Steve Heslin - Capítulo 3

   Sentei-me perto a lareira pela manhã, havia preparado o café e levado meu tio até a cozinha e após ele se alimentar pude prestar um pouco mais de atenção na sua estante de livros.
   Havia alguns bem amassados, outros encostados ao fundo da repartição, alguns deitados sobre outros, então comecei a tentar organiza-los. Encontrei um livro com uma capa escura, nem preta nem cinzenta, era uma capa com detalhes dourados e quando o abri encontrei uma página rasgada e dobrada.
   Haviam algumas letras borradas, e alguns erros de gramática mas aos poucos fui traduzindo: 

 "Ao meu amor, Thompson, acredito que você já tenha melhorado, mesmo estando longe ainda acredito que um dia nos veremos, meus pais ainda não me deixam voltar, e as coisas aqui, em Arizona, estão cada vez mais difíceis, ao que tudo indica terei que casar com algum dos filhos do dono da fazenda onde estamos morando, ou que irei embora para um convento, não sei o que me faria sofrer mais, estar do lado de um homem que não amo, ou então me ligar a Deus e nunca mais poder amar um homem. Espero que tenha paciência meu amor, eu sonho com sua presença todas as noites. 

Att. Mollyn


   Me comovi com o sentimento, e as entrelinhas me deixavam com uma compaixão enorme, mas se meu tio havia amado uma mulher que até hoje não lhe respondera mais, o que eu poderia fazer para que ele pudesse viver em paz, que pudesse viver feliz? Não sabia como responder essas perguntas, então adormeci sobre o sofá.  
    
   


   Algumas horas depois acordei sobre badaladas, era a velha igreja da cidade, pontualmente às seis horas da tarde, fazendo como de costume, seus ouvidos gritarem.
   Cheguei próximo ao salão da igreja e notei um tumulto, na verdade era praticamente todos os jovens... festejando sobre uma tenda perto do rio.
   Me aproximei devagar e logo um rapaz me chamou, seu nome era Taylor, descobri depois que ele apresentou todos os quarenta e oito membros do "Grupo dos Rebeldes de Bagley", quando ele repetiu isso todos gritaram juntos.
   Passando pelos irmãos Rogers, pela não tão adorável Raily, pelo garoto baixinho George e por Taylor, encontrei encostada em um pinheiro ela... Hallie.
-Olá. - ela disse baixo
-Oi, como vai? - perguntei.
-Bem, e você? 
-Estou bem, onde está Axel? - falei soltando uma risada.
-Em casa, por que? Não deixo ele te lamber de novo! - nós dois rimos.
-Não imaginava que você faria parte desse grupo.. - falei.
-Na verdade não fazia, meus pais queriam que eu conhecesse mais pessoas, e deixasse meus livros de lado, e aqui estou, no meio de um monte de caras pirados e garotas lezadas.
-Obrigado pelo elogio. - respondi.
-Não foi pra você, bem é que eu estava acostumada a um outro mundo, e as pessoas nem sempre são interessantes, e até agora acho que você é o único garoto que eu poderia definir assim.
-Interessante? - perguntei.
-Sim, pelo menos o meu cachorro já gostou de você. 
-Temos que parar com isso, e marcar um encontro só nosso, se Axel permitir é claro. - soltei aquela indireta.
-Claro, boa ideia. Só terei de falar sobre você para os meus pais. Bom, devo convencer os dois, e posso sair no próximo sábado, o que acha? 
-Ótimo, sábado então, onde nos encontramos?
-Na frente da minha casa, você já sabe onde é, pode ser as sete horas...
-Ok, está marcado.  - beijei a bochecha sem que ela pudesse desviar, então me despedi.
   Ajudei meu tio a se deitar, então coloquei sobre ele algumas cobertas que encontrei no armário, não queria vê-lo doente, muito menos passando frio. Já estavámos próximos ao inverno e o clima cada vez mais gelado.
   
















 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 16/04/2014
Reeditado em 17/04/2014
Código do texto: T4771575
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