101 VIAGENS DE SONHO: E COMO TORNÁ-LAS REALIDADE, de Kiko Nogueira

Somente li este livro porque o ganhei. Não é bem o estilo que eu compraria, já que livros de fotos de lugares com comentários pessoais dos que lá estiveram me lembram aquelas sessões de fotos chatas em que os parentes mais ricos ficam se gabando das férias deles, ao estilo "Primo rico, primo pobre".

As 101 viagens foram divididas em nove categorias: 1. Shows da natureza, 2. História e cultura, 3. Estradas sem-fim, 4. Hotéis de luxo, 5. Grandes cidades, 6. Paraísos na terra, 7. Emoção e aventura, 8. Oásis espirituais e 9. Cenários de romance. Dezesseis são no Brasil, o que é bom porque você talvez conheça algum deles (eu conheço dois). Apesar da qualidade do papel, da capa e da impressão serem excelentes, não consegui distinguir o público-alvo para quem o livro foi escrito: se por um lado dá dicas de bebidas ou comidas baratas, por outro mostra hotéis e viagens de milhares de dólares, bem acima de renda da maioria dos brasileiros. Pelo menos o livro admite isso quando diz que alguns lugares indicados "faz[em] parte daquele pequeno mundo a que só os muito ricos têm acesso" (pg. 55).

Como costumo comprar alguns livros pelo título (e até pela capa), neste caso teria ficado muito decepcionado. O motivo: o subtítulo "como torná-las realidade" ficaria bem melhor "como chegar até lá". Pois é isso que o livro faz, basicamente indica conexões de vôos, rotas e distâncias entre as principais cidades e o destino apontado, além de alguns sites com mais informações sobre a região. O subtítulo passa a impressão clara (depois do livro lido, lógico) de ser um apelo comercial. E não é só ele, há lugares que não se sabe porque estão ali, como no caso do Mont Saint Michel (pg. 45), que é descrito em menos de três linhas e sem foto alguma. Ou a Royal Scotsman (pg. 55) em que um passeio de uma semana de trem custa a bagatela de 9 mil dólares.

Os comentários mais longos de alguns lugares são feitos por turistas que lá estiveram. Mas nem todos os turistas tem o dom da escrita, enquanto uns falam do que fizeram, comeram e beberam, outros só passam raiva no leitor, como o trecho que aparece na pg. 16 e que transcrevo abaixo:

"O tempo passa. Um dos australianos me cutuca, animado, e aponta à sua direita, pois eu estava absorto em um trecho do recife com anêmonas dançantes. Na escuridão distante, uma sombra se aproxima, movendo-se com suas asas gigantes lenta esuavemente em nossa direção.

Ao se aproximar, vejo seus chifres e um olho atento procurando por nossos rostos, e uma boca como uma fenda, larga como um carro. Plana sobre nós como um pássaro gigante, com sua barriga branca com montes de rêmoras bloquando o reflexo do sol na água. Quando subimos à superfície, todos estamos sorridentes, agitados e com a adrenalina a mil."

Agora me responda: Você conseguiu descobrir de qual animal marinho ele estava falando? Não? Nem eu! Outro erro aparece na pg. 94, mas este deve-se somente por um descuido na edição final.

Talvez você ache o meu tom crítico a respeito do livro um pouco exagerado, afinal ele traz belas fotografias e curiosidades culturais de cada lugar. Talvez eu seja crítico demais mesmo. Talvez haja outra pessoa com gostos diferentes dos meus que aprecie lê-lo. Assim espero, pois estarei trocando o livro por outro o mais rápido possível.