O Complexo de Portnoy, de Philip Roth

O Complexo de Portnoy (1967) é um romance escrito pelo norte-americano Philip Roth (1933 -). O livro é narrado na primeira pessoa e conta a história de um judeu moralista em uma situação de análise psicanalítica, que faz um retrospecto da sua vida em busca de explicações e soluções para seus problemas de ordem existencial, tais como angústias constantes, sentimentos de culpa despropositados e obsessões sexuais irrefreáveis.

O protagonista e narrador da história é Alexander Portnoy, um advogado de sucesso de 33 anos de idade, que trabalha como comissário adjunto na Comissão de Recursos Humanos da prefeitura de Nova York, ajudando pessoas pobres em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Filho de um vendedor de apólices de seguros de vida fracassado e impotente e de uma dona de casa histérica e manipuladora (ambos judeus), Alexander Portnoy é um homem moralista e inteligente, com uma personalidade em permanente conflito, que busca integrar seus valores morais de tradição profundamente judaica com os valores compartilhados pela população americana não-judaica – os chamados “Góis” – para tentar lidar melhor com os seus inconfessáveis desejos sexuais – que são invariavelmente reprimidos por Alexander Portnoy.

Ao longo do romance, Portnoy vai narrando de uma maneira não linear sua história de vida, desde a infância até a idade adulta, relatando seus sentimentos contraditórios, provocados por uma identidade confusa que integra a autoimagem de um “bom menino”, “obediente”, inteligente, brilhante, distinto e humanitário, mas que também integra a autoimagem de um homem pervertido, tarado, ressentido, egoísta e exibicionista, que se compraz desmedidamente ao relatar as suas condutas, tanto as exemplares quanto as execráveis.

O fato de o protagonista da história ser um judeu realizando um autoexame crítico de seus desejos e de suas crenças morais, diante de um psicanalista freudiano (que nunca intervém clinicamente), faz com que a narrativa seja ainda mais crível em seus detalhes narrados, permitindo ao leitor identificar-se ora com o papel do psicanalista silencioso que assiste impassível ao strip-tease moral do seu cliente, e ora com o drama muito humano do complexado Portnoy, por mais caricato que este se apresente ao longo de todo o livro.

Um detalhe interessante é que embora o livro de Philip Roth seja basicamente uma história envolvendo a dissecação moral de um homem bastante neurótico, este não é um livro chato, denso ou difícil. Aliás, muito pelo contrário: “O Complexo de Portnoy” é um excelente romance psicológico, e seu estilo é leve, irônico, divertido e desbocado, beirando, às vezes, o pornográfico.

A edição que eu li de “O Complexo de Portnoy” foi publicada em 2013 pela Companhia de Bolso, da Editora Companhia das Letras, e possui 240 páginas. Como complemento, o livro possui um glossário no final da edição com a tradução dos termos judeus utilizados pelo narrador ao longo de toda a obra.

Recomendo a leitura deste livro para todos aqueles que gostam de romances que contenham uma boa dose de bom-humor, degradação moral e linguagem despudorada.

Gabriel Feigel
Enviado por Gabriel Feigel em 24/07/2014
Reeditado em 06/01/2015
Código do texto: T4894283
Classificação de conteúdo: seguro