da Lenda, O Olho da Rua e Dignidade!- e codiretora de dois documentários: Uma História Severina e Gretchen Filme Estrada.

Camila Quadros- acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade de Passo Fundo (UPF)

Camila Quadros
Enviado por Camila Quadros em 20/11/2012
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