As cinzas e o nada.
Penso em escrever, mas a brancura incandescente do papel
ofusca as retinas que se perdem na imensidão do meu olhar
e antes que a tinta escura manche a superfície meio a revel
me perco na viagem que a alva textura me inspira rebuscar.
Aos poucos o dedilhar suave nas notas do teclado faz surgir
pontinhos pretos que ensaiam um balé entre os sentimentos
voejando pelos extremos da alegria e da dor sem me permitir
deter-me em gemidos, não quero expressar meus lamentos...
E, na tessitura deste afã intempestivo que da solidão aflora,
um mar salgado de lágrimas contracena com a tinta escura
e se espalha pela página antes alva, no lento passar da hora.
O papel se transforma em cinza que fertiliza a estéril poesia
ao sabor do vento escreve os contornos de estranha figura
à espera do nada que nasce de sua ilusão, de sua fantasia.