O pastor protestante que se converteu ao Catolicismo

O PASTOR PROTESTANTE QUE SE CONVERTEU AO CATOLICISMO
Miguel Carqueija


Resenha do livro “O banquete do Cordeiro” (a missa segundo um convertido), por Scott Hahn. Edições Loyola, São Paulo-SP, 2002. Título original: “The lamb’s supper — The Mass as Heaven on Earth”. Doubleday, New York, EUA, 1999. Barbara Theoto Lambert. Capa sobre detalhe do painel central do Retábulo do Cordeiro Místico, de Hubert et Jan van Eyck. Prefácio: Padre Benedict J. Groeschel, C.F.R.

O mais extraordinário neste livro é ter sido escrito por um pastor protestante, um ministro calvinista, o norte-americano Scott Hahn, que se converteu ao Catolicismo nos idos de 1985. O que levou Hahn a esse gesto notável foi ter ido assistir a uma missa, incógnito, para conferir o que lá realmente acontecia. Por isso o seu testemunho de homem culto, inteligente e profundamente ligado ao Protestantismo reveste-se de extraordinária importância. De longa data eu sei que, nos meios protestantes, ensinam-se coisas absurdas contra a Igreja Católica (que nós adoramos imagens etc). E Scott Hahn declara:


“Durante anos, como calvinista evangélico, fui instruído para acreditar (sic) que a missa era o maior sacrilégio que alguém poderia cometer. Tinha aprendido que a missa era um ritual com o propósito de “sacrificar Jesus Cristo outra vez”.

Ao invés Scott Hahn descobriu que a Missa era a própria realização do Apocalipse, o chamado “Banquete do Cordeiro”, “o Céu na Terra”. E assim ele se tornou católico e mais, autor de livros que defendem a Fé Católica.
O Professor Felipe Aquino, que mais recentemente também publicou Hahn em sua Editora Cléofas, já esteve em sua casa e se admirou com a biblioteca de 40 mil livros!
“O Banquete do Cordeiro” é uma das obras mais sinceras e autênticas que já li, reveladora da alma de um homem que teve a humildade de reconhecer que a fé que praticava era imperfeita e que a verdadeira Igreja de Cristo é a Igreja Católica.
Ao ressaltar a importância espiritual da missa, Hahn faz questão de explicar que os defeitos aparentes não devem nos desanimar. Corremos de fato o risco de enxergar somente o homem falível e deixar de ver o divino infalível e inefável no ritual. Assim observa o autor na introdução:


“Ora, talvez você responda que sua experiência semanal da missa é qualquer coisa, menos celestial. De fato, é uma hora desconfortável interrompida por choros de bebês, cantos monótonos entoados de forma dissonante, divagações, homilias sem pé nem cabeça e vizinhos vestidos como se fossem a um jogo de futebol, à praia ou a um piquenique.
Mesmo assim insisto que vamos realmente ao céu quando vamos à missa, e isso é verdade a respeito de toda missa de que participamos, independente da qualidade da música ou do fervor da homilia. Não é questão de aprender a “ver o lado brilhante” de liturgias desleixadas. Não se trata de adotar uma atitude mais caridosa para com vocalistas desafinados. Trata-se de algo que é objetivamente verdade, algo tão real quanto o coração que bate dentro de você. A missa — e quero dizer toda missa — é o céu na terra.”


Estas palavras de Scott Hahn podem parecer excessivas mas, se lembrarmos que a missa é a liturgia eucarística, que nela o Cristo se faz presente, pelo milagre da transubstanciação, nas espécies do pão e do vinho, que são distribuídas aos fiéis — entenderemos o quanto é solene e terrível esta hora.
Ao longo do livro Hahn fala linguagem corajosa e verdadeiramente católica. “Culto é luta” é o título de um dos capítulos. Sabemos que o mundo — e por trás dele o poder das trevas — nos odeia. E Hahn não hesita em falar do mal. “O inferno, ao que parece, está em toda parte — em imitação barata da onipresença de Deus — ameaçando nos consumir, nos sufocar.”
“Lutar ou fugir?”, pergunta Hahn. Sobre a segunda hipótese ele observa: “fugimos do mal, mas não conseguimos nos esconder.” Mas o Apocalipse é um documento de esperança: “Todos os santos do céu clamam constantemente a Deus por nossa defesa”.
Hahn admite ter errado, enquanto ministro protestante, na interpretação do Apocalipse. Sua conversão foi tão perfeita que, hoje, ele é um dos mais valiosos propagadores e defensores do Catolicismo.
Rio de Janeiro, 24 e 25 de junho de 2017.