Os bastidores de uma história real

Os bastidores de uma história real

A hora da estrela foi o último livro da brilhante carreira de Clarice Lispector, esse foi escrito pouco antes da sua morte vindo a ser publicado posteriormente pela editora Rocco.

Essa obra trás intrínseca a realidade de algumas mulheres do Brasil e Clarice mostra essa realidade numa poética própria e distanciando a forma óbvia com a qual alguns autores exploraram a aridez e dor dessa região.

Considerado o melhor livro de sua carreira, tanto pela crítica quanto pelo público tendo sido publicado em vários idiomas por ter uma linguagem de fácil adaptação e compreensão em qualquer língua e cultura.

Esse romance mostra ao mundo a trajetória de agruras de uma moça que tendo ficado órfã muito cedo passa a ter como único elo com o mundo uma velha tia, essas tomam o mesmo caminho de tantos outros nordestinos que migram para o Sul do país , ela jamais questionou-se até porque as dificuldades e as dores eram freqüentes, entre elas a da morte da tia que mesmo maltratando-a, era seu único apoio no mundo. A partir daí passa a morar numa vila imunda e cheia de ratos, dividindo o quarto com outras moças. Macabéa não vive, apenas deixa que a vida a leve tendo como cotidiano o trabalho de datilógrafa, que fazia mal, por sinal, e ouvia a rádio relógio “que dava hora certa e cultura”, cultura essa que ela ouvia mais não assimilava.

Macabéa era um ser desprovido de beleza e inexpressiva por natureza. Em meio a um cenário de vida sem “vida” essa moça teve aos 19 anos o seu primeiro namorado que mesmo tendo migrado do nordeste como ela e conhecendo também muito pouco sobre cultura, educação e da felicidade ele era esperto e se fazia parecer muito superior à mesma que passou a admirá-lo como a um deus, mas ele se cansou dela e da sua desgraça pessoal até que terminou o namoro trocando-a por sua colega de trabalho, ela pôs-se a rir por não se lembrar de chorar e já que não era triste preferiu ficar assim, afinal, tristeza era coisa de rico, ela era pobre e tinha obrigação de ser feliz e seguiu sem se questionar sobre a vida, apenas deixava que as circunstâncias dessa se cumprissem numa rotina repleta de dores em todo o corpo causado pela carência de substâncias inclusive o cálcio devido à precária alimentação.

Macabéa via o mundo pelos olhos de Glória que era a “amiga” que estava agora namorando Olímpio, seu ex-namorado.

Glória disse à ingênua moça que conhecia uma cartomante que não errava em suas previsões, assim como acertou com relação a Olímpio ser o homem da sua vida, da mesma forma poderia dizer a ela qual seria o seu futuro.Maca, como era às vezes chamada pegou um empréstimo com o chefe e pela primeira vez na vida pensou em si e foi de táxi encontrando facilmente a casa da cartomante que a recebeu pessoalmente e tratou com tanto carinho que ela já começava a embriagar-se sem contar com o “luxo” da casa que a fez ficar deslumbrada. Primeiro a cartomante contou sua própria vida, depois falou das misérias do passado de Macabéa, coisa que ela jamais percebeu, e depois de todas as desgraças seu rosto iluminou-se e falou de um futuro tão brilhante que deixou a moça totalmente envolvida, disse que essa podia sair para encontrar rapidamente com o seu futuro.Todas essas revelações deixaram-na grávida, grávida de futuro e tinha medo até de atravessar a rua porque já era outra mulher, e quando o fez, foi atropelada por um Mercedes que a levou a achar que esse já era o início do seu estrelato na vida.Mas isso foi um acidente real que levou a estrela ao ápice da sua existência.

No único momento em que teve passado, presente e estava cheia de futuro.Nessa hora a estrela deixa os bastidores da vida e encontra a luz como estrela principal dessa obra fabulosa que mistura as dores reais, a inocência e a esperança numa dose tão perfeita nos levando a momentos de deleite e prazer.

Da leitura foi observado:

“... Com essa história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia vivido é um dia roubado da morte...” pág. 16.

“... Pois sempre e eternamente é o dia de hoje e o dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas nesse momento...” pág. 18.

A partir da leitura desses trechos do livro percebe-se que não foi o tombo que levou à morte e nem o parto que lhe trouxe à vida, mais que esta se concretizou no exato momento em que desse mundo foi arrebatada.

Por Sílvia Menezes

Sílvia Menezes
Enviado por Sílvia Menezes em 25/08/2007
Código do texto: T622601
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