As cinzas e o nada.

Penso em escrever, mas a brancura incandescente do papel

ofusca as retinas que se perdem na imensidão do meu olhar

e antes que a tinta escura manche a superfície meio a revel

me perco na viagem que a alva textura me inspira rebuscar.

Aos poucos o dedilhar suave nas notas do teclado faz surgir

pontinhos pretos que ensaiam um balé entre os sentimentos

voejando pelos extremos da alegria e da dor sem me permitir

deter-me em gemidos, não quero expressar meus lamentos...

E, na tessitura deste afã intempestivo que da solidão aflora,

um mar salgado de lágrimas contracena com a tinta escura

e se espalha pela página antes alva, no lento passar da hora.

O papel se transforma em cinza que fertiliza a estéril poesia

ao sabor do vento escreve os contornos de estranha figura

à espera do nada que nasce de sua ilusão, de sua fantasia.

Nísia Maria de Souza
Enviado por Nísia Maria de Souza em 03/07/2008
Código do texto: T1063078