Aprender a ler jornais no Ensino Fundamental

PASTORELLO, Adriana. Aprender a ler jornais no Ensino Fundamental. Marília, 2005, 222 p. Dissertação( Mestrado em Pedagogia – Linha de pesquisa: Ensino na educação Brasileira – Abordagem Técnico-Pedagógica) – Faculdade de Filosofia e ciências, Campus de Marília, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

A presente resenha cumpre com o objetivo de incentivar a leitura deste trabalho, que é merecedor de atenção por ter se demonstrado um instrumento útil na formação de iniciação à leitura na primeira fase do Ensino Fundamental. A autora organiza sua tese em cinco capítulos bem delineados, o que facilitou o entendimento desta obra.

Neste primeiro capítulo, a autora aborda a concepção de linguagem que determina o conceito de leitura baseada na obra de dois autores russos: Vigotsky e Bakhtin. Pastorello (2005), desenvolve a idéia de que as ações sociais, portanto, humanas, decorrem de um aprendizado construído paulatinamente, através da apropriação do conhecimento já existente. Todavia, alerta-nos sobre o manuseio do conhecimento já existente e sobre a forma como é construído. Neste contexto, a linguagem é fundamental, pois “é a relação entre o pensamento e a palavra, num processo dinâmico ao longo do desenvolvimento destas duas categorias, estabelecendo uma interdependência contínua que promove o desenvolvimento do sujeito” (PASTORELLO, 2005, p. 27). No seio desse movimento, a autora ainda cita a importância da consciência do professor em relação à sua proposta de trabalho, pois é ele quem ajuda o aluno a aproximar-se da linguagem escrita. A autora adota a idéia de Bakhtin, sobre a filosofia da linguagem. Segundo o autor, a linguagem é um fenômeno social ideológico, que se dá através da interação verbal, logo, num constante devir. A palavra só faz sentido, se transfere alguma significação contextualizada ao momento em que se lê. Deste modo, a leitura não poderia deixar de ser a compreensão da simbologia do conjunto de palavras que o texto expressa. Pois como explica Pastorello (2005), a leitura deve ser pensada “como interação imediata e acessível de significados e sentidos” (p. 37). A autora ainda reforça que “a informação visual não garante a leitura, apenas acessa conexões cerebrais que constituem a compreensão” (PASTORELLO, 2005, p. 37). Neste viés torna-se objetivo a importância de estabelecermos uma relação com o ensino da leitura de maneira a explorar além do significado gramatical da palavra, buscando o sentido real, que só se alcança com o diálogo.

Pastorello (2005), no segundo momento de sua dissertação, explora um recurso que, segundo ela, pode contribuir de forma exemplar na formação de leitores críticos pela escola – o jornal. Em contrapartida, evidenciou a ineficiência dos livros didáticos em formar bons leitores. Segundo ela, o jornal é um instrumento capaz de cumprir com esta tarefa, tendo em vista a escrita contextualizada com a realidade local, o que oferece ao seu conteúdo maior significado por estar próximo do real. Assim, o jornal é um aliado do professor no sentido de possibilitar

o contato com questões prioritárias para todas as camadas sociais, e este fato o levará a estabelecer relações com as informações trazidas pelo material didático usado em seu dia-a-dia e os diversos problemas da sua vida social (PASTORELLO, 2005, p. 53).

Como sabemos, “para que o aluno se torne um leitor competente é preciso sentir necessidade de ler o material” (PASTORELLO apud FREINET, 2005, p. 57), assim, a autora confirma a utilidade do jornal por este instrumento ser mais atrativo devido à diversidade de temas atuais abordados por suas matérias, provocando a vontade de ler e proporcionando a interação verbal entre o leitor e o texto.

A autora ainda chama-nos a atenção para o papel da “forma” em relação ao “conteúdo” no processo de leitura, atribuindo-lhe o papel de seduzir o leitor e melhor apresentar seus textos. Para Pastorello (2005), o conhecimento da forma do veículo de informação, ou seja, como estar organizado, ajuda na compreensão do texto. Este pensamento é ratificado no quarto capítulo.

