OUTONO DE 68

Capítulo X, do romance OUTONO DE 68. O livro trata da paixão de um casal de adolescentes, ambientada na época da ditadura militar. Os amigos da faculdade, do colegial, seus sonhos, conflitos, e o que acontece num período de 20 anos. Publicado pela Editora Sulina (Porto Alegre), o livro está a venda em livrarias do Rio Grande do Sul, e pode ser adquirido por encomenda na rede de livrarias Cultura, Saraiva e da Travessa (Rio de Janeiro).

Capítulo X

Os estudantes se encontram nos fundos da Faculdade de Direito, e de lá tomam a rua, subindo a Avenida João Pessoa em direção ao centro. Os líderes, de braços dados, seguem na frente em cordão, gritando: “abaixo a ditadura”, “abaixo o imperialismo”, “mais vagas”, “mais verbas”. Tomam um lado da avenida, impedindo a passagem de carros. Atrás seguem os demais estudantes, que repetem as palavras de ordem. A turma de Augusto presente, com Lúcia participando ativamente ao lado de Tonho. Entram na Avenida Salgado Filho, fazendo com que os carros das ruas adjacentes esperem. As pessoas assustadas se afastam e os donos de lojas ficam atentos.

Ao chegar na esquina com a Avenida Borges de Medeiros, o inevitável encontro com a polícia. Os camburões param no meio da avenida e os policiais militares saem apressados em direção aos estudantes, que correm para a Rua da Praia. Subindo a avenida, um outro contingente de policiais obriga os estudantes a se espalharem pelos dois acessos da rua. Acontece o primeiro choque; pedras de um lado, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo de outro. Os comerciantes cerram rapidamente as portas. Correria por todos os lados, pedras contra os policiais, que se defendem com escudos e revidam com gás, e as ruas ficam envoltas numa névoa.

Na Rua Marechal Floriano, os estudantes incendeiam uma viatura da polícia. Os populares correm procurando as ruas onde não há conflitos. Os policiais atiram. Um estudante e uma senhora são atingidos, e uma ambulância chega pouco depois, para levá-los ao pronto-socorro. Um policial também está ferido por uma pedra. Algumas pessoas, dos edifícios, jogam objetos nos policiais. Novos estampidos, ambulâncias correm de um lado a outro, mais feridos. O reforço policial chega em viaturas e também a cavalo, e percorrem as ruas do centro. A turma de Augusto se dispersa. Roberto vê os policiais efetuando várias prisões e consegue escapar, subindo a Rua da Praia em direção à Praça Dom Feliciano. Refugia-se no edifício onde seu pai tem escritório, e do alto do prédio, observa a correria pelas ruas. A polícia cerca todo o centro e prende centenas de estudantes. Algum tempo depois, a normalidade volta às ruas e as pessoas já circulam, embora bastante assustadas. Roberto aguarda o final do expediente de seu pai, para ir embora no carro dele. Seria arriscado caminhar, a polícia ainda está no centro. Alguns à paisana. Roberto pensa nos amigos. Será que escaparam? Reflete.

Marco Vieira
Enviado por Marco Vieira em 21/05/2015
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