Steve Heslin - Capítulo 4
 
   A chuva deixou a manhã um pouco mais tediosa, e o que eu poderia fazer naquela casa? Voltei a sala e aos livros da estante, estava começando a gostar de lê-los.
   "A Vida de Michael", de Thomas Jordan, era um bom livro, parei na página noventa e três. Preparei o almoço, e em seguida sai para dar uma volta, era quinta-feira, pensei em ir procurar algo para fazer.
   Parei perto da igreja, entrei ouvindo alguém orando, e de longe conseguia ver um piano perto do altar, então perguntei ao rapaz que estava ali sobre as escadas:
-Alguém toca o piano na cidade? 
-Sim, ao filho do prefeito o toca a dois anos, desde que fez alguns cursos com um professor que tínhamos aqui, também recebi algumas aulas mas sem dúvidas ele é o melhor. 
-Eu sempre assistia apresentações na televisão, mas nunca pude tocar um piano de verdade, acho que seria algo muito bom para se aprender. - falei.
-Fique a vontade, ele esta um pouco empoeirado, mas esta muito bem cuidado.
   Me aproximei e sentei-me no banquinho, mas não consegui tocar como esperava, e um pouco de frustração tomou conta de mim.
-Relaxe - George falou, já se apresentando - aquela voz vinha se aproximando pela porta lateral. - O piano é um dos instrumentos mais complexos que existem, são poucos que realmente o dominam, você pode praticar quando quiser, talvez assim possa ir progredindo - prosseguiu o homem.
-Obrigado pela oportunidade. - falei gentilmente.
-Eu que agradeço, precisamos de um pianista urgente. - brincou ele para que descontrairmos. 
   Agradeci novamente e fui até o centro, passei na padaria da "Tia Colson", comprei pães e um bolo com o dinheiro que ainda restava em meu bolso. Levei até em casa e preparei um café, já passava das seis horas e meu tio estava um pouco mais quieto do que o normal, o levei alguns cobertores, liguei a televisão e o deixei assistindo seu programa favorito ali. 
   Já no meu quarto, voltei a ler o livro "A vida de Michael", após mais quarenta páginas retornei até a sala para levar meu tio ao seu quarto. Assim logo adormeci no sofá, assistindo a um programa noticiário.
   O sábado começou triste, mais uma vez a chuva deixava tudo um pouco mais sombrio, pelo menos à tarde foi um pouco melhor, o sol mal apareceu mas a chuva já havia ido embora. Procurei entre minhas roupas algo mais desconcertante, ou que não passase uma imagem ruim de mim para Hallie.
-Você precisa de roupas novas. - disse meu tio me olhando pela porta entreaberta.
-Talvez, mas eu não tenho como comprar coisas novas. Bem, o senhor sabe que não tenho dinheiro, muito menos um emprego.
-Sim, mas você cuida muito bem de mim, então acho que temos que concordar, que você precisa de roupas novas. - ele me entregou quatro notas de cinquenta dólares.
-Obrigado tio, eu lhe devolverei assim que puder.
-Não, é o mínimo que posso fazer por você Steve.
   Sai alguns minutos depois, parei na loja do senhor Dodgers, era realmente um senhor, eu lhe daria mais de setenta anos, mas mesmo assim não fui capaz de lhe perguntar a idade, só o admirei por ainda estar na ativa.
-Preciso de uma calça, uma camisa e uma jaqueta por favor. - falei.
-Bom dia meu jovem, espere um pouco aqui, vou lhe mostrar nossas melhores calças. - então ele saiu entre uma porta ao lado do caixa, enquanto eu fui até uma estante com blusas e camisetas.
-Pronto. - ele disse.
-Obrigado senhor. Vou ficar com esta - apontando para a calça com um tom mais escuro. Também já havia escolhido a camisa, então apenas restava escolher a jaqueta.
-Eu tenho três tipos de jaquetas. - ele disse - uma verde, uma vermelha e outra amarela.
-Fico com a verde. 
   Tudo pronto e me sobraram sessenta dólares, então fui buscar Hallie as sete horas, ela estava com um vestido vermelho, os cabelos presos e com um pouco de maquiagem.
-Olá - ela disse.
-Oi, como você está?
-Bem e você? 
-Nervoso.
-Por que?
-É a primeira vez que eu saio com uma garota.
-Ah, relaxa, vamos ao restaurante do Ronald, pode ser?
-Claro.
-A proposito, bela jaqueta, o senhor Dodgers falou de você.
-Como assim?
-Ele é meu avô.
-Bom, legal, ele é um idoso muito gentil.
-Obrigado.
   Logo que chegamos Hallie escolheu uma mesa perto a uma lareira, então passamos alguns minutos conversando até que viesse nosso pedido. 
   Ela contava de como gostava daquele lugar, de tudo que aquelas comidas representavam pra ela, que cada prato a deixava louca.. e logo fui percebendo que Hallie, era fanática por cozinhar e experimentar novas receitas.
   Avistei Taylor, que entrava com outro rapaz no restaurante, fui até ele cumprimentá-lo, então Taylor disse, que o rapaz também era um "novato" ali, que acabou de chegar de viagem.
-Boa noite, sou Steve, Steve Heslin. Seja bem-vindo a Bagley.
-Boa noite, sou Will, Willian Stangroom.

   Voltei até a mesa, onde Hallie me olhava com um tom de curiosidade.
-É o tal Will? - perguntou
-Sim, como você sabe?
-Taylor me falou que ele chegaria. Falam coisas sobre ele a algum tempo, é parente do fundador do nosso grupo da igreja.
-Quem?
-Daniel Thurow. Ele morou aqui até os vinte anos.
-Hum, bacana, o que dizem sobre o Willian?
-Que ele é um pouco sombrio, ainda mais depois do que aconteceu.
-O que aconteceu?
-A esposa dele faleceu. - ela sussurrou para que ninguém mais ouvisse.

   
   
    

 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 28/04/2014
Reeditado em 29/06/2014
Código do texto: T4786284
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