No terceiro capítulo de sua obra, a pesquisadora, na tentativa de estabelecer coerência entre o método utilizado e a prática dialética a qual defende, expõe os motivos que a convenceram a escolher a Pesquisa-ação como norteadora de sua pesquisa. Para pastorello (2005), que se embasa em autores consagrados como Thiollent e Habermas, a pesquisa-ação consegue aproximar o pesquisador do objeto de estudo, tendo em vista, que o processo deste método prevê “interação, comunicação, interpretação e planejamento das ações” (PASTORELLO, 2005, p. 73). O método propõe um diálogo entre o pesquisador e o objeto de estudo no momento de atividade, rompendo assim, com a dicotomia teoria-prática e unindo-as numa unidade dialética. Pastorello (2005) ainda se valeu de recursos como: pesquisa semi-estruturada, estruturada, e o método clínico de investigação, utilizado por Piaget.

Após a escolha e justificação da metodologia que seria utilizada, a pesquisadora trata em seu quarto capítulo sobre a realidade diagnosticada. Dentre os pontos destacados salientarei alguns considerados mais importante. São eles: A maioria dos professores lêem jornais, todavia, quase nenhum, trabalha a leitura a partir de jornais; os alunos dizem ler jornais, mas de acordo com os “gráficos 14 e 15, percebemos que conhecem pouco o que seja um seção de jornal” (PASTORELLO, 2005, p. 116); mais da metade das famílias dos alunos pesquisados assinam jornais, e mesmo assim, mais da metade dos alunos cujos pais são assinantes, não souberam dizer quais jornais eram assinados. Diante disto, constata Pastorello (2005) que o simples fato do aluno ter contato com o jornal não faz dele um leitor. A pesquisa demonstra que os professores incentivam outras leituras. Mas como a autora salienta no 2º capítulo ao citar Bakhtin, para que o aluno goste de ler é preciso que ele tenha necessidade de ler, e que este consiga entender o objeto de leitura em sua organização; é preciso que o aluno saiba navegar nas páginas do jornal, sem naufragar na sua estrutura, como aponta a pesquisadora. Por conseguinte, não basta que o professor incentive a leitura, mas, que dê instrumentos ao aluno possibilitando-lhe manipular, com sucesso, o objeto de leitura.

Em referência ao quinto e último capítulo, a autora reforça pontos relevantes à pesquisa, como por exemplo, a interação dialógica estabelecida entre a professora pesquisadora, e os alunos sujeitos da pesquisa. Reafirma também a necessidade de conhecimentos prévios para o manuseio do jornal, no sentido de equipar o aluno para o trabalho com jornais. Pastorello (2005) inicia, então, atividades seqüenciais que ensinam os alunos como está montado o jornal, em que consiste o jornal, como manusear o jornal para encontrar o que lhe é de interesse, utilizando inclusive métodos lúdicos no processo.

É de extrema relevância a necessidade apontada pela professora do aluno ter uma pessoa mais experiente ao lado para auxiliá-lo no manuseio do jornal. Pois, no percorrer das atividades, foi identificado o descontentamento, por parte de algumas crianças, em função de não estarem entendendo a atividade proposta.

Em suma, a autora acredita ter sido útil por ter notado que os alunos participantes da pesquisa conseguiram apropriar-se de um conhecimento que os possibilitou inclinarem-se rumo à postura crítica de leitura, evidenciando desta forma, o potencial do jornal – por mais que tenha uma leitura de difícil acesso – como um auxílio necessário na formação de bons leitores, mostrando também que os alunos tem plena capacidade de aprendizagem, bastando apenas a predisposição do professor em buscar alternativas de ensino que dêem um sentido real na aprendizagem dessas crianças.

Diante do exposto, não poderia concluir de outra forma, se não em ratificar como Pastorello (2005) consegue desenvolve seu trabalho com coerência abordando questões cruciais para o sucesso do trabalho, tais como: o processo de construção de linguagem e o de leitura, a escolha do material, o método de investigação, tudo funcionando em estreito sentido, para a efetivação do trabalho.

Adriano Rocha
Enviado por Adriano Rocha em 22/05/2007
Código do texto: T496419