RESENHA DO LIVRO ENTRE TODOS OS HOMENS

Livro revela uma versão surpreendente sobre a vida de Jesus

O frade dominicano Frei Betto, um dos maiores intelectuais brasileiros da atualidade, apresenta a sua versão sobre Jesus no livro Entre todos os homens, romance que descreve a vida humana do Filho de Deus, lançado pela editora Ática, em 1998.

Carlos Alberto Libanio Christo, conhecido como Frei Betto, nasceu em Belo Horizonte (MG), em 1944. Ganhou prêmios em reconhecimento pela grandeza de suas obras literárias e por sua atuação em defesa dos direitos humanos. Com títulos editados em mais de trinta países, é autor de 54 livros, entre os quais destacam-se Batismo de Sangue, Cartas da Prisão, A Mosca Azul – Reflexão sobre o poder, Alucinado Som de Tuba, Calendário do poder, Essa escola chamada vida (com Paulo Freire e Ricardo Kotscho), Hotel Brasil e Mística e Espiritualidade (com Leonardo Boff).

Entre todos os homens é um romance de vinte e nove capítulos e um epílogo contendo dados históricos sobre os principais personagens bíblicos do Evangelho. Nele, o autor desnuda o fanatismo e as interpretações desprovidas de contexto social e histórico das versões conhecidas pela maioria dos cristãos. O livro emociona pela vivacidade da narrativa e riqueza descritiva dos cenários e paisagens. Surpreende pela visão que o autor tem sobre o Messias: um homem de pele morena e barba escura, que ora bebe vinho e dança numa festa de casamento, ora realiza milagres.

A obra é baseada numa rigorosa pesquisa da Bíblia, da cultura e da geografia da Palestina. Frei Betto descreve com perfeição os detalhes das paisagens, do Templo de Jerusalém e dos costumes e rituais religiosos dos palestinos, o que faz suscitar no leitor imagens e impressões sobre o cenário da história. A linguagem é robusta, vigorosa, porém, a complexidade lexical pode oferecer dificuldade de compreensão para alguns leitores.

O escritor dominicano apresenta Jesus como um revolucionário que desafia os doutores da lei, denuncia a hipocrisia e a incoerência dos fariseus, revolta-se contra a discriminação, o preconceito e as iniquidades da sociedade da época e não condena a transgressão da lei mosaica quando esta viola a dignidade da vida humana. “Se um homem tem fome é dado a ele o direito de violar a Torá, a lei, o sábado, a sacralidade do Templo e todos os vossos escrúpulos. Ofensa a Deus é alguém não ter alimento para assegurar a vida. (...) A lei não pode ser um fardo. Se não liberta não merece respeito.” “Sugiro o desprezo a toda lei que não serve à vida, diz Jesus.”

A obra surpreende pela interpretação que o autor faz sobre a conhecida narrativa bíblica, deixando transparecer sua visão de mundo e princípios teológicos. Na visão do autor, a essência dos ensinamentos de Jesus é o amor, o perdão, a partilha e a solidariedade entre as pessoas. Ele destaca através das palavras de Jesus a preferência e o cuidado de Deus com os pobres, os doentes e os oprimidos: “Bem-aventurados os pobres, condenados involuntariamente à privação do essencial ao dom da vida, e os que têm espírito de pobre, vazio de apegos e repleto de esperanças.”