Um mês no campo – J.L.Carr

 

                                Comprei este livro, editado no Brasil em 2002, pela Globo, há algum tempo atrás.Não sei a razão. Tudo nele é despretensioso.  O bucolismo da capa, o tamanho (161 páginas), o título e o autor, para mim um completo desconhecido. Mas, ao lê-lo tive a certeza de que estava frente a uma obra-prima.

 

                                 Não sei o que faz um livro ser considerado uma obra-prima.Se soubesse, talvez pudesse ganhar a vida fazendo o que gosto:lendo para as editoras, selecionando obras-primas. Apesar de que, não estou bem certo de que as editoras gostem de publicar obras-primas. Gostam é de Best-sellers e geralmente best-sellers não são obras-primas. Mas este livro, sem dúvida nenhuma é precioso.

 

                                 Dei uma olhada em sites de pesquisa. Queria mais informações sobre ele. Tudo o que achei está contido no próprio livro. O autor, Joseph Lloyd Carr, inglês,  nasceu em 1912 e morreu em 1994. Foi diretor de escola, editor e romancista. Escreveu vários livros. Um mês no campo recebeu prêmios de prestígio.Foi adaptado para o cinema. A edição brasileira pode ser encontrada a venda em vários locais. O preço varia de R$22,00 a R$29,00. Só isso e nada mais.

 

                               Estou aqui, escrevendo esta resenha e não sei como desenvolvê-la. Porque estou falando de um livro que considero um achado e nem sei explicar a razão desta minha paixão pelo livro. O autor não fala de grandes dramas, ou melhor ele trata os grandes dramas com uma singeleza cotidiana. É isso: ele conta uma história comum, do ponto de vista de um homem comum, utilizando palavras comuns e sem fazer dramas.

 

                                A época é 1920. O local, um povoado inglês. Tom Birkin, o narrador e protagonista lutou na Primeira Grande Guerra. Está sem emprego.Está sem mulher.Foi abandonado, mais uma vez. Sem um tostão no bolso, aceita restaurar um afresco medieval recentemente descoberto em uma Igreja do remoto vilarejo de Oxgodby. Se hospeda no próprio local de trabalho.se alimenta frugalmente.Aos poucos vai se envolvendo com a comunidade e principalmente com a obra que restaura. E quando o trabalho termina ele se vai...com a alma alimentada pelo resto da vida.

 

                                   Eu nasci em uma pequena cidade de pouco mais de 3000habitantes. Quando nasci era um arraial.Não mudou muito desde então, a não ser pelas mudanças que globalizaram o mundo.Continua um vilarejo.O tempo que vivi lá é muitas vezes menor do que o tempo em que vivo fora de lá.No entanto toda a minha alma foi construída lá.Talvez seja por isso que eu compreenda o sentimento de Tom Birkin.

 

                                   Recentemente acompanhei, passo a passo, um trabalho de restauração de uma pintura no teto de uma de nossas Igrejas.Trabalho do Mestre Natividade, completamente destruído pelo tempo e suas intempéries.Aquilo que eu considerava impossível ganhou vida novamente pelas mãos de um brilhante restaurador. O que eu, uma simples observadora  senti ao ver a obra pronta é indescritível.Acho que senti o mesmo ao ler a história de Tom Birkin. Não dá para descrever. Só posso dizer que este pequeno volume que volta agora as minhas prateleiras, volta para um lugar especial. Vai ficar ao lado de uns muito poucos: aqueles que eu não dou, não empresto, não vendo.Mas indico. Mas não me peçam garantia de que vão sentir o mesmo que senti. Sentimento é intransferível.