Em defesa do Manifesto do Lobão

Trecho:

"Eu nutro verdadeira esperança de algum dia não mais aceitarmos essa posição acanhada e diminuta diante do mundo, tomando, de uma vez por todas, a tão ansiada vergonha na cara e erguendo, assim, altaneiros, a cabeça, convictos do nosso valor, orgulhosos do que produzimos, a nos impor, não por conceitos nacionalistas recalcados de malandro-agulha, mas unicamente por nosso mérito quando, por fim, deixaremos de ser um povo a amarelar em qualquer situação de pressão e que, livres dessa pouco edificante síndrome de capacho rendez-vous tupiniquínica, possamos escrever as páginas mais gloriosas da nossa História."

Lobão

A Editora Nova Fronteira lançou em maio de 2013 o livro Manifesto do Nada na Terra do Nunca, 250 páginas, escrito pelo polêmico músico Lobão.

O Manifesto do Lobão, distribuído em 8 capítulos com um prólogo poético, é um brado de amor ao Brasil e de repúdio a muitos brasileiros, tanto os do século passado quanto nós outros contemporâneos do autor.

Ao longo do livro, o autor se insere em um topos autoral que lhe permite relatar com o máximo de franqueza possível muito do que os seus 56 anos de idade permitiram que ele aprendesse sobre o nosso glorioso país. E apesar do conteúdo básico do livro ser de revirar o estômago, o Manifesto do Lobão é um livro leve de se ler, prazeroso, que suscita reflexões importantes sobre o nosso país e o seu lugar no mundo.

Pelo que eu tenho lido e ouvido, existem três tipos de pessoas que recentemente falaram sobre o Manifesto do Lobão: as que leram seu livro, as que pretendem ler e as que (aparentemente) nunca lerão. Estas últimas disparam ódio ao livro do Lobão sabe-se lá com que motivação, já que assumidamente não têm interesse no seu livro. Enquanto aquelas, de maneira geral, leram ou pretendem ler o livro e recomendam-no por motivos variados, embora também existam as que leram e não gostaram e dentre elas as que continuam atacando livro e autor sem apresentar uma análise satisfatória do Manifesto.

A minha hipótese sobre esse repúdio ao livro do Lobão – através dos próprios depoimentos lidos e ouvidos - é que uma vez que o autor do livro é “o Lobão”, o conteúdo do livro só pode ser “descartável”, vindo de um “reacionário”, vindo de um “drogado”, que “se acha intelectual”. Em outras palavras, embora o Lobão tenha pisado na bola muitas vezes e seja parcialmente responsável pelos muitos rótulos negativos que o envolvem, a opinião pública já valorou o quanto vale o seu manifesto a priori, impossibilitando qualquer diálogo sério com o seu Manifesto. Se isso for verdadeiro, teremos a prova cabal de que tudo o que ele vocifera neste livro sobre a nossa intelligentsia brasileira é, no mínimo, verificável através das próprias críticas inócuas ao seu livro e (principalmente!) ao seu discurso.

O polêmico Lobão, felizmente, é um desses casos raros cujo discurso público, mesmo quando equivocado, ou exagerado, provoca reações e reflexões indispensáveis para que haja liberdade de expressão e progressos cultural e moral para a nossa nação. Se você procurar entender sobre o que de fato ele está falando ao longo do livro, você se sentirá impelido a se posicionar contra ou a favor do seu discurso, o que invariavelmente provocará reflexões importantes e evocará análises atuais sobre a nossa situação cultural e política em nosso grandioso Brasil.

Neste sentido, torna-se muito difícil confrontar os discursos do Nada no seu Manifesto sobre a Terra do Nunca, porque há consistência em seus argumentos e há veracidade verificável em muitos dados e fatos citados, como no caso dos projetos interamericanos ditatoriais dos membros do Foro de São Paulo - cujo projeto totalitário ainda hoje é vergonhosamente negligenciado por jornalistas, artistas e professores brasileiros, ou seja, negligenciado pelos nossos principais formadores de opinião contemporâneos. Ademais, se se posicionar contra os discursos do Nada é uma tarefa incômoda, posicionar-se a favor dos discursos de Lobão evocará preocupações ainda mais prementes quanto aos projetos de presente e de futuro dos brasileiros em sua evolução dinâmica com o restante do planeta.

Em suma: como em todo bom “manifesto”, logo de saída o autor ergue seu estandarte às alturas para dialogar com pessoas ou temas cascudos e polêmicos. Para a sorte de quem ler o Manifesto do Nada na Terra do Nunca, o estandarte do Lobão é o “roquenrou”. Não sei se este é um livro que vai vender bem; sinceramente, torço para que venda muito bem e que o Lobão encha os bolsos de dinheiro lançando outros livros tão interessantes quanto este. Torçamos para que essa atitude incentive outros valorosos formadores de opinião, que são contrários aos nossos discursos oficiais cotidianos, a dissertarem com franqueza sobre o nosso pobre e gigantesco Peter Pan macunaímico, enriquecendo-o e amadurecendo-o para que ele possa enfim tornar-se tão “belo” e “impávido colosso” como sonhamos desde sempre, nós, brasileiros, apaixonados e corajosos como é o Lobão.