O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO - SIGMUND FREUD

Escrito na década de 1930, até hoje livro de Sigmund Freud mantém vivas as idéias e fundamentos do pai da psicanálise

O Mal-Estar na Civilização, escrito por Sigmund Freud em 1929, apresenta como idéia principal a discussão da repressão que é imposta pela sociedade. Nesse meio social repressivo ao qual o autor se refere, cada indivíduo está exposto a uma espécie de policiamento, e essa alienação diante das regras inibe o desenvolvimento do ser humano. Como o instinto humano é, naturalmente, agressivo, ao se libertar desse sistema repressivo, a tendência é a destruição do meio em que vive. O desenvolvimento do indivíduo, bem como da civilização da qual faz parte, somente são possíveis a partir do controle das pressões impostas ao homem.

A vida de cada um é regida por dois princípios que se conflitam, o princípio do prazer e o princípio da realidade, que também podem ser chamados de instinto de vida e instinto de morte. Enquanto que o instinto de vida tem como fundamento interagir na civilização de forma a aproximar os indivíduos, trabalhando em favor da vida comunitária, o instinto de morte age de forma oposta, ou seja, contra a civilização. Por encontrar-se alienado ao meio em que pertence, diante das imposições de uma sociedade repressiva, e sem a possibilidade de um ambiente que permita a total liberdade, o ser humano não encontra possibilidades de concretização da felicidade, entendida como a liberação das energias instintivas. Nada supera a felicidade em seu âmago, contudo a plenitude não existe, somente alguns momentos de satisfação temporária, conseqüência dos impulsos, sobretudo sexuais. Embora seja um animal racional, essa característica instintiva aproxima o homem de qualquer outra espécie, independente da escala a que pertença.

Diante do conflito que se estabelece entre o princípio do prazer e o princípio da realidade, várias análises podem ser consideradas, e a principal é a relação existente entre o amor, cujo poder induz ao indivíduo a necessidade de não querer privar-se do objeto de desejo, e a dor, ou seja, sensação desagradável causada principalmente em virtude da não concretização de uma relação interpessoal. Enquanto que o amor é visto como instinto de vida e se manifesta, sobretudo pelo desejo e pela afloração da sexualidade, a dor enquadra-se no que Freud chama de princípio de morte, ou pelas manifestações da agressividade decorrentes da insatisfação e da incapacidade de concretização do amor.

O amor é uma das formas mais eficientes para a realização dos desejos, e a ausência de uma relação ou a insatisfação do desejo conduz à dor. Freud refere-se à dor basicamente como sentimento moral em vez de físico, a qual origina-se no próprio corpo e pode ser combatida pela química. Analisada como uma sensação ligada à moralidade e à busca da felicidade, Freud explica a proveniência da dor como reflexo das relações entre os indivíduos, sejam de caráter apenas afetivo ou tomadas por impulsos sexuais, e é justamente esse tipo de dor que tem a maior capacidade de ferir e atingir o ego do indivíduo. Como “remédio”, ou melhor, saída para a dor, aponta algumas alternativas: a desistência do desejo, a procura de algum prazer alternativo que possa saciar essa ausência, e ainda a fuga da realidade por meio da loucura, a criação de um universo íntimo, que pode também acarretar no uso de drogas como meio de evasão desse sofrimento.

Herbert Marcuse, um dos mais importantes estudiosos da obra de Freud, herdeiro das idéias marxistas e integrante da Escola de Frankfurt, escreveu trinta anos depois Eros e Civilização, no qual aprofunda os conceitos freudianos, principalmente em relação às repressões impostas pela sociedade e pelas diferenças entre princípio de prazer e princípio de realidade. Marcuse pensava na possibilidade de liberdade, contudo defendia um sistema com um mínimo de controle para manter uma harmonia social. O homem tende a se tornar mais agressivo à medida que seus impulsos são controlados. Para se chegar a essa conclusão, Freud e Marcuse utilizaram-se de caminhos diferenciados, porém ambos defendiam a idéia de contenção da agressividade por meio da diminuição da repressão e fortalecimento dos impulsos sexuais do ser humano.

Marcuse encontra ainda na obra de Freud uma hipótese de se criar por meio da psicanálise uma nova utopia, analisando conceitos históricos e sociais, e tentando aproximá-los às heranças marxistas, que embora colocadas em segundo plano em virtude da ascensão capitalista, ainda fazia parte de seus ideais.

Agradeço se puder deixar um comentário.

JDM

José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 16/12/2005
Reeditado em 04/10/2022
Código do texto: T86603
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.