Nihonjin

O livro "Nihonjin" ("Japonês", na língua japonesa), do escritor Oscar Nakasato, ganhou o prêmio Jabuti de 2012 de melhor romance. Parece que, na época, o fato suscitou uma polêmica relacionada a uma possível manipulação do resultado por parte dos jurados, causada talvez pelo seu tema, inédito, exótico e estranho para os padrões temáticos na literatura brasileira. Talvez tal polêmica, injusta, tenha surgido a partir de críticos ou concorrentes que não se deram ao trabalho de lê-lo, simplesmente por uma posição preconceituosa ou dogmática. Caso o tivessem lido, talvez mudassem de ideia.

O livro é fácil de ler, tem uma linguagem simples e direta, não se prende a detalhes descritivos ou a firulas ou experimentações estilísticas próprias de obras que concorrem a prêmios literários. Por isso mesmo você o lê rapidamente como se estivesse assistindo a um filme, envolvendo-se e emocionando-se com os conflitos e dramas humanos vividos pelas personagens.

Nakasato, neto de imigrantes, para desenvolver seu tema, a conturbada imigração japonesa no Brasil, centra-o, enfocando um período que envolve três gerações, na figura de seu avô materno, um homem controverso, de convicções nacionalistas, xenófobas e raciais polêmicas, que torna-se o pivô de dramas que acabam por afetá-lo diretamente em suas relações familiares. É um dos imigrantes que se engajaram na organização chamada Shindo Renmei, que defendia a ideia fanática e absurda de que o Japão, em vez de perdê-la, ganhara a Segunda Guerra Mundial, o que vai mais tarde desenvolver nele um sentimento de culpa em relação a um trágico fim de um familiar esclarecido e mais engajado à sociedade brasileira.

Ao relatar fatos reais, Nakasato busca, nas personagens reais que os viveram, imaginar, com sua capacidade criativa (uma vez que não teve contato real com algumas delas ou, se teve com outras, não assistiu aos acontecimentos a elas associados), como foi o processo, algumas vezes doloroso, pelo qual cada uma delas passou para chegar ao seu destino . Busca não fazer julgamentos pessoais sobre tais personagens (isso ele deixa para cada leitor fazer os seus), mas apenas um retrato objetivo dos sentimentos humanos, bons ou ruins, que permearam suas vidas, como a dor pungente da saudade, de uma imigrante, da neve na terra que deixou, a amizade possível entre raças, a convicção ideológica, a xenofobia e o racismo (tanto de japoneses como de brasileiros), a dor e as consequências dramáticas da separação de uma mãe que abandona a família por paixão, a mesquinhez na partilha de uma herança. Todos os elementos que convergem para fortes emoções estão presentes nessa que foi uma história única de trabalho duro, luta, paixão, fanatismo, frustração, engano e dor, a história da imigração japonesa no Brasil.

Deve-se sempre contextualizar cada ação humana retratada dentro das

circunstâncias históricas, morais e culturais nas quais estava inserida, motivo pelo qual devemos ter um certo cuidado com nossos julgamentos próprios, que estão necessariamente inseridos em um novo contexto cultural e moral.

O livro tem apenas 175 páginas, e, quando se chega ao seu final, a sensação que fica é a de "puxa, já acabou?".

Por tudo isso, pela sua temática universal, que aborda, não a idiossincrasia de uma determinada etnia, mas as profundezas da alma humana, recomendo a leitura para todos os brasileiros, descendentes ou não descendentes de japoneses.

O livro custa metade do valor do ingresso num cinema e dá um retorno cultural e emocionalmente prazeroso bem maior do que muitos filmes a que assistimos (aliás, torço para que esta história seja filmada).

Boa leitura.

PS: Veja também outro comentário neste blog:

https://paisagensdacritica.wordpress.com/2013/01/10/nihonjin-de-oscar-nakasato/

Paulo Tadao Nagata
Enviado por Paulo Tadao Nagata em 25/09/2015
Reeditado em 11/07/2022
Código do texto: T5394445
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