A VIDA NA SARJETA THEODORE DALRYMPLE

O livro A Vida na Sarjeta: o círculo vicioso da miséria moral (Life at the Bottom: The Worldview That Makes the Underclass), consiste na compilação de 22 ensaios escritos pelo médico psiquiatra inglês Theodore Dalrymple (codinome de Anthony Daniels).

Theodore Dalrymple exerceu a medicina em países africanos e, após retornar à Inglaterra, em um hospital de uma região pobre e em uma penitenciária; Theodore usa sua experiência profissional para relatar a situação miserável da subclasse britânica.

Os textos contêm situações reais, a maioria ocorrida em consultas e atendimentos realizados pelo próprio Dalrymple, que nos trazem a vida de pessoas que não são pobres especificamente em termos financeiros, mas que são moralmente miseráveis.

I. Realidade Sombria.

A liberdade acarreta responsabilidade, que os infratores da lei apos o cometimento de crimes buscam justificativas para se isentarem de suas culpas e responsabilidades, tentando criar concepções de que o vicio em geral e uma doença caracterizada por um ímpeto irresistível, onde um viciado não tem culpa por seu comportamento.

Os criminosos sempre tentam transferir suas responsabilidades para outro local, como perda de equilíbrio emocional, cabeça quente, ou seja, sempre uma desculpa apos outra.

Colocando se como vitimas e não como autores, e quando voltam a reincidirem em suas condutas culpam o sistema.

Mas quando o sistema tenta reintegrá-los oferecendo cursos profissionalizantes as fugas são sempre as mesmas, ou seja; quando colocar a cabeça no lugar, as idéias em ordem, e outras desculpas que se incorporam no eterno corolário do ciclo vicioso.

No fundo essa recusa por responsabilidades esta em uma profunda desonestidade, e quando estão diante dos psicólogos culpam a infância, a pobreza, a violência.

Zombam dos pobres e tolos que ganham a vida honestamente e nunca ficam ricos.

Zombam da policia dizendo que os policiais projetam sua raiva neles, que são vitimas de um sistema desigual, que os policiais agem por livre arbítrio.

Os criminosos se apresentam como vitimas, e de tanto repetirem as mesmas acusações eles mesmos começam a acreditar, e uma constante negação de culpa tanto jurídica quanto moral, surgindo assim uma legião de voluntários em sua defesa, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas, cuja renda depende da incapacidade de outras pessoas.

Que acabam por legitimar tais comportamentos, vindo a tona a filosofia marxista de que a existência social que determina a consciência.

A pobreza, entendida como ausência ou escassez de meios para a própria subsistência, tornou-se um fenômeno raro em alguns países desenvolvidos. O pobre passa a ser aquele que possui menos que o rico.

O autor narra relatos de historias de overdose. O passeio pela enfermaria se liga ao desconhecimento da realidade e a busca voluntaria pela angustia, ou melhor, maus tratos intencionais.

A Inglaterra ostenta altos índices de comportamentos suicidas, mas o numero de suicídios são baixos, e com o estudo o que vemos e que as tentativas de suicídio são válvulas de escape para problemas judiciais, necessidade de trabalhar e outras fugas que justifiquem a miséria moral humana.

Mas ao contrario como na áfrica onde a vida e uma luta constante por água, lenha,comida a vida confere um sentido diferente a existência, La tudo faz mais sentido pois as mentes estão sempre envolvidas em como sobreviver mais um dia.

Contudo, o autor constata que a vida dos pobres britânicos, por mais confortável que seja se comparados a países em situação mais degradante economicamente, não os separa da miséria moral.

A combinação do protecionismo estatal com a visão de mundo que parte da subclasse construiu para si, onde o estado se torna responsável por seus cidadãos.

Esta visão influenciada por intelectuais criou praticamente uma casta de indivíduos que nascem nessa situação de pobreza e da qual dificilmente conseguem sair, criando um circulo vicioso, onde quem consegue ser mais vitima mais benefícios terão.

E com isso os efeitos negativos advindos da consolidação do Estado de Bem-Estar Social. O assistencialismo tende a gerar na sociedade um ambiente de indiferença e individualismo onde ser vitima passa a ser uma profissão garantida pelo ente estatal.

E assim Dalrymple prossegue (são marido e mulher infelizmente). Mostrando os conflitos surgidos devido a padrões culturais crenças e expectativas diferentes, advindo de imigrantes que mesmo apos anos vivendo na Inglaterra ainda mantém sua cultura como fonte de sua existência.

