Um título errado

UM TÍTULO ERRADO

Miguel Carqueija

“O encubado”, de Rogério Amaral de Vasconcellos. Nova Coleção Fantástica nº 3, setembro de 2003 – Edições Hiperespaço, São Bernardo do Campo. Capa e prefácio: Cesar Silva (Cerito).

Rogério Vasconcellos tenta, nesta noveleta, desenvolver uma ficção científica de estilo clássico, no velho clichê da ameaça poderosa e quase incompreensível que vem de alguma parte do Cosmos. Numa narrativa em contraponto consegue despertar o iteresse, criar um certo suspense e apresentar alguma riqueza de linguagem e estilo.

Pode-se lamentar, sim, a fixação por detalhes sexuais inconvenientes, como também acontece na novela que deu início ao ciclo compartilhado SLEV; e certo hermetismo de linguagem, que torna a trama algo obscura e subjetiva. Mesmo assim Rogério construiu uma história mais leve para quem, como ele, perfilou na FC barra-pesada, problematica vertente com vários seguidores no Brasil. “O encubado” trabalha razoavelmente com a imaginação, ao descrever os apuros da colonização humana no planeta Trion, que orbitava num aglomerado estelar.

Infelizmente, um erro fácil de corrigir escapou: o título não se refere a um “encubado” (ou seja, “colocado num cubo”, é o significado literal) mas um “incubado”, em gestação. Cochilo de autor e editor...

Contudo, o enredo tem a qualidade de colocar uma situação de mistério e perigo na exploração do Cosmos, um assunto clássico da ficção científica, além de enganar os leitores na interpretação dos acontecimentos, num truque inteligente mantido durante quase toda a história. Entretanto, parece-me demais que o ser incubado tivesse um nome — em suma, a novela tem qualidades e senões que se contrabalançam.

Rio de Janeiro, 21 e 22 de maio de 2010.