Os frutos da terra - Knut Hamsun

Knut Hamsun - Os frutos da terra, Belo Horizonte, editora Itatiaia, 2004

A Noruega, pequeno país em território e população é, no entanto, uma grande nação, reconhecida por seus invejáveis índices de desenvolvimento humano, além de ter dado ao mundo grandes artistas em vários setores da cultura. Caso do dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1906) e do escritor Knut Hamsun (1859-1952), dois dos mais prestigiados autores noruegueses de todos os tempos. Hamsun é mais conhecido entre nós por um livro de 1890, Fome, mas foi Os Frutos da Terra, de 1917, que o fez merecedor do prêmio Nobel de literatura em 1920, “uma obra monumental” segundo a Academia Sueca.

O que tornou a Noruega um rico país foi a força de sua gente, que se iguala à dos personagens do livro de Hamsun. Que usa como exemplo de luta pela existência a família de Isak: ele, sua companheira, depois sua esposa, Inger e seus quatro filhos. No início, sozinho, Isak, homem grande e forte, ao mesmo tempo inocente e ingênuo, toma para cultivo e moradia um pequeno pedaço de terra sem dono, próximo da fronteira com a Suécia. Aos poucos transforma o lugar: constrói uma cabana rústica, prepara o terreno para o plantio de víveres, adquire alguns animais e trabalha incansavelmente em meio a condições pouco favoráveis oferecidas pelo meio ambiente. Mesmo quando algumas coisas dão errado ele não amaldiçoa a natureza, ele a compreende e se conforma...

Um dia aparece por ali uma desconhecida, Inger, acolhida por ele, que o ajuda nos pesados trabalhos e que lhe dará filhos. A terra é boa para com Isak e sua família, recompensa por seus grandes esforços, e a vida progride, segue em frente, ele doma novos pedaços de terra, aumenta suas posses. Outras pessoas vão se estabelecendo ou adquirindo terras nas proximidades, outros negócios chegam à região (mineração de cobre) antes desabitada e com isso, novos personagens são incorporados à trama. A história de cada um deles vai sendo contada sem pressa por Hamsun, construindo uma teia de relações entre todos. Mas nem todos são como Isak, simples, honesto, trabalhador, nem mesmo Eleseus, seu filho mais velho, muito diferente do irmão Sivert, nem mesmo alguns conhecidos ou vizinhos.

Nesse caso, marcam presença especialmente Oline, uma velha senhora curiosa e fofoqueira, que consegue mandar Inger para a prisão durante oito anos, enquanto se aproveita de algumas coisas de Isak, ou Brede, um funcionário público preguiçoso e invejoso, pai de outra personagem importante, Barbro. Ela se envolve com seu patrão Aksel, outro trabalhador rural da região, e coloca a liberdade dele em perigo. Quer dizer, ao mesmo tempo em que vemos triunfar o trabalho árduo e a bela relação de Isak com a natureza, o amor pela família, a solidariedade entre vizinhos etc, diante dos nossos olhos desfilam outras facetas nada admiráveis dos seres humanos, como apontou um leitor que comentou o livro alhures: “mesquinharia, inveja, preguiça, infidelidade” etc. E mesmo alguns crimes são cometidos por duas personagens...

Bem, eu não conseguiria descrever aqui todas as qualidades de Os Frutos da Terra, e menos ainda resumir algumas das várias e interessantes histórias que Hamsun reuniu nessa obra envolvente do início ao fim. Então, o que eu posso fazer é recomendá-la com entusiasmo para aqueles leitores que apreciam literatura com muita qualidade, caso desta obra.