Mas os filhos dos imigrantes por terem sido criados em uma cultura diferente não aceitam os costumes impostos pelos pais, gerando conflitos existenciais, são casos de casamentos arranjados que só trazem infelicidade as mulheres que não ousam ir contra a família para não trazer vergonha aos pais e a comunidade local.

As mulheres se submetem a violência de seus parceiros se tornando vitimas de si mesmas, cedendo a caprichos, passando a viver uma cegueira intencional.

Tudo isso advindo de raízes históricas com bases na revolução sexual, que transformou o desejo como parâmetro para todas as coisas, o que, no fim, acaba por levar diversas mulheres a fazerem escolhas em relacionamentos que as levam a situações de submissão as agressões.

Tal programa de liberalização sexual foi executado nas classes mais baixas da sociedade, mas seus resultados foram diferentes do previsto, trazendo um aumento de violência entre os sexos por razoes prontamente compreensíveis.

Onde a violência segundo a visão das mulheres não e nada mais que excesso de cuidado, e quando entram em um relacionamento com uma pessoa normal passam a achar esse tipo de parceiro indiferente e distante (Um Amor de Valentão).

As tatuagens exprimem sentimentos e grupos, permitindo vislumbrar o mundo moral Hobesiano, onde a dor da tatuagem faz com que tais indivíduos se sintam vivos, as tatuagens dividem grupos e exprimem sentimentos (dói logo existo).

O uso excessivo da televisão como meio de distração, mesmo que as pessoas não sejam capazes de descrever seu conteúdo, serve para manter cérebros parasitas inertes e distantes do mundo real, com conteúdos embalados por futilidades e excessos.

A juventude da subclasse se entrega as noites em boates em um ambiente de festas de som alto e muita bebida e o uso de entorpecentes, isso serve para que os freqüentadores se esqueçam de suas vidas e apaguem suas lembranças. A violência e a vulgaridade passam a ser um padrão social, trazendo marcas nítidas do propósito de fuga da realidade (Festa e Ameaça).

No tocante ao uso da inteligência, o autor dedica parte importante dos ensaios à questão da educação.

Poucos jovens de 16 anos conseguem ler e escrever, e quando fazem algum tipo de leitura não tem compreensão do que esta escrito.

A educação tem um aspecto compulsório, os jovens estão condenados a viver em um eterno presente sem conexão com o passado, ou um futuro que possa surgir.

Assim e a visão dos jovens diante da sua formação cultural, não tem o por que de se intelectualizarem, pois nem emprego tem.

Assim passam uma vida fugindo de si mesmos, não ha a idéia de como o cultivo intelectual seja um bem para si mesmo.

Vivendo em um ambiente onde indivíduos não possuem interesses e encaram qualquer forma de esforço como perda de tempo, a educação, que poderia ser um meio de fugir do mundo da subclasse, é amplamente negligenciada (Não Queremos Nenhuma Educação).

Não e só a subclasse que e detentora da violência, avançando para a classe media, hoje as moças da classe media se tatuam e usam piercing.

Tais adereços são símbolo de rebeldia, de independência intelectual e identificação, os jovens usam um tom ríspido, e a isso se determina grosseiro chique, a classe alta vai começando a sentir vergonha de ser intelectual e passam a imitar a subclasse.

Criando um ciclo vicioso, tornando o ambiente dominado pelo relativismo, multiplicando os padrões comportamentais, disseminando as idéias da subclasse, e assim progressivamente tais ideais vão se espalhando pelo restante da sociedade (É Chique Ser Grosseiro).

Ha o rompimento dos vínculos sociais e familiares, uma entrega voluntaria do ser humano que busca refugio na lei divina. Onde a Fe e usada como meio de dominação no caminho da salvação.

As igrejas se propagam como fogo em mato seco, se multiplicando, e degradando cada vez mais a espécie humana, as idéias próprias já passam a não existir mais, elevando ainda mais a miséria humana (O coração de um mundo sem coração).

Os britânicos tem uma postura curiosa com relação à riqueza, desejam para si, mas negam aos outros.

O jogo se torna uma válvula de escape, passa a ser uma oportunidade Igual para todos, tornando o esforço e o talento meros objetos do acaso, princípios redundantes.

No jogo, todos tem a mesma chance, gerando o entendimento de igualdade, criando esperanças nas pessoas em desespero, o jogo em suas múltiplas formas ascende esperanças dos desiludidos

São bingos, corridas de cavalo, de cães e outros tantos tipos que contribuem para espoliar os que já têm tão pouco.

