Soneto da solidão

Ele traz o sorriso merencório

De que os poetas esquecidos se arrogam,

E no velho e hospitaleiro escritório

Os espíritos de ontem o interrogam.

Farto de estudo, cansado da vida,

O copo entorna enquanto vai fumando;

E nessa cena vê-se consumida

A promissora chama, agonizando.

Baldadamente clama a eruditalha,

Da estante, pela habitual atenção -

E vê o moço, num desalento louco,

Num ritual que coisa alguma atrapalha,

Beber e sonhar, até a solidão

Diminuir e o deixar dormir um pouco.