Cultura Negra e Dominação

BARBOSA, Wilson. Cultura negra e dominação. Rio de Janeiro, Ed. Unisinos. 2002. 132p.

Wilson do Nascimento Barbosa é graduado em Economia e Estatística pela Universidade de Lund - Faculdade de Ciências Sociais (1974), Mestrado em Economia Internacional pela Universidade de Lund - Faculdade de Ciências Sociais (1975) e Doutorado em História pelo Instituto de História Econômica pela Universidade de Lund - Faculdade de Ciências Sociais (1984). Atualmente é Professor Titular da FFLCH da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Moderna e Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: história econômica, economia, cultura do negro brasileiro, cultura negra no Brasil.

Desde os anos de 1960 participa do movimento negro.

Depois de anos em luta pelas questões raciais e busca de reconhecimento do povo negro, em 2002, Barbosa publica Cultura negra e dominação, este, composto de seis capítulos em que são apresentados fatores estruturais e sociais que geram a desigualdade racial no Brasil. Na obra em análise há uma discussão diacrônica, uma vez que foram observados grupos étnicos de mesmo tempo, mas que foram tratados de forma desigual pela sociedade.

No primeiro capitulo de "Dominação e culturalidade" é apresentado os aspectos da dominação cultural, o uniculturismo, a cultura dominante se confundindo com sua própria ideologia social, de forma que existe somente uma cultura correta, superior a todas as outras, cultura esta, que não visa ser somente a dominante, mas a única de todas, consequentemente, como afirma Wilson; surge um amplo espaço para a indiferença, havendo o mal e o bem, a classe de mais poder social é rotulada como agente do bem, enquanto as demais são estigmatizadas.

Sabe-se que a Afrocultura brasileira foi temida pelo governo desde a República Velha e a preocupação das autoridades era o “perigo da africanização” devido a isto a elite dominante durante séculos oprimiu as demais culturas, não estabelecendo um diálogo sadio entre as multiculturas, por mais que o discurso dos dominadores seja diferente da prática, no geral tudo não passa de uma hipocrisia em que o desejo primordial da elite é de obter o desaparecimento das culturas diferentes e minoritárias.

Em "Assimilacionismo e multiculturalidade" é retratado as dificuldades de uma sociedade heterogênea enquanto baseada em esquema de dominação cultural se tornar justa e democrática. Sociedade esta, que se vive extremamente frágil no quesito renovação, as mudanças ocorrem lentamente. Contudo, a sociedade é constituída sem consideração mútua entre seus membros, o capital faz com que uma classe se distancie mais das demais modificando e influenciando as de menor poder. Por mais que o movimento negro busque reconhecimento de sua gente, é notório que o Estado e as demais estruturas do poder tratam essas questões de forma banal, levando as comunidades apenas mais um discurso.

No terceiro capitulo "A centralidade do outro" foi aludido que desde ao longo dos tempos o negro sempre foi minoria nas instituições formais brasileiras. Tal fato conduz as pessoas pensarem que o afro-descendente seja um grupo bem menor na sociedade, o que de fato não é bem assim! Trata-se de ser o maior subconjunto isolado do país. O mais pobre, o mais desempregado, o de menor escolaridade, o que recebe menos... Coincidência? O autor explica que todas as respostas estão baseadas nos aspectos antecedentes que tem como fonte explicativa a pratica do racismo que os mesmos sofreram e vivenciam isto até os dias de hoje.

Interessante é que a comunidade dominada passa a adotar o discurso do outro, como base de esperança para sua real situação e muitos negros esperam igualdade social, acreditando nisto transferem suas promessas e crenças as suas futuras gerações, acreditando que um dia tudo isso chegará ao fim. Numa sociedade heterogênea em que há o certo e o errado, a cor da pele e a condição social já define os papeis, em qualquer situação já há um rótulo para a raça negra como a acusada. Diante desses preconceitos, os negros chegam a adotar estratégias de branqueamento, marcando ainda mais a centralidade do do outro e diluíndo sua etnia, pois muitos não sentem orgulho de seu tom de pele.

Em "Kalunga, capenga e Kakunda" o autor norteia o leitor aos mitos africanos na cultura brasileira. Muitas estórias são contadas e contidas nelas sua moral e observação. Abordando aspectos mitológicos, no capítulo seguinte em "A africanidade da mitologia grega", Wilson recorre às discussões da literatura brasileira ao afirmar que durante muito tempo acreditava-se que a mitologia afro-brasílica tenha surgido dos maus tratos da escravidão nestas terras, no entanto esta base é fundamentada na mitologia africana.

Com a criação das raças “branca” e “amarela”, o homem originalmente “negro” tornou-se diferenciado. E toda essa diferença provocada pelo outro (branco) no continente ocidental que foi disseminada em todo o mundo, esteve modulada pela religião, pelos valores pela cosmogonia, fortalecendo a Europa com sua forma de ser ocidental e dominadora. “ocidente” este, que é apenas um “acidente” no horizonte africano.

No último capítulo "Estou de pé", conforme Wilson, a globalização trazida pelas novas gerações contribuíram no processo de valorização da cultura afro, apesar da população negra ser noticiada pela mídia como a mais desfavorecida socioeconomicamente, nos últimos vinte anos houve um grande progresso desse grupo étnico, mesmo havendo pontos negativos que desfavoreça o crescimento do negro nas distintas comunidades, pode se dizer que na sociedade brasileira o negro continua de pé, porque longe de excluir o direito dos outros, ele têm contribuído para construir a pedagogia da diferença no Brasil e acima de tudo permanecer forte na luta pela igualdade não se calando diante do racismo. Sabe se que a busca pelo respeito e igualdade social nunca deve ser baseada no autoritarismo, na centralidade de “um outro”, mas no respeito as mais diferentes povos e ideologias.

A obra analisada de Wilson Barbosa é de imensa contribuição para os estudos da cultura afro e, além disso, é mais uma forma de mostrar que a sociedade negra permanece viva na gênese brasileira. Por mais que haja muitas forças contrárias e que as mesmas tentem excluir o “tom negro” da cultura brasileira, o negro continua resistente, uma vez que, ele ajudou a incrementar nossa cultura, seja na culinária, manifestações artísticas, danças, costumes.

É certo que o preconceito racial ainda sobrevive e somente com investimentos na área de educação e a punição para atos discriminatórios podem diminuir cada vez mais a ideologia racista predominante.Não é o sucesso de alguns negros que vai abrir o caminho para os outros, da mesma maneira que não é reservando cotas em faculdades, mas sim a melhoria do ensino público que pode diminuir a diferenças instrucionais que permeiam em cada classe étnica social.

Borboleta ao vento
Enviado por Borboleta ao vento em 06/03/2016
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T5565033
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