As casas de aposta acabam se tornando uma cultura, um modo de vida, o jogo desfaz as barreiras sociais tornando todos iguais, se tornando um imposto sobre a falta de esperança e sobre a impaciência (Não Há um Pingo de Mérito).

As oportunidades são em grau de igualdade. Em uma mesma família temos doutores e presidiários.

Tudo e uma questão de escolha, sendo os filhos advertidos com antecedência dos riscos, escolhendo seus caminhos conscientemente, não é o modelo social que por si só impede a mobilidade, estando o principal fator obstativo na mente dos indivíduos, na visão de mundo adotada por parcela da subclasse, que sempre busca um subterfúgio como fuga da realidade. ,

Fazendo parte de uma cultura de classe, que favorece o surgimento de uma forma auto justificativa destrutiva, atribuídas a pressões externas, obedecendo a caprichos que brotam do nosso intimo.

Dando carta branca para tal comportamento, sentindo bem em agir mal, criando uma perspectiva de liberdade sem responsabilidade, o exercício da liberdade requer virtude e responsabilidade, pois são os pensamentos que determinam o curso de uma vida.

Tal fato é demonstrado por Dalrymple através da análise das famílias de imigrantes em especial de indianos.

Ao mesmo tempo em que muitos indianos entram em universidades e sobem na escala social, outros optam pelo caminho das drogas e do crime.

Muitas vezes, tais fenômenos são percebidos nas mesmas famílias, o que denota a importância da escolha pessoal por adotar ou não a visão da subclasse. (Escolhendo o Fracasso)

A opção de estar na rua em grande maioria vem de fugas, problemas internos, pois todos que perambulam vieram de algum lugar por vontade própria, nada se exigindo deles, se tornando uma vida parasitaria (livre para escolher).

Qualquer beneficio recebido e um direito, a pobreza esta na alma, e não na falta de bens materiais, as pessoas se sucumbem ao estado do bem estar social, ficando dependentes e omissos consigo mesmo (o que e pobreza).

As pessoas sempre escolhem os caminhos menos cansativos, todos sempre concordam que todos os caminhos são iguais, se esquecendo de que a vida e uma biografia e não uma serie de momentos desconexos, a educação que receberam foi por obrigação e não absolveram a cultura que os rodeava.

E com o passar dos anos de juventude e de uma série de caminhos errôneos, ilegais ou autodestrutivos, parte dos membros da subclasse aprofunda em sua existência tediosa.

É o resultado da opção sempre pelas alternativas que pareciam mais fáceis. Nunca foram ensinados a utilizar a própria inteligência, mas apenas a buscar a satisfação imediata de desejos, aos quais se entregaram supondo estarem junto ao senso comum (Perdidos no Gueto).

As agencias de bem estar social dividem as pessoas em grupos raciais para propósitos estatísticos, o medo de ser considerado racista impede que os profissionais exponham um ponto de vista coerente, submetendo aos efeitos de pressões e idéias dos intelectuais radicais sobre a atuação policial (E, Assim, Morrem ao Nosso Redor todos os dias).

As pessoas aprendem que emitir juízo de valores e errado, que devemos aceitar as pessoas como são, sem se importar com o comportamento danoso em suas vidas, culpando o mundo organizado e atribuindo suas falhas a injustiça social.

Somente se importando em ter um teto alimento e uma televisão, pois julgam não ganhar nada com esforço pessoal, buscando sempre o que e mais divertido e menos tedioso a cada momento, e valorizando o tempo como riqueza, para aplicá-lo em momentos de futilidades existenciais.

II Teoria ainda mais sombria.

Nem um medico, policial ou programa assistencial pode mudar a vida de quem não quer ser ajudado, de qualquer modo não emitir juízo de valor não e tão isento de juízo. (o ímpeto de não emitir juízo)

A nova Zelândia tem um padrão igualitário diferenciado, e difícil distinguir um medico de um mecânico, com altos índices de renda per capta, constituindo um dos melhores padrões de vida do mundo, uma sociedade prospera e democrática, na qual deveria ser isenta de crimes, tendo sido um dos primeiros países a desenvolver o estado do bem estar social.

Desta forma chega se a conclusão de que a decisão dos criminosos em cometer seus crimes devem ter antecedentes, mas estes não devem ser buscados Na pobreza e no desemprego, nem mesmo na desigualdade, tendo em vista o estado do bem estar social que rege a situação cotidiana na nova Zelândia. (Qual e a causa do crime).

A normalidade das ações criminosas só enfatiza a inconsciência do crime, as alegações partem de que somos todos criminosos, e que quando todos são culpados todos são inocentes.

