Sobre  Antonio Torres e Pessoas 


(Dedicado aos meus amigos Ronaldo Torres e Edna Lopes) 


     Eu tenho que confessar: nunca tinha lido Antônio Torres até bem pouco tempo. Dele sabia apenas que era um escritor baiano que escrevia livros com títulos muito interessantes: O homem dos pés redondos, Um cão uivando para lua, Um táxi para Viena d’Áustria.E outros, que é um autor de muitos livros.Estes são só  amostras de minhas lembranças.

     Eu teria que ter o tempo infinito para ler tudo o que gostaria de ler, então deixo ao acaso. Não me desespero por não conseguir ler tudo. Espero que alguma coisa aconteça. E sempre acontece: descobri que Antônio Torres é irmão do Tom. Não o Jobim. O Tom simplesmente, melhor que o Jobim, porque este do qual falo é meu amigo. Virtual, mas isto não faz a menor diferença. E o Tom escreve bem, muito bem.Conclui que se o Tom escreve bem, o irmão que é famoso deveria escrever melhor. Decidi que iria forçar a barra do acaso e comprar um livro do Antônio Torres só para conferir. Mas não foi preciso forçar. Um dia o Tom disse: Meu irmão publicou um livro por uma editora mineira, a Leitura. Chama-se Sobre Pessoas. Uns dois ou três dias depois, eu vi o livro nas vitrines das livrarias de minha cidade. (Temos quatro). Era o destino. Comprei o livro. Além disso, para aumentar meu interesse, o  Caderno Pensar, do Estado de Minas, publicou uma reportagem de Carlos Herculano Lopes, De volta ao Junco, sobre o livro Essa Terra, que considera um clássico. Tudo conspirando para que eu lesse com interesse redobrado o livro que estava em minhas mãos. E li. De pulinho. Isso significa que não li corridinho. Um texto aqui, outro ali, entremeado com outros livros. Até que acabei.
 
     Sobre Pessoas. Editora Leitura. Esqueci o preço, mas é baratinho. Vale mais do que pesa. Comecei a ler de trás para frente. Quando o Natal não tinha Papai Noel conta uma história do Junco.Um lugar onde ninguém sabia da existência de Papai Noel. Tom também fala do Junco e quando ele conta histórias de lá eu me lembro de Arantina. Depois fui lendo salteado:em Um modo de ser campeão do mundo, a saudade de duas pessoas muito importantes: Garrincha e meu irmão Tarcísio. Meu irmão era apaixonado por futebol. E por Garrincha. São lembranças que emocionam.Talvez por isso eu tenha lido de pulinho.Porque cada leitura me levava a fechar o livro e a pensar na minha própria vida. Em Foi um prazer te ouvir, João, Antônio Torres escreve sobre João Saldanha e eu penso em meu pai e em sua paixão pelo Botafogo. Ele ainda diz adeus a outras pessoas: o fantástico Murilo Rubião, escritor aqui das Gerais, autor de O Pirotécnico Zacarias, que pedi emprestado a minha amiga Nelma e nunca devolvi. Miles Davis e Tom Jobim. Encontrou-se com outros que andavam por aí.Uma leitura leve de exercícios leves sobre pesos-pesados: Cortazar, o meu ídolo.O poetinha Vinicius. A bela atriz e o rei de todos os cronistas. Graciliano Ramos,Lígia Fagundes Teles, Juan Rulfo,Borges, o abominável homem e fantástico escritor, e outros, conhecidos ou não entraram  em minha casa interior trazidos pelas mãos mágicas de um escritor nascido lá nos cafundós e que ganhou o mundo sem perder os laços com suas origens.Fiquei conhecendo o português O’Neill, li histórias de nossa história, histórias de gente comum e agora vou deixar o livro na minha cabeceira para mais tarde ler uma ou outra história. Porque inclusive,me inspiraram a escrever também. Sobre pessoas. As minhas.E porque é um livro gostoso de ler. Uma literatura simples, coloquial.Fácil, mas rica.  Que aconselho porque vale a pena. 


                                                          Lavras, 19 de fevereiro de 2008