EQUADOR - Miguel Sousa Tavares

“Depois de as coisas acontecerem, é quase irresistível reflectir sobre o que teria sido a vida se se tem feito diferente. Se soubesse o que o destino lhe reservava nos próximos tempos, talvez Luiz Bernardo Valença nunca tivesse apanhado o comboio, naquela chuvosa manhã de 1905, na estação do Barreiro.”

Esse parágrafo dá início ao primeiro romance de Miguel Sousa Tavares, nascido no Porto, filho da poeta Sophia de Mello Breyner Andresen. Foi advogado, antes de se tornar um dos jornalistas mais conhecidos em Portugal.

Luiz Bernardo tinha 37 anos, era solteiro, amante da boa vida e belas mulheres, espírito sempre disposto a uma nova aventura, herdou do pai a posição de sócio principal da Companhia Insular de Navegação, proprietária de três grandes navios que transportavam carga e passageiros entre as Ilhas da Madeira e Canárias e o arquipélago dos Açores e as ilhas de Cabo Verde.

Morando e trabalhando em Lisboa, cidade onde funcionava o escritório de sua Companhia, foi chamado ao palácio de Vila Viçosa, por el-rei d.Carlos, onde lhe foi feito o convite para exercer uma missão patriótica: governar a distante e arriscada ilha de São Tomé.

Mal sabia ele que o cargo de governador impunha-lhe a obrigatoriedade de defender e dar dignidade aos trabalhadores das roças, cujos donos, em sua maioria, eram os grandes senhores da terra e moradores da capital portuguesa.

A intenção real, não explicitada, era desmentir perante os olhos do mundo a verdadeira condição desses trabalhadores: escravos que eram. A escravidão continuava existindo nas colônias e essa imagem precisava ser mudada antes que o embaixador inglês lá aportasse. Para essa empreitada Luiz Bernardo era competente o bastante.

A sutileza desse irrecusável convite levou-o para aquela ilha inóspita, distante e completamente diferente dos costumes e da vida cosmopolita e tranqüila que levava em Lisboa.

Em São Tomé, além das nuvens de mosquitos que o atacavam sem cerimônia alguma, o jovem Governador se viu lançado numa rede de intrigas e conflitos com a capital e o reino. Só não imaginava ele que a descoberta do amor fosse mudar para sempre o rumo do trem da sua vida.

EQUADOR é um romance comovente, admirável e perturbador que merece ser degustado com prazer e vagar.

Boa leitura.

Ana Benevides
Enviado por Ana Benevides em 20/12/2007
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