Ou a teoria marxista de que a lei não tem conteúdo moral, sendo expressão de grupos de interesse, o rico contra o pobre, ou do capitalista contra o trabalhador, e que a conduta ilegal e normal.

E que tudo e uma vingança de uma sociedade injusta, e aqueles que são pegos são vitimas do acaso, ou que a policia os persegue injustamente, tudo depende dos outros e não deles mesmos.

Em certo sentido torna-se verdadeiro certas alegações, pois a falta de orientação adequada ou de controle faz com que as pessoas se sintam perdidas, mas isso não deve acobertar a falta de sanções estatais, e de dar causa da criminalidade um conceito biológico e natural.

E sim de que o comportamento humano e produto de consciências individualizadas, onde a causa do crime e a decisão de cometê-lo.

O crime não e uma força misteriosa, e um ato humano, sendo resultado de idéias próprias, e não de patologias congênitas que tentam ser provadas a todo o momento.

Os presos se julgam doentes e necessitam de tratamento, e acham que não justifica o encarceramento, e que os juízes não podem condená-los pelos seus cérebros disfuncionais.

E o ponto de vista de que a prisão e uma instituição terapêutica e reforçada pelos atuais criminologistas e pela imprensa.

A grande maioria das teorias levam a justificação dos criminosos, mas dentro das prisões tendem a seguir regras fazendo tudo que e solicitado, passando de vitimizadores a vitimizados. (Como Os Criminologistas Fomentam o Crime).

A polícia e componente necessário a qualquer sociedade civilizada, mas se torna impotente, pois não e capaz de concertar os erros sociais.

Pois errar e humano e perdoar e divino, e a liberdade de uns passam a ser a prisão de outros, infligidas pelo terror, a policia existe para manter um estado de esquerda, onde se sujeita as pressões para se manter(policiais no pais das maravilhas).

Não podemos afirmar que desejamos o bem de alguém a menos que partilhemos seus sentimentos, o intelectual burguês precisa encontrar razões para sua intolerância e opiniões.

O intelectual nunca reconhece que sua liberdade se deve a existência da policia, e em sua opinião intelectual o pobre detesta a policia, e com isso a policia fica enfraquecida. (Intolerância zero).

O desprezo pela catástrofe social forjada sempre foi mascarada como compaixão, uma cegueira propositada.

Vivemos em um mundo de interesses próprios onde às classes se individualizam e pregam ideologias de grupos que se enraizaram no poder, o estado social e fraco em sua própria origem, pois as vitimas só se submetem enquanto lhes forem favoráveis.

Mas quando a massa se revolta os fracos tendem a seguir a maioria por não terem idéias próprias.

Como e o caso do Brasil na atual conjuntura, mesmo que o nordeste se cale o resto do pais faz com que as forças sociais se movam para com que não percam sua credibilidade, os aliados de outrora se fundem a força opressora em cima dos antigos opressores.

E quando se passa de opressor para oprimido levantam a bandeira de vitima, não levando em conta o mau uso do poder enquanto detentores. (Ver Não e crer).

Nossa realidade não e muito diferente da que foi discutida no livro, estas questões afetam a sociedade brasileira como um todo, mas exerce influência mais perniciosa exatamente sobre a parcela mais pobre da população, a quem supostamente os progressistas buscavam favorecer. Aqueles que se venderam por uma cesta básica e um vale gás.

Mas o livro deixa claro que todas estas transformações sociais foram e são propagadas pelos intelectuais como formas de luta contra opressões, mas a destruição sistemática das reservas morais não trouxe o esperado reino da liberdade e da felicidade.

E sim a expansão da miséria moral, pois a população se vendeu por algo que só denegriu mais ainda sua condição de vida.

Ao invés de ensinar a pescar o estado lhes deu o peixe, mas isso e só mais uma forma de escravização mental. A mídia tem um papel semelhante, induzindo a todos ao seu interesse próprio, e depois se vendendo a quem pagar mais.

O povo vive com algemas na mente, a doce ilusão de que um dia ganharão na loteria e mudarão de classe social, mas se esquecem de que o dinheiro pode tirar o pobre da favela,mas nunca a favela de dentro do pobre.

Ficha Técnica;

Titulo: A Vida na Sarjeta – O círculo vicioso da miséria moral

Autor: Theodore Dalrymple

Tradução: Márcia Xavier de Brito

Editora: Editora É

Ano: 2015

Gênero: Ciências Humanas e Sociais

Subgênero: Crítica Cultural

ISBN: 978-85-8033-168-4

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária superior pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)

THEODORE DALRYMPLE
Enviado por paulocastro em 29/03/2016
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