No labirinto cibernético

NO LABIRINTO CIBERNÉTICO
Miguel Carqueija


Resenha do romance “Condão”, de Giordano Mochel Netto. Editora Novo Século, São Paulo, 2015.

Este romance de ficção científica, de um autor brasileiro que eu não conhecia, é volumoso, chegando a perto de 400 páginas, e parece pertencer ao subgênero conhecido como “cyberpunk”, com o qual não tenho familiaridade. Trata-se de uma aventura recheada de jargão cibernético e situações difíceis de compreender, numa distopia passada em futuro não demasiado distante porém demasiado diferente. Um mundo onde drones, adquirindo vontade própria, começam a matar seres humanos, e onde um humano já metamorfoseado em ciborgue – e até em criatura virtual – adquire o controle do Brasil e sonha em dominar o mundo inteiro. Um grupo rebelde vai se formando e desenvolvendo uma rebelião para libertar a humanidade de uma teia de mentiras, ocultamentos e arbitrariedades que resultaram numa horrenda distopia, extremamente controladora por tecnologia de ponta.
Apesar de suas ambições o romance é fraco, tendo em vista diversos defeitos identificados na paciente leitura. Um deles é o excesso de explicações nos primeiros capítulos. Ora, na ficção científica quanto menos explicações o narrador onisciente der, melhor. A trama deve explicar a si mesma. Não é fácil, mas é como deve ser, para que a leitura não fique forçada, didática.
Outro problema é o excesso de personagens e a sua superficialidade psicológica. Finalmente, a trama é tão complicada e por vezes mal narrada – trechos enormes em linguagem telegráfica, sem vida – que o leitor é levado a perder o interesse. A certa altura, desmotivado, eu já não entendia metade do que lia, tendo perdido o fio da meada. O final é desinteressante, inconvincente, o que já se pode prever de longe.
Pode alguém perguntar: a obra tem pontos positivos? Sim, se for considerada por exemplo a riqueza vocabular e técnica, que poucos autores possuem. E, para quem gosta da derivação cyberpunk da ficção científica, é um prato cheio. Eu confesso que não aprecio o cyberpunk.


Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2015 e 3 de janeiro de 2016.

NOTAS - quero agradecer ao autor a gentileza de ter-me enviado o exemplar.
Lembro ainda aos leitores que não estão obrigados a concordar com o resenhador-crítico. Na rede há indicações bem mais favoráveis a este livro, mas coloquei minha opinião sincera.