O primo Basílio - resenha

O PRIMO BASÍLIO, RESENHA
Miguel Carqueija


Resenha do romance de Eça de Queiroz: Ediouro, Biblioteca Folha 2, Rio de Janeiro-RJ, 1997. Introdução de Augusto Pissara. Capa de Lúcio Brandão.

Eu não gosto do jeito de narrar de Eça de Queiroz (um dos mais respeitados romancistas portugueses) e seu linguajar, seus diálogos, mas reconheço que ele tinha imaginação. Neste livro cuja primeira edição data de 1878 ele fala nas desventuras de uma mulher bonita e abastada, Luísa, casada com o engenheiro de minas Jorge, moradora em Lisboa, que se deixa seduzir por um primo que fôra seu amor de adolescente e se ausentara do país por longo tempo, tentando a sorte no Brasil.
O próprio Eça explicou em carta a Teófilo de Braga a psicologia de Luísa, “burguesinha de baixa” que já não tem religião, não sabe o que é a moral, “sobre-excitada no temperamento pela ociosidade e pelo mesmo fim do casamento peninsular, que é ordinariamente a luxúria (sic). Acostumada a não fazer nada por ter criadas, vivendo assim em diversões, é presa fácil do adultério quando o marido viaja e aparece o primo bem apessoado porém cafajeste e leviano, que só vê em Luísa uma oportunidade para diversões sexuais.
Luísa é muito pouco inteligente e chega a agir como uma imbecil, e ainda acha que o seu amor por Basílio nada tem de mais. Ela é uma das personagens, comuns em romances daquele século (é o caso por exemplo da Anna Karenina de Tolstoi e da Madame Bovary de Flaubert) que se colocam em processo de desconstrução, de auto-destruição. Fica claro desde cedo para os leitores que aquilo não poderia terminar bem. Afinal a situação se torna desastrosa: Basílio, como fazem os cafajestes machistas, vai embora e Luísa cai nas mãos da criada rancorosa que, tendo se apoderado das cartas comprometedoras, chantageia a patroa ameaçando contar tudo ao patrão.
Há diversos personagens curiosos na trama, como o Sebastião que é modelo de homem honrado e o hoje célebre Conselheiro Acácio, aquele que só fala coisas óbvias.
Rio de Janeiro, 17 de julho de 2017.