Ética jornalística é escolha pessoal

Ricardo Kotscho, em ‘A Prática da Reportagem’, narra as muitas histórias que contou em sua vida jornalística. Como ele se define alguém que procura o lado imprevisto do roteiro, traz à tona o drama social de tantas pessoas à margem da oficialidade do Brasil. É esta sua característica de repórter que chama tanto a minha atenção. Para mim, ele é mais que um jornalista – é jornalista humano que busca transformação social.

A obra citada tem oito capítulos condensados de exemplos de suas matérias simples e reais que emocionaram os leitores. Muitas vezes, trouxeram benefícios aos protagonistas das mesmas. Clóvis Rossi faz a apresentação da obra e deixa aos leitores a sensação de que o trabalho é de fato, muito bom.

Para Ricardo Kotscho, jornalista precisa saber muito mais que escrever. Necessita aprender a ‘arte de informar para transformar’. Porém isto só será possível ao jornalista honesto que tenha princípios. O segundo capítulo fala do maçante ‘dia-a-dia’ dosado pela criatividade da ‘garimpagem’ de assuntos interessantes. Pois lugar de repórter é na rua, afirma. E por que não, “não narrar as histórias de alguém que não é político nem empresário? É preciso Ter coragem de tomar posição diante dos fatos sem medo das críticas.’

Quanto às coberturas, afirma que são difícies mas é preciso enfrentar todo tipo de dificuldade física, emocional, financeira e até de transmissão. Vai mais além quando diz que o jornal não precisa de heróis mas de reportagens – então, é bom discernir os riscos possíveis de acontecerem. Para ele, o bom repórter sabe passar informação e emoção ao leitor.

Diz que é mais difícil porém fascinante, fazer matérias investigativas. Por isso, é importante fazer um bom levantamento do que se noticioso para não contar a sempre a mesma coisa. Dar um perfil novo ao fato, é sinal de criatividade.

No sexto capítulo, apresenta o levantamento de dados a partir de uma pauta. Valoriza o repórter de ‘geral’ como um clínico geral capaz de escrever sobre tudo, contando histórias únicas de dramas sociais vividos pelo ‘mundo cão’ – o reverso da sociedade. Ao seu ver, essas são as matérias que exigem empenho e tiram o sono de qualquer cidadão, mesmo do repórter. Fala que muitas de suas notícias trouxeram ‘vida melhor’ para as pessoas de suas histórias. No entanto, foi cúmplice, pela denúncia em matéria, da perda de condições mínimas que as pessoas tinham adquirido.

Finaliza o compêndio com o tema “Grande reportagem” – escassa no jornalismo por seu alto custo. Aconselha que se anote tudo o que se colhe pelo caminho e se conte a história em ordem cronológica. Para ele, o mais importante ‘é continuar contando o que acontece por aí.’

Concordo com ele e o admiro muito por sua prática tão transformadora. Para mim, é alguém que nunca deixou de ser humano, que nunca se deixou invadir pela vaidade da profissão. Às vezes, me perguntou se todo o jornalismo buscasse esse lado, haveria necessidade de uma comunicação alternativa. Nessa, o que vale é a vida de cada ser e sua história social.

Penso também que se os repórteres valorizassem mais esse lado, havia muito mais significatividade social. De fato, a responsabilidade do repórter é enorme. Pode beneficiar ou desmerecer um cidadão pelo simples fato de uma denúncia. Daí, a importância de um agir ético e coerente.