Hedonismo

Potoc, potoc, potoc. O salto 15, está brigando com o asfalto em passos vazios. Caminhando em direção ao nada. Amanheceu mais um dia nesta Paris, Chanel, Dior, Douce e Gabana eram as palavras que faziam parte de seu vocabulário, avistou uma vitrine e como se quisesse escapar desse mundo, comprou tudo e um pouco mais do que nem existia ali. Confundiu o bar com um hospital, mas lá só corroía seu fígado e a ressaca, as dores, não foi o álcool que lhe causara, eram sintomas da tristeza de viver em mais um dia vestida de futilidades. Chamavam-na de Hell. Despia-se, entregava-se, eram somente corpos em um vazio permanente, nada mais. Pediu atenção, seus pais estavam em uma reunião. Não havia Significado!Batom vermelho e lápis no olho.

À noite pensou ter encontrado uma nobre amiga, mas esta lhe ofereceu um cigarro e um copo, se não estava pior, era igual a ela. Na calçada, cabelos ao vento, olhava mais uma vez aquelas pequenas roupas que a insultavam chamando-a de gorda. Naquele momento uma voz, em um Porche preto, de óculos escuros e jaqueta de couro, abaixou o vidro, ofereceu-lhe uma carona. Parecia mais louco e fútil que ela. Hell mandou que suas palavras recusassem, mas involuntariamente saíram de sua boca em um sim sorridente. Ele incomodava-lhe de tão lindo. Era intrigante, pois quando estava com ele parecia ser autêntica e isso nunca havia acontecido.

O decorrer dos dias só a fez querer mais Andrea. Viajaram em um jatinho, curtiram as mais caras regalias, nem um beijo sequer Hell havia cedido, logo ela...Ele estava enfeitiçado em seu jogo, desde a primeira vez que a viu, em frente a uma vitrine (ousou nada dizer), esperou três meses pra oferecer-lhe aquela carona. Eram duas almas em um só corpo. Ele a visitou novamente em seu luxuoso apartamento localizado em um nobre bairro de Paris, disse que havia se apaixonado por uma boa moça, casaria e teria filhos com ela. Hell não gritou, mas era o que ele queria que fizesse. Hell, só disse o quanto isso seria bom pra ele, qualificou essa mulher, como se nada sentisse, mas as palavras os apunhalaram, eram facadas nos dois corações que sangravam ininterruptamente. Foi embora, terminaram. Sofriam a distância, não admitiam...não admitiam a dor do amor.

Lá naquela boate de todas as noites estranhas, drogas faziam parte de seu sangue e corriam em sua veia, o viu com outra, que talvez fosse uma prostituta, como era de costume. Como se não estivesse nem aí, fumou um cigarro atrás do outro, era somente nicotina. Dois loucos, anestesiados, rasgando notas de euros. Somente se olharam, Hell queria correr em direção aos passos de Andrea e a recíproca era profundamente verdadeira. Andrea em seu Porche, como se quisesse correr de si mesmo, e fazer desaparecer o que sentia, correu à 200 km por hora, esse foi seu fim. Hell não suportou, contava os dias sem o homem que amava, se drogava como nunca. O triste fim...a tragédia das palavras não ditas. Que acabaram com dois jovens amantes.

Inspirado na peça Hell em cartaz no Sesi-SP , uma adaptação do livro Hell de Lolita Pille.

"Acendo um cigarro.Que não fumo, observo-o.Trago.Coloco o salto.O batom.O brilhante.Me olho no espelho.E a vejo.Ela.Coberta de rubis.Sorrio.E começo a andar.Sou um animal inventado.O teatro é só uma passo de dança como a vida." (Fala da personagem Hell interpretada por Bárbara Paz)

"São tantas as formas que a gente tem de fazer as mesmas coisas, tentar, testar, refazer, abandonar o conforto, até achar graça em tudo isso...e as vezes simplesmente observar a força impressionante das coisas quanto tem que acontecer. A gente está sempre aprendendo"(Fala do personagem Andrea, interpretado por Ricardo Tozzi)

Tatiana Espíndola
Enviado por Tatiana Espíndola em 07/11/2010
Reeditado em 05/12/2015
Código do texto: T2602062
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