Resenha: Humanidade sem raças - Sérgio Pena

Minha raça sou eu

Lutamos incessantemente para fugir dos rótulos impostos pela sociedade; em contrapartida, ainda que de forma involuntária, contribuímos para a manutenção dos mesmos. Juízos estéticos, morais e estilísticos são intrínsecos à natureza humana, que se posiciona diante de tudo o que vê. O que se observa, no entanto, é uma supervalorização desses pré-conceitos, ocasionando uma nefasta inversão de valores: enaltecimento da imagem em detrimento do ser. A situação se torna ainda mais crítica quando essa classificações são feitas em raças, dando um ‘ar’ (apenas) científico para as discriminações e políticas de dominação. Sérgio Pena discorre detalhadamente sobre o tópico no livro Humanidade sem Raças, no qual desenvolve uma linha do tempo da cultura de raças, do racismo e sua ausência de fundamento – de fato- científico.

Pena inicia a narrativa fazendo uma paródia dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, agora designando racismo, xenofobia, ódio étnico e intolerância religiosa. Afirma que disseminou-se um conceito inacreditavelmente errôneo de raças, como se a descendência do indivíduo pudesse determinar suas capacidades físicas e/ou mentais. Essa idéia popularizada apresentou-se como justificativa para regimes terríveis como o nazismo, fascismo e apartheid. Aqui o autor já um recurso estilístico que marcará presença no decorrer de toda a obra: alusões históricas. Sérgio aponta os três critérios de classificação humana vigentes: modelo racial, populacional e genômico/individual (sendo este o defendido pelo autor, que prega a construção de uma sociedade desracializada).

A fim de garantir mais credibilidade à sua argumentação, inclui o posicionamento de figuras histórica e culturalmente importantes. O naturalista Linnaeus, por exemplo, criou vertentes do Homo sapiens. Evidentemente, o europeu tinha um status biologicamente superior aos demais, o que lhes garantia plena humanidade. Os filósofos Voltaire e Montesquieu também eram racistas. Blumenbach e Haeckel, cada qual à sua maneira, também defenderam a ideologia racista. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, tem-se a Primeira Declaração Sobre Raça da Unesco, em 1950, que contribui para amenizar os estragos da mesma.

Ao longo do texto, o autor faz uma série de citações pertinentes e enriquecedoras, como de Chico Buarque de Holanda, Robert Keneddy, Martin Luther King, entre tantos outros. Apresenta, ainda, o conceito de efeito fundador, quando um população povoa uma região até então desabitada. A existência do livro se justifica pela vontade de implementar uma sociedade livre de preconceito racial, raiz de todas as desavenças grandiosas que já destruíram o mundo, desde conflitos nacionais – como o de Ruanda- até às Grandes Guerras, que consumiram a vida de milhões de civis inocentes. Sérgio Pena dedica-se desmedidamente à empreitada de construir uma sociedade livre de raças, baseada no modelo Genômico/Individual de Variabilidade Humana, que construir-se-á com a difusão do conhecimento genético de que todos somos biologicamente diferentes (semelhante ao que aconteceu na Inquisição, que só parou com a difusão de que bruxaria era cientificametne impossível), na mesma proporção. Inclusive, num hipotético apocalipse e posterior sobrevivência de só uma comunidade, ainda preservaríamos 85% da variedade humana. O autor sonha com um mundo em que as pessoas sejam analisadas e valorizadas por seu caráter, conduta e moral, desconsiderando-se as origens e parentescos.

Júlia Marssola
Enviado por Júlia Marssola em 02/05/2013
Código do texto: T4271216
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