Um cavalheiro em Moscou - Amor Towles

Amor Towles - Um cavalheiro em Moscou, RJ, editora Intrínseca, 2018

O livro é uma ficção histórica passada sobretudo no lendário Metropol Hotel, localizado em Moscou. Porém, alguns lances também ocorrem em Paris, cidade que sempre foi uma referência para os russos cultos, endinheirados e outros. O enredo se situa entre os anos de 1922, logo após a revolução de 1917, portanto, e 1954, ano em que Nikita Khrushchov, transferiu o controle da península da Crimeia para a Ucrânia, e traz como personagem central o cavalheiro do título, o conde Aleksandr Ilitch Rostov.

Membro da antiga nobreza czarista, coisa malvista pelos revolucionários de 1917, ele vivia em Paris e voltou a Moscou num momento bastante desfavorável para quem não fosse camponês ou operário. Já o autor do volume, Amor Towles, apesar de americano, parece escrever como um europeu, um inglês, mas é muito mais plausível associar muitas passagens dessa história, senão ela toda, à elegância dos escritos do russo Tchekhov, envolventes e sofisticados. O que faria Towles, digamos assim, sentir-se em casa, se não na Rússia, ao menos na Moscou do passado.

A trama é ainda recheada de citações a outros russos célebres, Tolstoi e Dostoievski, principalmente. O conde Rostov apreciava intensamente dois livros, Anna Kariênina e os Ensaios do francês Michel de Montaigne, também um filme, Casablanca, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Ele é um personagem fictício singular, consegue passar de uma condição privilegiada, de membro da nobreza, para outra, de garçom do restaurante do Metropol, sem perder seu cavalheirismo, suas maneiras cultas e civilizadas etc.

Como a narrativa se estende desde Lenin a Stalin e depois até o já citado Khrushchov, temos um bocado de história russa de verdade, de política, como pano de fundo. Rostov é assim uma espécie de prisioneiro desse Estado altamente repressor. Encontra-se em prisão domiciliar no Metropol, mas agora sem todos os confortos de uma suíte, vivendo então num pequeno aposento no sótão, acusado de ter escrito um poema que as autoridades entenderam como crítico ao novo governo, dito revolucionário.

Desenvolvendo-se por mais de trinta anos, a narrativa introduz inúmeros personagens a contracenar com o conde e inumeráveis coisas estão ocorrendo o tempo todo, reviravoltas, surpresas, descobertas etc. Conforme um conhecido leitor, ninguém menos que Bill Gates, escreveu depois de dizer que o livro de Towles era divertido, inteligente e sempre otimista: “Um Cavalheiro em Moscou é uma história incrível porque consegue ser um pouco de tudo. Há romance fantástico, política, espionagem, paternidade e poesia.” Verdade, tem tudo isso e mais ainda. Mas não foi apenas o bilionário americano que apreciou intensamente o livro de Towles, outros famosos das letras também, assim como críticos de literatura de conhecidos jornais e revistas internacionais.

Da mesma forma, leitores comuns se encantaram com sua leveza e humor contagiantes, além de sua erudição. Tanto que permaneceu por quase um ano na lista de best sellers do New York Times, com mais de um milhão de exemplares vendidos desde seu lançamento em 2016 nos EUA. Nesse caso, a quantidade de elogios que o livro recebeu corresponde ao que um leitor espera encontrar dentro de suas páginas depois de lê-los nas capas do próprio ou nas resenhas.